Diário de uma virgem

Capítulo 16

Assim, desde os 14 anos que Anastácia não hesitava em chegar a casa tarde, vinda da escola, porque tinha se cruzado com um homem de trinta anos que metera conversa com ela e lhe começara a contar a sua vida. Viagens, triunfos, derrotas, amores, medos, enfim, tudo o que uma biografia tem para oferecer. E Anastácia bebia- lhe as palavras e sentia que se tinha cruzado com a personagem de algum romance que, pelo seu caráter rebelde e aventureiro, se atrevera a saltar as páginas para a realidade.
E ali estava Anastácia, tão de carne e osso, tão segura de si, a desejar tanto ter uma vida emocionante, de filme...
E sentia que aquele homem a podia ajudar a escrever um capítulo apaixonante que naquela noite pudesse narrar no seu diário. Escusado será dizer que aquele homem ficava surpreendido, quase assustado, quando Anastácia lhe agarrava na mão e o levava, quase á presa, em silêncio, para um dos muitos recônditos hotéis do famoso bairro Pigalle. Zona obscura que parece começar a viver unicamente a partir do crepúsculo, em que os amantes clandestinos usufruem do prazer, defendidos pela bruma do anonimato e do veludo encarnado. No quarto daquele hotel, Anastácia entregara-se aos milhares de jogos que já gozara anteriormente com colegas da escola. Mas aquele era diferente, aquele homem maduro e experiente sabia tratá-la com uma delicadeza violenta, com uma doçura áspera que a excitava cada vez mais. Não tinham trocado sequer os nomes e isso agradava a Anastácia, que o chamava " querido desconhecido" e se entregava a todas as suas fantasias com um olhar entre o submisso e o provocador.
Foram mais de 5 horas que se passou ali fechada naquele quarto. Não se deram tréguas nem um único segundo. Aquele homem sabia que não voltaria a ter nos seus braços aquela adolescente de língua ávida. Sentia que fora o romantismo da situação, o misterioso da sua história que lhe tinha aberto as portas daquele paraíso de entregas selvagens.