capitulo 1

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"Não acredito que você não iria me contar" - Eu disse furiosa.
"Eu não sabia como, Isabela" - David disse com um peso nas palavras.
"Que tal: Isabela, eu vou pra Inglaterra domingo a noite" - Eu disse ironicamente, mas quase chorando.
"Me desculpa, eu não queria te magoar e queria aproveitar mais o tempo com você enquanto ficasse aqui."
"Porque não me chamou pra ir com você?"
"Eu preciso fazer isso sozinho, preciso de outro lugar, outras coisas.."
"Outras pessoas" - Eu disse interrompendo ele
"Não é isso, eu só preciso ir o mais longe possível disso tudo"

Tinha uma vista maravilhosa no quarto dele, toda vez que eu olhava, ela me prendia. Era fascinante. Mas mesmo a olhando, não me prendia mais, só conseguia pensar no quão dolorida e machucada eu estava.

"Porque você está fazendo isso? Porque você está indo embora? - Eu disse quase implorando pra ele ficar.
"Porque há muitas lembranças aqui, a morte do meu irmão mudou tudo. Eu não consigo mais pensar direito, eu choro a maioria das vezes e quando passo por aquela ponte, toda vez me lembro do acidente." Ele disse sério, mas com muita dor em suas palavras. Era difícil ele ser sério (antes da perda de seu irmão), na maioria das vezes ele estava sempre rindo, brincando, era uma criança em um corpo de adulto. Eu queria tanto poder ajudá-lo, mas não sabia como. David foi meu primero amor, meu primeiro namorado.. e ver ele daquela forma, me machucava da mesma forma que sua partida.

"Não espero que você me entenda, mas espero que possa me perdoar" disse ele.
"Acho que você já está mais do que decidido, só esperava consideração de tudo que vivemos nesses últimos 4 anos" peguei minha bolsa e segurando a maçaneta disse "Adeus, David. Espero que você consiga se encontrar" - com lágrimas nos olhos e foi tudo o que conseguir dizer, parecia que tinha mais coisas pra falar, mas simplesmente não saia.

Foram essas as últimas memórias antes de eu acordar em um hospital. Não lembrava o que tinha acontecendo. Eu vi meu pai e Mary vindo até mim.

"Que bom que você já acordou, não sabíamos quanto tempo iria ficar dormindo" Mary disse aliviada por me ver acordada.
"Você não pode nos assustar desse jeito, Isabela?" Meu pai disse mum tom mais grave que o normal.
"O que houve?" Porque eu estou aqui?" Disse confusa.
"Houve um acidente.." - Mary começou - você estava indo pra casa, tinha acabado de sair da faculdade, quando um carro ultrapassou o sinal vermelho e colidiu com o seu"
Eu me assustei, minha cabeça doía, meu corpo estava dolorido. Não lembrava de muita coisa.
"A outra pessoa está bem?" - Disse assustada e preocupada
"Felizmente os dois estão bem, mas ele vai levar um belo de um processo" - meu pai disse bravo.

Eu acordei novamente algumas horas depois e Mary estava sentada na poltrona que havia ali, não me parecia muito confortável, mas estava feliz pela Mary estar ali comigo. Mary é da família, trabalha pra gente a anos e era muito próxima da minha mãe, sempre estavam juntas e era confidente da mamãe. Eu tinha sorte de tê-la por perto, nunca fui de ter muitos amigos, e ela era bem mais que isso, era como se fosse minha segunda mãe, é minha confidente também. Papai nunca falava dela, então Mary fazia isso por ele. Quando mamãe morreu de câncer, Mary sofreu muito, podíamos ver em seus olhos, quanta dor eles carregavam.

"Você precisa começar a se cuidar mais, o médico disse que você está muito desidratada, muito cansada e está com olheiras também.." Mary disse vindo em minha direção vendo que eu já tinha acordado e estava olhando pra ela.
"Esses últimos dias não foram nada fácil, sinto tanta falta do David"
"DIAS?" Recrutou
Olhei pra ela confusa, pra mim só se passaram alguns dias desde sua partida a Inglaterra.
"Meu amor, foram 3 meses, você estava tão fora de si que nem notou. Não come direito, não dorme, não aparece mais na empresa. Seu pai está tentando pegar leve com você porque sabe que você está triste e como você esta estagiando não tinha um serviço que exigia muito, mas a faculdade mandou um e-mail e disse que você deixou de entregar alguns trabalhos e esta quase reprovando por falta"
"Eu tô tentando continuar Mary, mas está muito difícil, eu não sei o que fazer, estou sem rumo, sem chão, estou desolada." - não conseguindo mais segurar as lágrimas, desabei ali mesmo, diante da Mary. Esse era um choro diferente, de aceitação. Ele foi embora não havia mais o que fazer.
"Você é forte igual a sua mãe, e vai conseguir seguir a diante"
"Eu não sei como, Mary, me sinto péssima"

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