Para um morador nativo da Folha, a vila pós-guerra era uma mistura de nostalgia e inovação, já para Deidara, era um lugar pequeno, barulhento, em reforma, sem uma vida noturna que valesse seu esforço em sair de casa. Por vezes passou dias inteiros trancado no galpão onde vivia, totalmente absorto em suas explosões. - Como não havia janelas por onde o sol pudesse permear, não tinha a menor noção de tempo ali, acabava até mesmo trocando o dia pela noite. - O acordo que havia selado com o Hokage, o forçaria a viver na Folha, querendo ou não, por muitos anos e, embora aquilo não o incomodasse desde que pudesse continuar aprimorando sua arte, tão pouco o agradava pensar naquilo como um lar. Porém algo parecia estar mudando em sua vida.
Ao andar pelas ruas estreitas, desviando de pessoas atarefadas e sem se importar com os olhares atravessados que recebia, sentia uma certa euforia crescer dentro de si. Inquieto, passou a observar com mais atenção cada detalhe em seu caminho, analisando a arquitetura das casas, a predominância das cores verde e vermelho nos telhados, o chão de pedra batida, estranhamente tudo parecia mais interessante aquela tarde. Assim era um coração apaixonado.
Embora jovem, tinha tido muitas experiências amorosas. Namorou lindas pessoas, das mais variadas personalidades e guardava boas recordações mesmo daquelas com quem só esteve por uma noite e, ainda assim, nenhuma delas foi capaz de mexer com ele como Ino fazia. - A flor mais linda de Konoha entendia como ninguém a beleza na brevidade das coisas e compartilhava com ele a apreciação pelo efêmero. - Se ela não havia sido moldada para ele pelo destino, então nada além poderia ser mais do que força do acaso.
- Opa, foi mal. - Sorriu para uma mulher irritada em quem esbarrou. A desconhecida puxou a filha pela mão e falou alguma grosseria a qual ele não deu importância.
- Se continuar andando sem olhar para frente vou ter que reportar ao Shikamaru. - Quem falava era um rapaz de aparência sem graça que sorria para ele como se tivessem intimidade. Deidara se esforçou, mas não conseguiu lembrar de onde o conhecia. - É uma brincadeira. Eu não faria nada desse tipo com você.
- Ah, valeu. - Retribuiu o sorriso, com um toque adicional de deboche e tentou seguir seu caminho, porém ao olhar para o lado, percebeu que o estranho familiar o acompanhava. - Precisa de alguma coisa?
- Está um dia quente, não acha? Quer um chá?
- Sério isso? - As pessoas não eram gentis com ele, mesmo Shikamaru que parecia estar se acostumando com sua presença nunca lhe convidou para nada assim. Só podia ser algum tipo de armadilha. - Você paga?
Com um aceno positivo de cabeça o homem respondeu à pergunta, o que só fez aumentar a desconfiança sobre suas intenções. Algo nele soava tão artificial, que Deidara tinha até mesmo vontade de beliscar suas bochechas para ver se não usava uma máscara no lugar de um rosto. Nem mesmo as marionetes do Sasori pareciam tão vazias. Ainda assim, ele o seguiu para dentro do restaurante mais próximo, afinal de graça é de graça.
- Eu nunca vim a esse lugar, mas acredito que a comida seja boa, pela quantidade de Akimichis comendo. Os pedidos são feitos no balcão. Fique à vontade até eu voltar. - Estranho? Totalmente. Porém nada que não pudesse ser resolvido com a argila ilegal que trazia nos bolsos, caso necessário.
A mesa escolhida ficava convenientemente posicionada atrás de uma coluna, impossibilitando que Deidara visse quando Sai, ao invés de ir direto ao balcão, sentou em uma cadeira vazia e sacou um pequeno livro de uma bolsinha que trazia consigo, o título: "Você, ela e o outro. Como lidar com um relacionamento a três". - Os olhos atentos percorreram as páginas rapidamente, verificando todos os itens que pareciam terem sido aplicados e verificando os próximos passos do plano.
Satisfeito, retornou com uma bandeja munida de chá, petiscos e doces orientais. Deixou que seu convidado se servisse, enquanto apenas fingia bebericar e analisava cuidadosamente seus movimentos.
- Não vai comer? - O dango que estava a meio caminho da boca foi devolvido ao prato. Nunca era bom sinal alguém ficar te encarando com uma expressão sinistra, enquanto você come. Já viu seu danna matar mais de uma vez dessa forma. A mão deslizou para perto do bolso com a argila.
- Não tenho fome. Comprei tudo para você, mas se te deixa feliz... - Tomou o doce desprezado e mordeu. Um gemidinho de prazer escapando dos lábios. - Melhor assim? Quer que eu coma um salgado também?
- Não, para! Afinal de contas, o que você está querendo comigo? - Até ele tinha limites e, agora que estava alimentado, aquilo parecia ultrapassar todos eles. - Aliás, de onde me conhece?
Essa reação não estava no roteiro. O livro dizia para ser gentil, convidar para sair, fazer os gostos da pessoa. O que poderia estar errado? Sem responder, recorreu a uma pequena cola com as melhores dicas, que trazia em sua manga.
- Seu cabelo é radiante como o sol da tarde. - Esse elogio sempre funcionava com Ino, mas no caso se referia ao dela como sol de uma manhã de inverno, por ser mais esbranquiçado.
- Sim. Aquele que bate logo antes de começar a alaranjar, né? - Distraído, penteou os fios loiros com os dedos e trocou o volume de ombro. - Mas não pense que é só beleza natural. Eu sigo um rigoroso ritual de escovadas noturnas e ontem mesmo passei o dia com ele de molho no creme. Isso daqui - aproximou uma mexa para que Sai a tocasse - é para quem tem muita determinação.
Os minutos que se seguiram foram agradáveis para ambos que falaram sobre diversos assuntos triviais, dissipando as suspeitas sobre aquela estranha aproximação. Poderia ser o começo de uma amizade se não fosse pelas reais intenções de Sai:
- Eu quero ser seu amigo, afinal namoramos a mesma mulher. - A simplicidade com que ele disse aquilo era perturbadora.
- Namoramos...? - A cadeira tombou para trás quando Deidara se ergueu de sopetão. -Caramba! Agora lembrei de onde conheço essa sua cara pálida. Você é o esquisitão que namorava a Ino.
- Acredito que se referir a mim dessa maneira não será algo bom para nosso relacionamento...
- Que relacionamento, seu maluco? Ela me escolheu, aceita isso e segue em frente.
- Segundo esse livro, problemas com triângulos amorosos podem ser facilmente resolvidos com uma coisa chamada poliamor... - Levantou e tentou seguir o homem que corria para longe do estabelecimento, porém foi impedido pelo dono do bar que segurava a conta em uma mão e uma vara na outra.
As estrelas já brilhavam no céu de Konoha, o que significava que Deidara estava descumprindo o toque de recolher ao permanecer deitado no chão da floricultura Yamanaka, conversando com a loira sorridente que fazia alguns arranjos de uma encomenda.
- Ele disse isso mesmo? O Sai não é bom da cabeça. - Ino teve que para o que fazia para tentar acalmar a crise de riso.
- E isso não te balança? Não se sente nada tentada a um flashback?
- Mas nossa relação já acabou há muito tempos, perdi as contas de quantas vezes terminamos e voltamos antes de eu te conhecer.
- Olha, se eu tiver que escolher entre te perder ou te dividir com aquele esquisito... - Balançou a cabeça em negação - Que escolha eu teria? Eu te adoro.
- Você é perfeito, amor. - Deitou ao lado do homem e apoiou a cabeça no peito dele. - Não quero mais ninguém.
- Que alívio, porque ele não deve estar nada atraente sem sobrancelhas...
- Como assim? - Tinha os olhos arregalados.
- Alguém deixou um presentinho na porta dele e explodiu. - Levantou as mãos em rendição.
- Você não presta! - Virou de costas emburrada, mas cedeu aos braços que a envolveram. - Amanhã vai pedir desculpas.
- Sim, senhora...
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Família Yamanaka - MenmaNG
FanfictionIno e Deidara acreditam que a beleza está na efemeridade das coisas, mas também têm certeza de que o amor deles será eterno. Juntos lutam para formar uma linda família em meio à adversidades. Essa história faz parte do universo MenmaNG (fã mangá), c...