Capítulo 2. Acontecimentos estranhos

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6:30 da manhã – o despertador tocou. Não estava com ânimos de levantar, queria sumir do mundo. Minha vida parecia uma teia cheia de mentiras e mistérios.

Era quinta-feira o dia da semana em que escolhi ser útil para sociedade e isso começaria pela cozinha, tirando o lixo e levá-lo até ao depósito mais próximo de casa. Lembrei que minha bicicleta acabou de ficar sem ar nos pneus quando tentei sair de casa até ao lago, aquele pensamento criou-me uma certa revolta, tudo na minha vida parecia errado, já não bastava ser pobre tinha que suportar mentiras e mistérios.

Preciso de um emprego! Já que não tenho o privilégio de saber a verdade sobre a minha vida, pelo menos teria algum dinheiro e, quem sabe, contrataria um dectetive. Depois de arranjar a bicicleta, é claro falei baixinho enquanto passava as mãos pelo cabelo, suspirando resignada.

Fiz um grande esforço e levantei da cama, escovei os dentes, tomei um bom duche, abri o meu armário e vi uma quantidade de blusas pretas, lembrei que fui acumulando durante anos. Como nunca engordei, não havia tanta necessidade de comprar roupas. Pensei o quanto seria deprimente aparecer no centro vestida de preto, assustaria as crianças. "Logo hoje! Ainda bem que será depois das aulas." Pensei.

Peguei minha única blusa alegre, que tinha o rosto do meu anime favorito, pelo menos não usaria meu suéter preto. Abri o guarda-roupas e tirei meu macacão estilo mecânico mesmo e vesti. De seguida, abri a gaveta para pegar um par de meias, notei que todas estavam sujas, então, peguei a menos fedorenta, calcei os converse preto e estava pronta para mais uma batalha.

Fui até à sala de estar, não havia ninguém. Pensei que todos estariam na cozinha, então dirigir-me até lá e, para minha surpresa, encontrei apenas Lisa tomando seu pequeno-almoço, o que era incomum ela estar sozinha. Olhei para ela por alguns minutos contemplando sua beleza; seus lindos olhos azuis, bochechas gordinhas, cabelo loiro preso no seu punho de morango favorito. Ela tinha apenas 5 anos.

Assim que me viu, não se conteve e foi logo dizendo:

— Siri, tive um lindo sonho.

— Sério!? Deixa adivinhar... sonhou com a fada madrinha, não é?

Não, sua boba, este sonho foi da semana passada. Desta vez, sonhei com o homem azul cabeçudo. Ele disse que veio de muito longe e que, em breve, gostaria de falar contigo. Fomos a um lindo lugar cheio de flores, provei tantas frutas deliciosas, havia homens grandes com rostos de felinos e gafanhotos gigantes! Rematou Lisa segurando sua boneca, enquanto tentava se equilibrar na cadeira emocionada.

— Nossa, Lisa, tua imaginação é tão fértil! Agora entendo porque vives a sonhar com estes seres. Onde está a mãe e o pai?

— Não é imaginação, Siri! São sonhos, sei que eles existem sim. A mamãe está no jardim, o papa saiu cedo, disse que estava preparando uma surpresa. Pedi a ele que trouxesse nossa bolacha favorita, ele disse que não se esqueceria.

— Tudo bem então, rainha dos sonhos e dos seres imaginários.

Sempre achei Lisa uma criança muito estranha, havia encanto nela, todos a adoravam. O mais esquisito é que ela sempre teve hábitos bizarros. Convenceu a família toda a parar de comer carne, ela fazia um enorme drama assim que via carne por cima da mesa. De tanta birra, decidimos parar de comer carne, então passamos de carnistas para vegans. O que, na verdade, foi muito bom para nós, uma vez que, na nossa zona, a carne era bem mais cara do que os vegetais.

Sem mencionar que ela também tinha o hábito de ficar no meio do mato e falar sozinha. Quando terminava, dizia que estava encantada por ter conversado com seu amigo Harideva, porque ele fazia uma longa viagem para estar com ela. Deixava frutas nas janelas de casa, dizia que eram para as suas amigas fadas. Acreditem ou não, a lista é longa.

Sirene Entre As DimensõesOnde histórias criam vida. Descubra agora