Fabíola

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─ É incrível que ainda esteja chovendo. Já são quase 14h da tarde ─ Renato observava pela porta de vidro o dia escuro por causa das nuvens carregadas de água.

─ Renato, vem, é a vez da Fabíola ─ Enoque disse empolgado.

Porém, Renato, estava entediado.
Sentou perto de Rita.

─ Tá bom ─ Fabiola disse animada quando já sabia o que contar.

“Vocês me conheceram assim, um pouco ‘gordinha’, mas antes de eu entrar na agência, tinha 22 anos, fui há uma entrevista de emprego, também em uma agência de publicidade e propaganda, e lá aconteceu algo revoltante.”

“Era uma manhã de quarta feira. Tive de faltar aula da faculdade para ir na entrevista. Era uma vaga de estágio para administração. Junto a mim, estava mais 4 pessoas: 3 meninos e 1 menina. Nos deram um pequeno papel para preenchermos com nossos dados pessoais, nossas experiências no mercado e mais algumas pequenas coisas.”

─ Está concorrendo a vaga de administração? ─ A moça de cabelos negros e olhos castanhos, que estava do meu lado, tocou no meu ombro e me perguntou.

─ Sim ─ Respondi graciosamente ─ E você?

─ Para design gráfico ─ Ela voltou os olhos para sua ficha.

─ Fabíola ─ ofereci minha mão para uma saudação.

─ Silvana ─ ela sorriu e apertou minha mão ─ Temos que nos unir, somos as únicas mulheres aqui ─ ria e visualizava os meninos que estavam sentados a nossa frente.

“Eu também sorri, mas não respondi. Ela vestia uma calça jeans e uma blusa lisa azul. Estava praticamente igual a ela, só usava uma blusa mais solta.”

─ Gostei da sua...

“Fomos interrompidas pela entrevistadora”

─ Bom dia. Vocês podem me acompanhar? ─ Todos se levantaram e seguiram a mulher até uma sala. Eu fui a primeira, seguindo a ordem alfabética.

“A entrevistadora disse o meu nome e logo levantei, ao fazer isso, ela me olhou de cima até em baixo, o que me deixou bastante constrangida.”

─ Fabíola Amorim de Souza ─ Olhava meu curriculum ─ Fico feliz por estar aqui, sente-se, por favor. ─ Sentei, mas o que ela estava falando não estava de acordo com a expressão de seu rosto.

(Será que tem algo no meu rosto?)
(Ela não para de me reprovar com esses olhares).

─ Vejo que esta terminando a faculdade...

─ Sim ─ Confirmei.

“Ela verificava o meu curriculum mais uma vez, bem depressa e abriu um sorriso. Fiquei curiosa”.

─ Obrigada, Fabíola, não costumo fazer isso assim de cara, mas... como eu posso dizer... você está dispensada.

Eu sorri sem entender.

─ Mas como assim “dispensada”? Você não devia analisar minha entrevista? Nem sei o que se passou aqui pode se chamar “uma entrevista de emprego”.

─ Desculpa, Fabíola, o seu currículo é ótimo, mas... você não... combina com a empresa ─ ela olhou então para o meu corpo.

Neste momento, eu pude entender os olhares de reprovações desde o inicio.

─ Eu não estou acreditando. Vai me dispensar, porque não combino com sua empresa? Por que não diz logo que não quer contratar uma “gorda”, hein? Não seria mais fácil? Já que o que diz é isso? ─ Tinha me levantado da cadeira e exaltado. A outra estava plena na sua cadeira, olhando para mim.

─ Por favor, querida, peço que saia do meu escritório.

─ Mas é claro que vou sair. É uma honra você não ter me contratado. Não poderia ficar no mesmo teto com uma vadia como você. Tenho pena de quem pensa como você. Vocês se merecem. Que você se exploda vadiazinha.

“Peguei minha bolsa e bati a porta com força. Os outros entrevistados olhavam assustados.”

“Durona eu fui, mas no caminho de volta, eu chorei. Chorei de raiva por ainda existirem pessoas que discriminam outras, porque não estão no padrão que a sociedade incubou. Só que eles esqueceram que eu amo o meu corpo do jeito que ele é.”

Quando Fabíola terminou sua estória todos os seus amigos a aplaudiram e alguns assobiaram também, assim como na vez de Diana, só que mais forte.

─ Que superação! ─ Diana exclamou.

Todos sorriam.

1 Dia de Chuva Onde histórias criam vida. Descubra agora