Cap. 9

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Não sabia se ela conseguia me ouvir, então fui em silêncio o caminho todo, mas evitei fechar os olhos e quando fui perdendo o medo, fui cada vez mais apreciando aquele céu incrível. Assim que ela parou eu me assustei.
- Preciso que você desça.
- Desculpa haha. - Desci e as pernas bambearam.
- Vou estacionar, me dá um minuto. - Fiquei olhando ela se afastar e depois voltar a pé. - Agora sim!
Ela me abraçou e distribuiu beijos pelo meu pescoço, me encarou e me roubou outro selinho.
- Deu muito medo? Você não falou nada...
- Não sabia se você me ouvia, deu medo, mas foi bem bom haha.
- Eu te ouço sim. Amei a camiseta em você. - Ela pegou o celular e atendeu. - Oi, meu amor, já chegamos já, você reservou? Beleza, vou entrar então.
- Lua, te chamei hoje para você conhecer uma pessoa importante para mim. - Minha cabeça deu um click e lembrei da mensagem de manhã e soltei sem querer um "era isso!" Em voz alta.
- Isso o quê? - Ela riu e puxou minha mão para a entrada do restaurante, que era preto por fora e só a fachada iluminada com luz branca, a iluminação de dentro era amarelada, daquelas que te deixa bem aconchegante. - Mesa da Manuela.
- Me acompanhem, por favor. - O garçom nos chamou enquanto caminhava para uma mesa perto da parede. Ele apontou com a mão para uma menina sentada e se retirou.
- OI, MEU AMOR! - As duas se abraçaram enquanto eu olhava a cena com um  sorriso, a menina era ruiva natural, os olhos bem claros.

- Lua, essa é a Manuela, minha melhor amiga.
- Oi, tudo bem? - A cumprimentei com um abraço.
- Guria, tu é muito linda! - Fiquei sem graça, mas agradeci. Nos sentamos e pouco depois a barca de comida japonesa foi deixada na mesa.
- Agora matem minha curiosidade de como se conheceram. - Manuela nos encarou com um sorrisão.
- Então... - Ella riu e me encarou.
- Eu conto?
- Vou ouvir enquanto como meu sushi. - Ela mergulhou o sushi no shoyu.
- Bom, eu tinha tretado com minha mãe por avisar que estava indo morar sozinha, fui para o parque e daí ouvi alguém chorando...
- Pô, Ella, não me envergonha assim não, menina! - Manu cobriu o rosto, eu ri e continuei.
- Fui lá perguntar se ela queria conversar e esse tipo de coisa, conversamos sobre nada específico e depois ela foi embora e foi isso.
- É sério isso? - Manuela me encarou com uma cara de "só?"
- Sim. - Eu ri e dei de ombros.
- E aí depois disso...
- Você foi comigo na entrevista, sabe o que deu. - Ella a encarou e piscou.
- Gente, mas que loucura, né. Como é a vida...
A noite correu tranquila, o assunto se estendeu bem, mas estava cansada e precisava ir, resolvi ir ao banheiro para dar uma acordada.
- Já volto. - Levantei da mesa e fui em direção ao corredor.
- Tá tudo bem? - Senti sua mão em meu ombro e levei um susto.
- Oi oi, que susto. - Dei risada. - Tá sim, só estou um pouco cansada.
- Quer que eu te leve? - Nos encaramos.
- Não quero atrapalhar, quando der a gente vai, sem problema.
- Eu te levo. - Ela segurou minhas mãos, dei um sorriso e fui para o banheiro.
No fim me rendi ao cansaço e a Ella me levou para casa.
- Vai querer ficar? - Nos encaramos antes do beijo de boa noite.
- Preciso ir para casa, tenho algumas coisas para organizar ainda. - Ela desviou o olhar.
- Tudo bem então...
- Tudo bem então?! - Ela me olhou rindo.
- É, tudo bem. - Eu a encarei com cara de interrogação.
- Então tudo bem. - Senti sua mão em minha cintura, nossas testas se encontraram e espiei seu sorriso enquanto seus olhos fechavam. - Ai, cara, você faz isso tão fácil...
- Isso? - Beijei sua testa e a puxei para perto.
- Minha imaginação viajar... - Ela falou baixo no meu ouvido e o arrepio percorreu meu corpo me fazendo apertá-la.
- Só lembra que eu sou pequenininha e você luta...
- Desculpa, certos momentos não consigo medir a força.
- Tudo bem então... - Ela tentou me imitar.
- Aaah, como você é sem graça... - Eu ri e a beijei. - E não vai subir?! - Falei entre um selinho e outro.
- Hoje eu real não posso. Sexta, que tal?
- Sexta então. - Concordei com a cabeça e vi ela se afastar até a moto, subi para o apartamento sentindo seu perfume em mim. - Ai que droga... - passei a mão para tirar o cabelo do rosto, eu estava ferrada com essa menina... Menina... Mulher, na verdade!
Olhei para os números na minha porta. 42. A visão periférica denunciou algo na caixa do correio, uma rosa... Filha da mãe!


Uma Página PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora