Azar Persistente

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-Eu acho que eu quebrei a promessa de não me apaixonar...

Enquanto Cecilia deixou a confissão escapar de seus lábios de forma calma, Luana ficou em pânico. Os olhos arregalados enquanto ainda dividia a cama com a garota mais velha entregavam isso. Ela simplesmente não sabia o que dizer e/ou fazer. Parecia até uma brincadeira de mal gosto da mineira, como muitas que ela já tinha feito antes, só que dessa vez com um toque um pouco mais real, quase como de verdade.

-Foi mal, eu não devia soltar isso assim do nada. Me perdoa.

Luana permanecia em silêncio mesmo depois do pedido de desculpas de Cecilia; o que ela devia fazer? O que devia responder? Nunca nem tinha cogitado a ideia de se apegar a garota dessa maneira. Gostar de Cecilia mais do que somente sexo? Surreal.

Apesar da paulista querer escutar algumas explicações ou talvez até alguns exemplos de quando elas se conectaram de maneira tão profunda pra que uma chama se acendesse dentro de Cecilia, ela sabia bem que agora não era hora. Era noite de seu aniversário, ela tinha um namorado, esse por sinal que estava dando uma festa em sua homenagem, mas ela estava na cama com uma garota que conheceu em uma festa qualquer. Quando realizou isso, Lu percebeu que talvez as coisas entre as duas estivessem mesmo um pouco estranhas.

Mas não podia. Era só isso que passava na cabeça da mais nova. Não podia de jeito nenhum imaginar ou cogitar qualquer relacionamento com Cecilia, na verdade qualquer sentimento, mesmo que apego. Como poderia informar aos pais que estava apaixonada por Cecilia, uma garota? Fora de questão.

De supetão, a estudante de psicologia se levantou da cama e começou a recolher suas roupas espalhadas pelo quarto e as vestindo rapidamente. Ela estava fazendo exatamente o que precisava: fugindo.

A mineira observava tudo ainda deitada em sua cama. Assim como Luana, ela não sabia o que fazer. Observou a menina se vestir sem dizer uma palavra; um silencio ensurdecedor de tão desconfortável tomou conta do studio. Cecilia não queria se sentir tão vulnerável, mas tinha aberto o coração de certa forma e a resposta tinha sido uma das piores possíveis.

Não devia ter dito nada daquilo. Luana veio atrás dela, ela finalmente estava 'por cima', no controle da situação, mas mandou tudo pro espaço quando cogitou em voz alta ter se apegado. Coisa que de fato tinha feito, mas Lu con certeza não precisava da confirmação total.    

-Lu...  - Chamou levantando da cama e pegando uma camiseta jogada num canto.

-Cecilia, eu tenho que voltar pra minha festa de aniversário; isso aqui foi um erro. Meu deus! O que eu tava pensando? - Disse passando as mãos pelos cabelos e respirando fundo antes de recolher os pertences pessoais.

-Olha, eu falei errado, eu quis dizer que sua amizade... eu gostei, mas aí quis te dar espaço e...

-Para! Só para! Para de falar! - Luana pediu com tom de voz alto. Não queria e nem precisava escutar explicações. - Isso aqui nunca aconteceu, tá bom?

-Tá bom.

Cecilia não teve mais nenhuma opção que não fosse concordar baixo e observar a garota sair pela sua porta sem nenhum tipo de despedida. Sem um 'adeus', ou um beijo de despedida, ou um 'vai se foder'. Nada. Cecilia não recebeu nada.

Recebeu um belo chute na bunda que a fez sentar no sofá da sala e derrubar algumas lágrimas. Estava triste, mas nem ao menos podia pontuar a razão. Não sabia se era pelas palavras rasas e duras de Luana, ou se pelo descuido que teve com esse relacionamento, ou até mesmo pela situação que tinha se metido. Errou feio.

Luana esperava pelo Uber com a cabeça transtornada. Tinha errado em ter saído da SUA festa de aniversário pra ir atrás da mineira; que idea! Depois se entregou completamente e teve provavelmente uma das melhores aventuras sexuais da sua vida. Mas tudo isso enquanto ainda tinha Arthur na jogada, porem sequer pensou nele quando sentia os lábios de Cecilia em seu corpo. Não devia ter feito isso, não devia.

SORTE    |||   Romance LésbicoOnde histórias criam vida. Descubra agora