Cap. 5

8 0 0
                                    

Por costume, acordei cedo e fui para o banho, me encarei no espelho ao mesmo tempo em que a água do cabelo escorria pelo rosto, esfreguei a toalha nele, vesti meu shorts, a regata preta cavada e preparei o café.
Descalça caminhei até o outro cômodo e encostei a porta, saquei o violino e arrisquei uma nota para me certificar de que não acordaria a Ella, quando o apartamento se manteve em silêncio, comecei a tocar "Naked" do James Arthur e parei assim que ouvi barulho na cozinha.
- Que música apropriada. - Ela estava vestida só com minha xadrez - que me permitia olhar seu corpo todo - segurando uma xícara apoiando no batente.
- Desculpa se te acordei.
- A casa é sua... - Deu meia volta e encostou a porta. Olhei para a janela, vi o tempo nublado e dei uma desanimada, mas caminhei até a sala.
- Quer ver algo? O dia está bem propício...
- Por favor... Quero aproveitar meu final de semana o máximo que der.
- Que bom saber disso... - Puxei as cortinas, busquei o edredom e deitei no sofá pegando o controle. - Você vem? - Ergui parte do cobertor oferecendo lugar ao meu lado e ela veio.
A princípio me abraçou, afundou o rosto no meu pescoço e protestou o cabelo molhado.
- Deixa eu arrumar esse cabelo? Onde fica o pente? - Seu corpo me abandonou e caminhou para o banheiro.
- Segunda gaveta de cima para baixo. É sério? Desculpa, eu realmente não vejo tanto motivo assim para penteá-lo.
- Não é porque seu cabelo é curto e liso que não precisa pentear. - Me empurrou com a bunda me fazendo sentar de frente para ela. - Aliás, é bem bonito, deveria cuidar mais dele.
- Eu deveria mesmo... - Os fios platinados cobriram meus olhos. - E deveria cortar as pontas também. - Assoprei para ver se empurrava alguns para a lateral do rosto, ela abaixou as mãos e me encarou. Passou a mão no meu cabelo fazendo ele ir para o lado e livrar meu rosto de sua umidade, empurrou meu peito e caiu sob mim.
- Eu defitivamente não resisti, me desculpa.
- Tem coisas que não precisa se desculpar, de verd... - E me roubou um beijo. Quando paramos, esticamos o sofá e ela se acomodou em meu peito mais uma vez. Vimos dois... três filmes e a tarde voou, a lua estacionou no céu e só notei porque sua luz entrou pela janela pequena que a cortina não alcançava. Ella me encarou e soltou um suspiro.
- Preciso ir... - Fiz uma cara azeda em retorno.
- Pode escolher alguma coisa no guarda roupa, se precisar.
- Vou roubar só a xadrez mesmo.
- Eu te levo...
- Isso eu vou aceitar, não faço ideia da onde eu estou.
- Certeza que vai agora?
- Preciso, não tranquei o apartamento.
- OI?! Como você sai e não fecha seu apê?
- Estava literalmente do lado dele, e deixei para não perdermos tempo destrancando caso fôssemos.
- Ok, foi um bom argumento.
- Mas agora preciso mesmo ir.
Levantei, troquei de roupa e peguei as chaves do carro.
Fomos conversando o caminho todo e a chuva começou quando chegamos na portaria.
- Sobe comigo, depois você vai... - Eu não ia protestar, então subi. O apartamento era menor que o meu, os móveis eram coloridos e ela realmente havia deixado a porta aberta. Sentei na cadeira giratória da cozinha e dei impulso para o lado.
- O que você faz nas horas vagas?
- Desenho.
- Sério? Queria ser criativa para isso... - Ela deu um sorriso na mesma hora em que um trovão ecoou do lado de fora e a luz piscou. - Da onde surgiu essa chuva?
- Eu não faço ideia, mas eu odeio escuro, então seria bacana não acontecer de novo. - E realmente, pois percebi várias luzes camufladas na decoração.
- Fica perto então, pelo menos se apagar, sabemos que estaremos juntas. - E ela encostou em mim.
- Vamos ficar no sofá, assim não precisamos ficar com o pé no chão. - Eu dei uma risadinha.
- Você tem tanto medo assim?
- Sim, de verdade. - Então fomos de mãos dadas até lá, apoiei no braço do sofá e puxei ela para perto, que deitou de lado apoiando no meu peito.
- O que você gosta de desenhar?
- Plantas...
- Plantas?
- De casas... Olha... - Ela se dirigiu ao quarto, mas dessa vez São Pedro não poupou e a luz apagou de vez. - Ah não.
- Calma, vou chegar até você, se apoia na parede mais próxima.
- Eu tô com medo.
Andei com as mãos para frente na tentativa de alcançá-la mais rápido, que no fim deu certo.
- Cheguei. - E ela me envolveu em seus braços. Eu poderia ter usado a lanterna do celular, mas realmente não queria estragar o momento. Dei um beijo em sua testa segurando em seu queixo.
No fim da noite voltei para casa de coração apertado, mas imaginei que as coisas seguiriam, afinal, tivemos esses dias bons... Mas não foi bem assim.
Ela ser uma boa profissional acabou sendo uma merda. Logicamente entramos em consenso de contratá-la e fiquei responsável por dar a notícia.
"Posso te roubar da sua rotina hoje?"
"Depende..."
"De...?!"
"Só se for para me levar para um lugar novo."
"Te busco quando sair daqui. Só me mandar o endereço de onde vai estar"
"Já te mando"


Uma Página PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora