Enoque

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Depois que almoçaram, Enoque quis dar continuidade na ideia de Diana.

─ Agora é a minha vez.

Rita e Fabiola estavam parcialmente deitadas no sofá tomando um suco natural de maracujá, feito por Renato. Diana e Gerson sentaram em cima do tapete no chão e Renato apreciava seu suco em pé. Todos pararam para ouvir Enoque.

"Quando tinha uns 23 anos, hoje tenho 30, só para constar ─ todos sorriram ─ trabalhava na bilheteria do cinema do shopping, cursava na época design gráfico."

"Era a última sessão da noite, o shopping estava vazio, as últimas pessoas entravam nas salas para assistirem... Não lembro qual filme que passava na época. Quando uma moça, parecia ter uns 20 anos se não mais, chegou chorando perto de mim."

─ Está tudo bem, moça? ─ Eu disse levantando. Estava sentado.

"Ela só chorava limpando com um dos dedos as lágrimas que escorriam. Certos momentos, os soluços impediam de responder minha pergunta. Fiquei ali até ela conseguir se recuperar. Olhava de um lado para o outro e não havia ninguém. Somente eu e ela."

─ Terminei com meu namorado ─ Ela limpava as, parecidas, últimas lágrimas.
(Oh! Céus. Não pode tá acontecendo isso comigo. Um conselheiro amoroso a essa hora da noite).

─ Eu só queria entender. Somente isso...

─ Sabe o que ele fez? Ele te traiu? ─ Iniciei.
Ela chorava, parece que tinha acertado.

─ Sim... por que ele fez isso? Não precisava fazer isso comigo...

─ Nesse momento, você não pode se culpar. Ele que foi falho com você. Ele não conseguiu ver a moça incrível que você é. Apesar de não conhecê-la, mas posso imaginar o quão é.

─ Obrigada. Ele era incrível também. Estávamos juntos fazia uns dois anos e meio, e descobri que estava com outra já há 3 meses. Isso é o que mais me deixou machucada.

"Decidi levá-la até um banco próximo a bilheteria. Sentamos os dois ali."

─ Eu amava ele. Eu o amo ainda, na verdade. Foi tão duro romper um namoro, pra mim, tão longo já. Mas eu não poderia perdoar uma traição, ainda mais de três meses. Que vergonha! ─ Ela colocava a mão no rosto.

─ Ei, quem tem que se envergonhar é ele e a amante. Você fez a coisa certa, porque a maioria dos casos, se perdoado uma traição, é grande a probabilidade de acontecer de novo. Ninguém merece sofrer e passar por algo assim. Todos merecem amar e ser amado.

"Ela sorria, transparecendo alívio."

─ Obrigada. Que bizarra que eu sou ─ Ela ria ─ Nem me apresentei, me chamo Angélica ─ Estendia a mão para que eu a saudasse.

─ Enoque, prazer ─ retribuí com um sorriso.

─ Desculpe por tomar seu tempo. Até perdi boa parte do filme. Vim assistir um filme para distrair minha cabeça, já que não bebo ─ nós dois rimos.

─ Bom...

─ Obrigada por me ouvir. Acho que conversar foi bem melhor que assistir um filme. Me senti bem melhor. Agora é bola para frente.

─ Que bom! Não sabia que eu era um ótimo prosador.

─ Se todos os homens fossem que nem você...

─ Não diga isso.

Nós dois rimos.

"Ela ainda foi assistir o filme depois desse momento, tinha perdido uns 10 minutos de filme, mas segundo ela, valeu a pena."

"Mais tarde, vi que as pessoas já estavam indo embora, então, sabia que o filme chegara ao fim. Esperancei ver Angélica de novo. E vi, mas ela conversava com alguém por chamada no celular. Se estivesse, pelo menos, com a cabeça para cima, me veria e daria um sinal, mas não, estava com a cabeça baixa, jogando no lixo esse meu pensamento."

─ Nossa, por um momento achava que vocês iriam ter algum caso ─ Rita comentou um pouco chateada.

─ Pois é... até eu queria que tivesse, mas nunca mais vi ela. Pensava que apareceria no cinema de novo, mas não. Tanto é que, logo sai do emprego e fui para a agência.

─ Que pena, amigão. Eu não sei se acredito muito em amor a primeira vista, mas parece que tenho uma prova aqui na minha frente.

Enoque jogou uma almofada em Gerson. Todos gargalharam. Mas, para Enoque, o comentário de Gerson tinha um toque de verdade.

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