Rita

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Enquanto Enoque colocava os pratos na mesa, Rita trazia a panela com o arroz e pousava na mesa. Diana trazia a travessa com salada de tomate e Gerson a jarra de suco. Renato lavava as mãos e Fabíola aparecia na cozinha com os cabelos ainda molhados, pois fora a última a tomar banho.

Em poucos instantes, todos já estavam sentados envoltos da mesa, prontos para devorar toda aquela delícia. A fofoca rolava a solta. Não havia um momento que não gargalhavam. Todos estavam felizes. Estavam juntos e compartilhavam uma amizade impressionante e admirável.

─ Tá bom, já que todos já comeram e sentaram bem bonitinhos aqui na sala, é a minha vez de contar uma estória do meu passado. ─ Rita disse animada, quase uma hora depois do jantar.

─ Estamos prontos para ouvir, minha querida Ritinha. ─ Enoque disse tirando risos de todos.

Rita sorriu antes de começar. Ela sentava no chão com as pernas cruzadas, juntamente com Renato. Diana e Enoque estavam deitados no sofá, enquanto Gerson e Fabíola sentavam nas duas únicas poltronas da sala, comendo ainda os pedaços de bolo de cenoura que sobrara da tarde. Essa era a sobremesa.

“Era o segundo semestre que estava fazendo do último ano do ensino médio, quando me vi superatraída por um menino que havia acabado de chegar na escola. Ele era todo gato. Alto, torneado, usava sempre um moletom rosa e um cabelo estilo militar. Gostava de usar boné de aba reta e sempre virado para trás. Todas as meninas e alguns meninos, babavam nele.”

“Boba nem nada, comecei a investigar a vida do menino. Com a ajuda da minha amiga Giulia, conseguimos encontrar seu perfil no Facebook. Seu nome era Gustavo. Pelas fotos postadas, era de Cuiabá, e tinha vindo para Azorizal fazia poucas semanas.”

─ Amiga, você não “tá” pensando...

─ Claro que estou. Você acha que eu vou perder esse boy? Dizia na época.

“Descobrimos que também tinha 18 anos. Morava com o pai e uma irmã que aparentava ter uns 10 anos. Rolamos mais a tela do perfil do menino e vimos seus posts. Gostava de tirar fotos sem camisa. Era o que mais tinha. Alguns posts chegavam a ter de 800 a 900 curtidas. Algumas chegavam a 1.000, mas eram poucos.”

─ O que? ─ Giulia espantava.

─ Amiga, precisamos chegar até ele. ─ Disse começando a arquitetar tudo na cabeça.

─ Eu não. Você quer ficar com ele. Nada pessoal, mas eu não vou. Desculpe, amiga.

“Revirei os olhos na época. Tinha que fazer sozinha. Então, no dia seguinte, ao chegar na escola, o procurei por alto, mas nada.” (Será que ele não veio?)

“Eu estava sentada na cadeira disponibilizada pela cantina. Olhava de longe Giulia que conversava com duas garotas e sempre espiando como eu estava. Eu não tinha plano nenhum, não consegui arquitetar nada. Vou só deixar rolar. Pensei.”

“Boom, ele apareceu. (Por que demorou tanto para sair da sala?) O intervalo aquele dia demorou, isso foi bom. Estava nervosa. Decidi lançar um sorriso bem discreto. Ele ainda estava longe, mas me viu. Acho que entendeu o recado, retribuiu o meu sorriso com outro. Como disse, era todo gato, o sorriso era mais uma garantia disso.”

“Estava bebendo o restante do suco de uva que tomava, quando o vi se aproximar. Meu coração acelerou só um pouquinho. É sério. Não fiquei ansiosa. Muito pelo contrário.”

─ Costuma lançar sorrisos para os garotos aqui? ─ Ele chegou e sentou com um suco de laranja na mão.

─ Somente para os que são gatos como você. ─ Lancei outro sorriso e, não vi, mas com certeza meus olhos castanhos brilhavam.

─ Wow! Muito obrigado...

─ Rita. Prazer. ─ Estendi a mão para saudá-lo.

─ Gus...

─ Gustavo. Eu sei. ─ Interrompi e ele arqueou a sobrancelha repentinamente.

─ Está me stalkeando, mocinha? ─ Ele sorriu.

─ Não muito.

─ Você é perigosa. Gostei de você. Aliás, você é linda também. Esses cabelos negros te deixam mais sexy. ─ Falou esta última frase chegando mais perto do meu rosto.

“Debaixo da mesa, passava as minhas pernas nas suas. Ele estava começando a entender o que estava acontecendo.”

─ Quer sair daqui, ir para um lugar mais tranquilo? Com menos pessoas? ─ Perguntei ainda passando as minhas pernas nas dele.

─ Não seria problema algum. ─ Ele sorriu deixando a caixa do suco em cima da mesa. Enquanto íamos até lugar nenhum, larguei a minha caixa de suco no lixo.

─ Faz um bom tempo que não... ─ Ele diz, mas é interrompido com meu beijo. ─ Uau ─ Disse ainda com os olhos fechados quando deixei a boca dele.

“O sinal tocou para todos voltarem para a sala.”

─ Vamos! ─ Corríamos para uma sala.

“Abrimos a primeira sala que estava aberta e fechamos. Começamos a tirar nossas roupas e sem parar de nos beijar. O beijo dele era quente. Os seus lábios macios deslizavam violentamente sobre os meus.”

─ Mas que pouca vergonha é essa na minha sala? ─ Estávamos no chão da sala. Somos tão sortudos que acabamos entrando na sala do diretor. ─ Levantem-se, os dois. Vamos! Que baixaria. Na minha sala ainda. Podem se sentar agora. ─ Gritava.

“Vestimos nossas roupas rapidamente e ríamos baixinho às vezes.”

“A conversa foi longa. Ele notificou meus pais e o de Gustavo sobre o ocorrido. Meus pais estavam parcialmente acostumados com meu comportamento, mas aquilo foi demais para eles. Me encheram de sermões quase durante um mês. Não me deixaram de castigo, mas o tanto que ouvi, já deu para eu não me meter em confusões como essa. Pelo menos por enquanto, pensei.”

“Com Gustavo não foi diferente, levou uma bronca ainda na escola. Todos viram, mas eu e ele nos olhávamos e sorríamos. Resultado: namoramos por volta de quase um ano. Depois ele teve de ir embora para Cuiabá de novo, por conta da faculdade. É meus amigos, o que é bom dura pouco.”

─ Puxa, Rita. Você não mudou nada. ─ Fabíola comentou.

─ Claro que mudei. ─ Eu gargalhei. ─ Ainda não encontrei o homem que vai me pedir em casamento. Enquanto isso, eu me divirto.

─ Bom... errada não tá. ─ Enoque disse sorrindo.

─ Nunca mais teve notícias dele? ─ Diana perguntou.

─ Não. Há pouco tempo procurei o seu perfil no facebook, mas não existe mais.

─ Nossa! ─ Diana exclamou.

─ Você tem fogo, hein, Rita. ─ Gerson bradou depois de uma pausa.

Todos gargalharam.

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