Excerto 8: Original

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  2019

  Luan estava deitado na cama, o celular próximo. Luzes apagadas.

  Peguei o celular, abri o grupo, algumas mensagens. Daniela tinha alguma coisa, não vi o que, mas levou a algumas respostas e comentários. Cliquei na barra de mensagens... Desisti. Fechei o aplicativo, coloquei o celular ao meu lado de novo. Um frio solitário vagou por minha espinha, arrepiou cada pelo em minha epiderme. Fechei os olhos. Era uma sensação boa, surpreendentemente boa. Um gelo em cada nervo.

  Um violino tocando em conjunto a uma guitarra chegou aos meus ouvidos. Era o meu toque, um pouco peculiar, mas eu curto. Peguei ele, olhei o nome só por hábito, já sabia quem era. Lúcia. Algo que aconteceu uma vez e virou um hábito. Acendi a luz e atendi.

  _Luan!!!! E aí?

  _Muito bem, e você?

  _Bem...

  _Que que a Elis mandou agora?

  Dei uma risada que foi correspondida. Sempre odiei ver o meu rosto na vídeo chamada. Ela tava sentada numa escrivaninha, fazia uma tarefa ao mesmo tempo.

  _Ah, cara, cê acha que eu tô fazendo certo?

  _Depende, eu disse pra você deixar no e se. Ela te ignorou, ignora de volta.

  _Ai, ela respondeu a mensagem e eu...

  _Que você mandou a três dias.

  _Não importa, ela disse que...

  _Em quanto tempo você respondeu?

  Ela fez uma pausa, me encarou brava. Não me intimido fácil não, encarei de volta.

  _Na mesma hora.

  _E ela?

  _Não visualizou, mas ficou online por um tempo e saio.

  _Ah, Lúcia!

  _Para! Você sabe que não é assim.

  _É sim, foi só algo casual, ela não...

  _Ela disse que também foi a primeira dela, e foi tão bom...

  Ela parou, ficou olhando para algo que eu não enxergava, tinha um sorriso bobo em seu rosto. Suavizei mais a voz.

  _Você tem que dar mais valor a si mesma. Cê é bonita, é legal... Tarada.

  Ela riu, eu também. Gosto de como ela ri fácil para essas coisas. É uma sensação boa os tímpanos vibrando numa risada que você mesmo provocou, muito melhor que ser a pessoa rindo.

  _Ah, para, eu não caio nessa Luan!

  _Mas é verdade.

  Se ela vir me perguntar de novo se ela é bonita, eu vou bater nela. Bater não, claro, mas vou gritar um pouco.

  _Tá bom... Mas é que você ainda não sentiu, é muito bom, se acontecer de novo, vai ser tão bom.

  _Você gosta de falar bom... Mas você tem certeza que ela não mentiu quando disse que você foi a primeira?

  _Não parecia ser mentira... Mas... Mas quando eu tava andando lá com ela e com a Rebeca na cidade lá, eu esqueci o nome, sabe aquela...

  _Sei.

  _Então, “nois” tava na rua, andando... E do nada um cara que tava parado com uma moto buzinou. Eu fiquei com um pouco de medo, mas a Elis foi lá falar com ele. O cara era mais velho, ela conhecia ele. Eles falaram um pouco, ela voltou e não respondeu quando perguntamos quem era.

  Ela estava com o olhar perdido. Queria ver o que ela estava vendo.

  _O que que você acha disso?

  Não estava preparado para essa pergunta. Precisava dizer algo convincente, que só parecesse sincero. Mas nem eu tenho certeza do que penso. Entre o que parece e o que realmente aconteceu pode ter um vão enorme, e eu não conheço nada da garota, não gosto de julgar sem ter conhecimentos básicos pra me colocar na pele de alguém. Mas precisava dizer alguma coisa... Ou não...

  Apaguei a luz, cheguei bem perto do celular.

  _Meus pais acordaram, nós nos falamos amanhã, ok?

  Não esperei a resposta, desliguei a ligação. Coloquei o celular na bancada e me deitei pra dormir. Demorei, como sempre, minha mente é bem ativa, faz tempo que não tenho uma boa noite de sono.

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