Capítulo 18

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A casa era fresca e Anastácia lá foi, escadas acima, até ao primeiro andar onde uma porta se abriu e uma voz doce disse:
- por aqui.
Que maravilhoso era tudo aquilo! Parecia um conto das mil e uma noites! Ela era a princesa. Ele era um homem selvagem e solitário que a seduzia, arrancando-a dos prazeres superficiais para a arrastar até um paraíso onde vivem os fora-da-lei.
- por aqui, sobe as escadas.
Voltou a dizer a voz misteriosa com sotaque estrangeiro. Até que Anastácia deparou cara a cara com o homem que desenhava. Ainda tinha o caderno numa mão e um lápis na outra. Perguntou-lhe se queria que a desenha-se ao que Anastácia respondeu encantada que sim.
Entrou na casa que era pequena mas muito acolhedora. Parecia o interior de uma tenda berbere. O chão estava coberto de tapetes e nas paredes havia vários panos africanos que, com os seus estampados coloridos, davam ao quarto a tonalidade de um crepúsculo no deserto. Na verdade o homem era muito muito moreno, com traços exóticos e mãos enormes. Estava descalço e movia-se silenciosamente.
- senta-te aqui.
Disse ele, apontando um sofá coberto de grandes almofadas. Anastácia obedeceu. Mas o sofá era muito baixo e ela não sabia como sentar-se, de modo que acabou por se esticar ao comprido, apoiando a cabeça numa mão, como uma Vénus, olhando de frente para aquele homem, que , sentado no chão, tinha começado a desenhá-la. Anastácia sentia-se bem, gostava de olhar para aquele homem. O tecido fino da roupa branca colava-se-lhe ao corpo e deixava adivinhar braços musculosos, mas irritava-a o facto de ele não a olhar como mulher mas como um objeto.
Os seus olhos atravessavam-na mas só pareciam deter-se nos perfis, nas sombras, nas cores, e não naquele corpo que prometia prazeres imensos.

Diário de uma virgemOnde histórias criam vida. Descubra agora