Renato

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─ Bom... já são quase 21h. Por incrível que pareça, ainda está chovendo. Eu nunca vi uma chuva tão constante como essa. ─ Enoque professou um pouco desconsolado.

─ A ideia de Diana valeu a pena. ─ Fabíola comentou abrindo um bocejo.

─ As histórias que contamos aqui foram impressionantes. Nem parece que passamos um dia conversando. Já é noite, gente. ─ Gerson disse um pouco cansado e abria um bocejo também.

─ Gente... cinco pessoas contaram suas histórias e estamos em seis... ainda falta um. ─ Rita disse olhando sarcasticamente para Renato que estava ao seu lado.

Todos espantaram.

─ Ah não. ─ Renato afundou a cara na almofada.

─ Todos contaram, você é o último. Vamos ─ Rita lançava as mãos no seu ombro.

─ Tá bom... ─ Renato disse depois de uma pequena pausa.

Os que estavam cansados, de algum modo, tiveram energia para ouvir Renato. Não sabiam de onde veio tanta.

"Há uns quatro anos, quando tinha 21 anos, namorava Gabriel. O conheci quando estava no segundo ano da faculdade. Ele também fazia design gráfico. Ele era todo sério e antissocial. Eu gostava disso nele. Também sou assim, só que menos."

"Nos atraímos quando, na virada do semestre, ele mudou de turno, passou a estudar, pela manhã, na minha turma. Ele usava óculos e mantinha o cabelo militar. Tinha uma mochila de costas preta e algumas galáxias em volta. Ele era apaixonado pelo universo. É ainda, na verdade."

"Nos entreolhamos por uns dias e logo ele tomou a iniciativa. Parece que tudo estava programado. Foi fascinante. Nunca tinha acontecido isso comigo."

─ Gabriel. ─ Ele me cumprimentou quando estávamos na biblioteca. Foi a nossa primeira conversa, vamos dizer assim.

─ Renato. ─ Apertei a mão e lancei um largo sorriso.

"A partir desse momento, nos tornamos amigos e duas semanas depois, estávamos oficialmente namorando. Namorando mesmo, de apresentar para os pais e tudo. Até eu fiquei espantado como tudo estava acontecendo. Mas tudo foi real. Os meses que se passaram, foram os melhores. Apresentei para os meu amigos, 2 na verdade, a Cintia e Rodolfo."

"Rodolfo também tinha uma namorada. Às vezes saíamos em casais para beber. Bom... só Cintia que ficava sem ninguém. Mas para manter uma boa harmonia, não namorávamos na frente dela. Tudo isso era uma regra entre nós três. Fala sério, isso é chato vai? Ficar vendo outros namorarem em sua frente. Nem falo nada."

"Passamos a assistir juntos no cinema e, claro, os momentos a sós eram os melhores. Podíamos nos conhecer ainda mais e melhor. Mas como eu não descobri isso? Ou, como ele não me contou isso?"

"Numa sexta feira, há quatro anos, como disse no inicio, nosso amor começava a esfriar. Eu fiquei um pouco triste com isso mas eu entendia que nem todo amor é para sempre. Só que, eu achava que o meu seria. Provavelmente, a maioria pensa assim."

"Voltando então, havíamos discutido na quarta, e desde então, não falávamos mais. Então, tomei a iniciativa na sexta feira. Peguei o celular e liguei para Gabriel. As duas vezes que chamei, caíram na caixa postal. Liguei para a mãe dele. Ela não sabia da nossa discussão."

─ Olá, Sra. Geiza. Gabriel não está em casa?

─ Olha... ─ Ela foi interrompida. ─ Olha só que coincidência, acabou de chegar. Filho... ─ Ela o chamou. Geiza estava na cozinha. ─ Ele não ouviu, passou rápido. Mas está tudo bem?

─ Está sim... ─ Passei a mão no queixo pensando ─ Teria algum problema de eu aparecer aí? Já são 20h da noite.

─ Não tem problema. Ele vai adorar te ver.

"Desliguei o celular e fui até a casa dele. Minha biz estava um pouco suja, mas não tinha problema. No caminho, estava pensando o que dizer. (Vou começar pedindo perdão.)"

"Geiza ouviu o motor da moto sendo desligado e logo foi abrir o portão. Ela já conhecia o som. Me deixou entrar e fui até o quarto de Gabriel. Um pouco nervoso. Arrumava a jaqueta jeans e bati na porta de leve. Logo abriu a porta que estava aberta, bati só por educação."

"O que vi foi algo que nunca imaginei passar. Nunca na minha vida me senti humilhado. O vi somente de cueca em cima de..."

─ CÍNTIA??? ─ Gritei fazendo os dois se assustarem. ─ CÍNTIA, como... como... ─ minha voz embargava. ─ Gabriel... como
você fez isso comigo?

─ O que está aconte... ─ Geiza foi até o quarto do filho saber a causa da gritaria. ─ Ai meu Deus!

─ Renato... eu posso...

─ Não gaste seu tempo. O que vi não precisa de explicação. ─ Falava enojado de Gabriel. ─ Como que não interpretei bem os seus olhares, Cíntia. Você é uma péssima amiga. Faça bom aproveito.

"Virei de costa e sai quase correndo da casa dele. Enquanto colocava o capacete, Gabriel chegava no portão."

─ Não quero suas desculpas. ACABOU! ─ E fui embora.

"No caminho meus olhos se umedeceram e chegaram a cair algumas lágrimas. Não vou mentir. (Como puderam fazer isso comigo Cíntia? Aff, que merda)."

"Foi ai que não conhecia Gabriel por completo."

─ Nossa! Que pesado, Renato. ─ Fabíola que estava com as mãos no queixo, comentou.

─ E você? ─ Enoque perguntou. Todos olharam para saber a resposta.

─ Sofri por algumas semanas, mas logo tudo passou. Ele tentou voltar comigo, mas eu não quis mais. Não queria passar por isso novamente.

─ E a vadia Cíntia? Sem ofensas se você voltou a ser amigo dela. ─ Rita perguntou um pouco incomodada com Cíntia.

─ Vadia, sim. Nunca mais falei com aquela traidora. Ainda bem que nunca mais a vi.

─ Como ele não havia contado sobre a bissexualidade? ─ Diana apontou.

Renato não respondeu.

─ Cadê Gerson? ─ Fabíola disse depois de uma pausa, sentindo a ausência do amigo.

─ Bem aqui. ─ Ele chegou com algo na mão.

1 Dia de Chuva Onde histórias criam vida. Descubra agora