Emily
Fiquei paralisada na porta, minhas pernas não me obedeciam.
Eu não queria acreditar no que meus olhos viam.
Nicholas Scott, um fantasma do passado, que há anos eu não via nem ouvia a respeito, estava ali diante de mim.
Minha respiração ficou escassa. Minha boca secou. Minhas mãos suavam. Meu coração errou algumas batidas. Várias batidas.
Ele mexia no celular, sentado na cadeira que ocupava a cabeceira da enorme mesa da sala de reuniões, mas quando ouviu o barulho da porta se abrindo, ergueu a cabeça e seus olhos encontraram os meus na mesma hora.
Uma corrente elétrica percorreu todo meu corpo, e eu me senti tonta, me apoiando na primeira coisa que vi, nesse caso, em Smith, que permanecia com a mão na maçaneta da porta, esperando que eu entrasse.
Nos encaramos pelo que pareceu uma eternidade, até que Smith quebrou o silêncio, fazendo as devidas apresentações.
Ele apertou minha mão e meu coração novamente errou algumas batidas. Senti um frio percorrer minha espinha. Foi um aperto firme, até mais que o necessário. Senti meus dedos doerem um pouco, desconfortável.
- Você está atrasada - ele disse, parecendo irritado.
Ele tinha um ar de superioridade, como se todos ali presente devessem beijar o chão que ele pisa, e isso me irritou.
Como ousa?
- Desculpa, mas não me lembro de ter marcado reunião com o senhor, sr. Scott - eu disse, erguendo uma sobrancelha, desafiando-o.
Ele apertou o maxilar, contrariado, e estreitou os olhos.
- Não tenho culpa se a sua comunicação com seu sócio é ruim. Smith estava sabendo da reunião, o próprio agendou comigo - ele lançou um olhar acusador a Smith, que estava de pé ao meu lado.
Além do ato deselegante de se convidar para uma reunião de última hora, ele ainda tem a ousadia de insultar meu funcionário. Pelo visto, ainda é o mesmo Nicholas Scott mimado que conheci anos atrás.
Smith lançou um olhar mortal para Nicholas. Mas por fim encolheu os ombros e desculpou-se.
- Sinto muito srta. Grey, acho que entre um compromisso e outro acabei esquecendo de lhe avisar que o sr. Scott viria.
Olhei para Smith que parecia realmente arrependido, e suspirei.
De nada adianta discutir com um potencial cliente. Afinal de contas, o consumidor tem sempre razão. Somado ao fato de que o cliente é meu ex-noivo, cuja relação não terminou muito bem, eu realmente não estava em condições psicológicas de interpelar.
- Tudo bem Smith, foi realmente um longo dia - disse. - Pois bem, sr. Scott, já que estamos aqui, podemos prosseguir, sim? Por favor sente-se - pedi, apontando para uma cadeira.
Ele me olhou desafiador e se sentou novamente na cadeira da cabeceira, sabendo que ali seria o lugar do anfitrião. Eu preferi não discutir. Tinha que medir minhas palavras, pois ainda estava abalada com aquele reencontro não planejado e estava usando todas as minhas forças para não dar meia volta e sair dali correndo para o mais longe possível.
- Sr. Scott, para nós da Goldman Grey Berg seria uma honra representar sua empresa - falei, tentando colocar meu melhor sorriso no rosto.
- Não sei se posso dizer o mesmo, srta. Grey. Fiz uma breve pesquisa e soube que sua empresa não está num bom momento. Tenho alguns amigos que inclusive rescindiram contrato com vocês recentemente - Nicholas foi direto ao ponto.
Ele parecia bem relaxado em sua posição. Sorriu de lado, como se estivesse vencendo uma guerra que eu nem sabia que havíamos travado.
Engoli em seco.
Sabia que estava certo. Mas também sabia que teria que responder muitas vezes àquele argumento de agora em diante, se eu quisesse conquistar a confiança dos clientes.
- E veio fazer o quê aqui, então, rapaz? - Smith murmurou, ajeitando-se na cadeira onde estava, visivelmente incomodado.
Arregalei os olhos, e tossi falsamente, torcendo para que nosso convidado não tivesse ouvido.
Nicholas não pareceu se abalar com o comentário de Smith, então continuei.
- De fato, sr. Scott, tivemos um recente problema administrativo que nos levou à perda de alguns de nossos clientes, infelizmente - expliquei.
A essa altura não era segredo para ninguém que nossa empresa vinha enfrentando problemas. Uma das maiores em advocacia de Seattle, certamente não passaria despercebida.
- Mas nossa empresa é uma das maiores e melhores no que faz, uma das poucas com expressiva representatividade em mais de um estado no país. E posso lhe assegurar que o problema será passageiro, vim pessoalmente de Nova Iorque para garantir isso. - disse orgulhosa.
Ele pareceu pensar por alguns segundos, olhando de Smith para mim cauteloso. Aquilo parecia uma partida de poker onde ele analisava se estávamos ou não blefando.
Eu só conseguia pensar em como, diabos, ele não parecia recordar-se de mim, mesmo assim tão perto, mesmo ouvindo a minha voz. Seria blefe?
- Pois bem - disse ele. - Darei a você uma chance por sua reputação e por ter sido muito bem recomendada por alguns conhecidos do ramo.
Daria uma chance a mim? À empresa, ele quis dizer.
Foco, Emily, foco.
- Prepare o contrato, srta. Grey. Irei analisar sua proposta e entrarei em contato assim que decidir - ele disse, como se estivesse dando uma ordem a um subordinado seu, levantando-se calmante, encerrando a reunião.
Até que foi fácil.
Smith e eu também nos levantamos.
- Me avise assim que estiverem prontos. O quanto antes, pois tenho urgência em fechar alguns acordos comerciais e precisarei de sua assessoria - ele ordenou. De novo. - Agora se me dão licença, estou indo. Tenho coisas importantes a tratar.
- Claro, sr. Scott - disse. - Avisaremos assim que os papéis estiverem prontos. Smith, pode acompanhar o sr. Scott, por favor? - pedi.
- Claro - Smith assentiu, entredentes.
- Mais uma vez, foi um prazer - falei, estendendo a mão para ele.
Ele me olhou bem fundo nos olhos, parecia que tentava enxergar minha alma, e acho até que conseguiu. Apertou minha mão com força antes de responder.
- O prazer foi todo meu, srta. Grey.
Tentei retirar a mão, incomodada com o contato, mas ele segurou mais firme ainda e disse:
- Não me decepcione.
Decepcioná-lo?
Alguma coisa no seu tom de voz me fez parecer que aquilo era mais uma súplica pessoal que um simples pedido formal vindo de um cliente.
Assim que fiquei sozinha na sala de reuniões, consegui aos poucos voltar a respirar normalmente.
Nunca, jamais imaginei que encontraria Nicholas logo no meu primeiro dia em Seattle.
Na verdade, planejava passar essa temporada na cidade evitando a todo custo encontrá-lo e voltar sã e salva para Nova Iorque.
Agora ele seria meu cliente e teríamos que manter contato regularmente.
Quais as chances?
E sem dúvida o mais estranho em tudo isso: Nicholas agia como se simplesmente não se lembrasse de mim, de nós.
Como isso era possível?
Porque eu, com toda certeza lembrava. Do quanto éramos apaixonados. De quando decidimos que iríamos nos casar logo depois do baile de formatura do colégio. De como fizemos mil planos. Do dia em que precisei tomar uma das decisões mais difíceis da minha vida.
Se eu mesma jamais consegui esquecer e me perdoar pelo que fiz, como poderia ele ter esquecido?
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[DEGUSTAÇÃO] A Vingança Perfeita
RomanceComo se cura um coração partido? Emily Grey era muito jovem quando precisou escolher entre sua carreira e seu grande amor. E ela escolheu a carreira. Nicholas Scott nunca perdoou o fato de ter sido deixado no altar. Sentiu-se humilhado. Jurou se vin...