Gerson

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A chuva havia dado uma pequena trégua por volta das 16h da tarde.

─ Parece que acabou. Ufa! Que chuva demorada. ─ Renato disse, não aguentava mais ficar dentro da chácara. Foi o primeiro a sair para sentir o frescor que a chuva deixou do quase fim da tarde.

─ Mas pelo jeito, não vai ficar por muito tempo. Olha aquela nuvem chegando ali. ─ Rita debochou de Renato.

─ Não jogue praga, Rita.

─ Bom, podemos ir até o rio ver alguns peixes, é aqui perto. ─ Enoque disse.

Todos se sentiram animados para ver. Com o horário, era a única coisa que dava para fazer.

─ Pessoal, acho melhor voltarmos. ─ Diana disse ao sentir uma pequena gota de água cair no seu braço esquerdo.

Já estavam quase na metade do caminho.

─ Pessoal, acho melhor também. ─ Gerson disse ao sentir também.

Poucos segundos depois, a chuva começou a cair de novo e com mais força ainda. Se uma polícia estivesse em um helicóptero procurando um criminoso fugitivo, ou, se alguém estivesse gravando aquele local com um drone para usar em um curta metragem, veriam 6 pessoas correndo desesperadamente no sentido contrário do que iam.

─ NÃOOO... ─ Renato disse chateado quando já estavam no alpendre da chácara. ─ Nosso feriado tá todo cagado.

─ Não fique assim, Renato. ─ Fabíola consolou-o.

Todos estavam no tédio, mas Renato estava muito mais. Os outros gostaram muito das estórias, e isso, proporcionou a saída do tédio. Renato estava com grande expectativa com a trilha. Com isso, nem posso chamar de tédio o que estava sentindo, mas sim de decepção.

Todos se secaram e sentaram no sofá, menos Gerson, que trazia uma bandeja com suco de limão, colhidas pela avó de Enoque no dia anterior, e bolo de cenoura que havia preparado minutos antes de Fabíola contar sua estória.

─ Hmmm... ─ Rita deliciava com o bolo.

─ Gerson, é a sua vez então. ─ Diana apontou para Gerson com um pedaço de bolo na mão.

─ Tá. Eu tenho uma.

“Fui pai muito cedo. Tinha uns 20 anos na época. ─ Todos se espantaram ─ Sim, há 10 anos. ─ Todos riram.”

“Namorava Talita, uma menina doce e gentil. Bonita, tinha os cabelos castanhos, magra, olhos negros e uma bela estatura. Estava totalmente apaixonado. Era a minha primeira namorada. Sempre tive aquelas paixonites e ficantes, mas nada sério como com Talita.”

“Quando a pedi em namoro, foi uma festa quando ouvi o ‘sim’. Era como se ela respondesse ao ‘quer casar comigo?’. Sinceramente, não sei de onde tirei tanta alegria. Que estúpido.”

Ouvem-se alguns risos na sala.

“Acho que passaram uns 2 a 3 meses, nós tivemos nossa primeira relação. Usamos preservativos e tudo mais. Tudo seguro. Porém, quando estávamos com muita vontade de ter a segunda vez, quase na mesma semana do primeiro, aconteceu.”

“Eu não havia usado camisinha, não tinha mais guardada. Estava tão envolvido que dei mancada de não falar para Talita, mas ali no momento ela me despreocupou”.

─ Não se preocupe, estou tomando pílula.

“Isso me deixou mais aliviado. Mas, não deu outra, algumas semanas depois, os enjoos começaram a chegar e a ficar meio tonta, ela dizia para mim por mensagem. Automaticamente, eu comecei a me assustar, porém não disse nada.”

─ É bom fazer um teste, Talita. ─ Disse calmamente, quando estávamos sentados no sofá semanas depois quando os mesmos sintomas persistiam e outros apareciam, como a menstruação atrasada.

“Ela fez. E BOOMM!!! GRÁVIDA!!! Eu fiquei assustado, mas logo comecei a gostar da notícia. Talita nem tanto, mas, ao mesmo tempo, conseguia ver um ar de carinho pairando sobre sua cabeça. Nos beijamos como na primeira vez. Apaixonados.”

“Os nove meses foram angustiantes, mas alegres. Talita não teve complicações durante a gestação. Tudo foi saudável, do início ao fim. Eu fui um pai coruja desde quando Gabriel estava na barriga. Ah! Esse é o nome dele. Participava de tudo que era exame de Talita, não faltava nenhuma. Sim, um pai babão demais, mas eu amo esse garoto.”

“O que me deixou triste é quando Gabriel nasceu. Eu não entendo como isso aconteceu. Uma raiva, talvez, não sei se é certo dizer isso, porque não fiz nada para ela ter, pelo menos eu achava, se apoderou de Talita. Dias depois, quando Gabriel já estava em casa, Talita simplesmente me dispensou. Não quis mais minha presença ali. Terminou o namoro”

─ Por que está fazendo isso? ─ Eu dizia. ─ Temos um filho agora. Vou cuidar do Gabriel com você.

“Mas ela estava segura de si. Por que? Por que? Me agradeceu pelos nove meses que fiquei com ela e pediu para eu ir embora. Mais tarde descobri o por que, não era raiva, era outro. Ela começou a gostar de outro rapaz. Na verdade, ela nunca esqueceu aquele rapaz. Era seu ex-namorado e com o qual se casaria anos mais tarde”

“Quando descobri, eu fiquei extático, mas não briguei com ela. Não quis isso. Respeitei a vontade dela de eu sair e o seu novo “namoro”. Só pedia para ela deixar ver meu filho. E isso ela nunca negou, até no ano passado, 9 anos depois.”

“Foi quando eu entrei com um processo para ter a guarda de Gabriel. Como disse, respeitava, mesmo que decepcionado, com as vontades de Talita, mas não aceitaria de ela rejeitar ver meu filho. E, agora, estou aguardando o julgamento. Segundo minha advogada, tenho chances de ganhar. Eu espero que isso aconteça.”

─ Que mulher sem coração. ─ Fabiola protestou.

Gerson não disse nada.

─ Uma história um tanto rara. ─ Enoque disse ainda espantado.

─ Bom, pela sua história, Gerson, parece que é um bom pai. Merece ganhar, com certeza. ─ Diana animou.

─ Eu espero, amigos... eu espero. ─ Gerson finalizou bebendo o resto de suco de seu copo.

1 Dia de Chuva Onde histórias criam vida. Descubra agora