Divina Proteção

Egoísmo

Um Mês Depois 

Perséfone 

Faz um mês que esse chorão nasceu, não suporto ser obrigada a amamentar, sentir as suas mãozinhas nos meus seios deixa-me muito irritada, pelo menos tem uma serva que é muito chata que fica com o menino, que troca fralda e dá banho, tenho apenas que o suportar perto de mim quando está com fome, o que acontece de três em três horas, inclusive de madrugada, agora nem o direito de dormir tenho.
Não aguento mais ficar presa nesse lugar tão escuro e frio, eu sou uma deusa acostumada com a luz do sol, com o canto dos pássaros, em andar pelas florestas, utilizar os meus poderes para florescer os campos, as árvores, não fiz nada de errado para ser condenada a viver para sempre nesse inferno onde todos me detestam.
Felizmente já recuperei o peso que adquiri durante a gravidez, na verdade, engordei pouco, como me alimentei de forma adequada durante toda a gestação, o peso que tinha a mais no meu corpo era o equivalente ao peso desse ser indesejado que odiei ter que carregar na minha barriga mas não tive outra opção a não ser levar essa gravidez até o fim.
Olho-me no espelho, meus lindos olhos estão com algumas olheiras que foram causadas pelas noites em claro, já que é impossível dormir as horas necessárias para descansar o meu corpo, não sei como as humanas aguentam passarem por essa situação e ainda falarem que amam os seus bebês e pior a maioria tem muitos filhos.
Resolvo que não ficarei mais uma hora nesse lugar horrível, eu sou muito jovem para passar a minha vida inteira sofrendo por causa de outras pessoas, já fiz a minha obrigação que era dar a vida para esse bebê, agora posso retomar a minha vida e tentar ser feliz mesmo sabendo que é impossível ser o que desejava que era ser eternamente virgem.
Vou para a sala onde é servida todas as minhas refeições diárias, vejo que aquele deus que eu tanto odeio está sentado tomando seu café da manhã e resolvo ir direto ao ponto para não perder mais tempo.
Hades, irei para a superfície hoje, não posso mais continuar nesse lugar.

Hades: Você só pode estar de brincadeira, abandonará o nosso bebê?

Perséfone: Eu nunca desejei ter intimidades com ninguém e não tenho que ficar presa a um bebê que não posso amar.

Hades: Você está sendo muito egoísta, nós dois não pedimos isso mas não podemos fugir das nossas responsabilidades. Você tem a obrigação de cuidar do bebê e de o alimentar. Se quiser passar um tempo com a sua mãe não vejo problemas, mas leve o bebê, ele precisa de você.

Perséfone: Já o amamentei por um mês e não consigo continuar, sei que é egoísmo mas não posso  mais fazer isso.

Hades: Você é muito cruel e egoísta por não querer o amamentar mesmo que seja por poucos meses. Ele precisa do seu leite até completar os cinco meses de vida. Sei que o submundo não te agrada por isso te deixo voltar para a terra, mas não abandone o bebê.

Perséfone:  É só ele que importa? Eu perdi meses da minha vida por causa dessa maldita gravidez que é só culpa sua. Não quero mais ele perto de mim, já suportei isso tempo demais.

Hades: Agora vejo que você não passa de uma egoísta mal-agradecida, é igualzinha a sua tia que está no tártaro. Se sair daqui sem o bebê pode esquecer da minha proteção, terá que se defender sozinha dos outros deuses. E você é uma deusa, não deveria se importar com o tempo pois a nossa vida é eterna, mas vejo que é muito tola e ignorante pra entender essas coisas.

Perséfone: Eu não quero a sua proteção. A verdade é que sou tratada aqui como se fosse uma convidada indesejada. Nunca arruma tempo para conversar comigo e agora finge que gosta da minha presença no seu palácio? Eu não sou uma vaca leiteira.

Hades: E eu não sou obrigado a aturar os seus chiliques sua ingrata! Se quer tanto ir e agir como uma hipócrita mesquinha poder ir agora! Mas nunca mais volte aqui!

Perséfone: Não pretendo voltar para esse inferno.

Arrumo as minhas coisas rapidamente e uso o teletransporte para voltar para a minha querida terra.

Deméter: Estou dentro da minha casa organizando algumas ervas que tenho quando sinto a presença da minha filha e fico surpresa ao vê-la com suas coisas mas sem o meu neto. Não acredito que estou vendo isso, sei que ela não desejava ser mãe, mas abandonar o filho é muita crueldade.
O que está fazendo aqui, onde está o meu neto?

Perséfone: Eu não aguento mais ficar com aquele bebê e muito menos naquele lugar tão sombrio.

Deméter: Eu não estou acreditando que você abandonou o seu filho. Entendo que não se sentia bem no submundo, mas você foi muito cruel com aquela bebê. Acha mesmo que eu não sei dos seus atos egoístas e negligentes? Aquele bebê não tem culpa e você está sendo uma egoísta!

Perséfone: Eu sou a culpada por tido uma gravidez indesejada? Você não me educou para ser mãe. Todos naquele me   tratam mal, desde as ninfas que são amantes do imperador até ele que sequer fala comigo. Ficar mais um dia lá é um tormento. E não finge que se preocupa com o bebê pois nem fez questão de ir o conhecer.

Deméter: Eu realmente errei na sua educação, mas eu também não estava pronta para ser mãe, mas ao contrário de você, eu não abandonei o meu bebê por motivos egoístas. E se estava tão incomodada com isso poderia ter falado com o meu irmão, mas vejo que nem tentar resolver os seus problemas você tentou.

Infelizmente não tive tempo de ir o conhecer pois tive que fazer todo o trabalho que deixei de lado para cuidar de ti. Você é um monstro por ter abandonado o seu filho que tanto precisa de ti, só não te expulso dessa casa pois sei que não tem pra onde ir, mas esqueça que eu estou aqui, não te darei nenhum apoio nessa sua loucura.

Perséfone: As palavras duras da minha mãe deixa-me triste mas espero que com o tempo ela entenda os meus sentimentos e consiga perdoar os meus erros. 

Estou muito feliz por ter voltado a viver na tranquilidade, passo o dia inteiro descansando, não tem nenhum choro irritante atrapalhando o meu sono de beleza, só ouço o canto dos pássaros, vou para uma mata que existe dentro da minha casa e posso voltar a andar pela grama, sentir o vento no rosto, observar a natureza que eu tanto amo, é muito bom sentir-me livre.

Hades: Meu filho chora tanto que acaba dormindo tão cansado, ordenei um espectro que fosse na superfície e comprasse leite animal mas não deu certo, com certeza ele é muito novo para esse tipo de alimentação.

Estou com muito ódio daquela egoísta, amamentar nosso bebê por alguns meses não atrapalharia em nada sua vida que sem dúvidas é só voltada para coisas fúteis, estou muito preocupado com o meu filho e não sei o que fazer para cuidar dele.