Capítulo 02

13.9K 1.2K 157
                                    


Emily

Acordei com a luz que vinha entrecortada pela cortina da janela do quarto. Me espreguicei algumas vezes sobre os lençóis macios de cama, até perceber que tinha companhia.

Olhei para homem deitado ao meu lado, em um sono profundo. Ben e eu éramos amigos há algum tempo, desde que nos conhecemos no bar do qual ele é dono, uma noite quando saía com um grupo de amigos. E descobri que éramos vizinhos. A química foi instantânea, e logo a amizade saiu da friend zone. Mas ambos estamos de acordo que relacionamentos não eram muito bem-vindos. O que tínhamos era mais uma amizade com benefícios.

Peguei o celular na mesinha de cabeceira para verificar as horas e resmunguei ao ver que já passava das dez da manhã. Precisava correr ou iria me atrasar para o almoço na casa da Sam.

Antes de levantar, porém, dei mais uma olhadinha no loiro ao meu lado. Ben era muito bonito. Do tipo que chamava atenção das mulheres por onde passava. Com um metro e noventa, seu corpo era puro músculo, fruto de horas na academia, que ele sempre tentava me levar, mas eu recusava educadamente. Musculação nunca foi meu forte, eu gostava mais de correr ao ar livre. Cabelos loiros que caíam um pouco na testa e um sorriso de molhar calcinhas.

Levantei sorrateiramente o lençol que o cobria e vislumbrar suas costas musculosas e tatuadas, e seu bumbum perfeitamente esculpido. Suspirei lembrando mais uma vez do compromisso que tinha com Sam, e a contragosto me levantei correndo em direção ao banheiro.

Tomei um banho rápido e escovei os dentes. No closet optei por uma bermuda jeans clara, uma camiseta preta e sandálias sem salto. Estava um calor agradável àquela época do ano, então optei por roupas leves. Prendi meus cabelos castanho escuro em um rabo de cavalo, e não passei muita maquiagem, apenas máscara nos cílios e um gloss clarinho.

No quarto, olhei uma última vez para Ben, que ainda dormia profundamente, me aproximei e lhe dei um selinho rápido.

Deixei um bilhete na mesinha de cabeceira, informando onde estaria e agradecendo pela noite anterior. Por segurança, Ben tinha uma cópia das chaves do meu apartamento, de modo que não me preocupei em deixá-lo dormindo.

Peguei minha bolsa e minhas chaves na sala e saí do apartamento pegando o elevador logo em seguida.

Meu telefone vibrou uma vez e o tirei da bolsa vendo se tratar de uma mensagem de Sam. "Saia já debaixo de seu vizinho gostosão e venha para cá imediatamente! Sua desnaturada pervertida!"

Ri da mensagem. Como ela sabia que eu tinha passado a noite com Ben? Sam me conhecia mesmo como ninguém.

Havia outra mensagem, desta vez do grupo do pessoal do trabalho, combinando uma comemoração hoje à noite, no bar de sempre, o do Ben. Respondi confirmando minha presença e saí correndo para não perder a hora.

Depois de dirigir por meia hora, cheguei ao apartamento de Sam e Adam. Toquei a campainha e a porta foi aberta após o segundo toque por uma Sam animada com um sorriso de orelha a orelha.

- Emms!!! - exclamou Sam, me dando um abraço exageradamente apertado.

Retribui ao abraço, sentindo um ossinho da minha coluna estalar.

Entramos ainda abraçadas e fomos até a sala, onde Adam brincava com Anna que estava confortavelmente sentada em sua cadeirinha cor de rosa para bebês.

- Anna, sua madrinha chegou - disse Sam olhando afetuosamente para sua bebê.

- Parabéns, doutora Grey! - disse Adam levantando-se e me abraçando.

- Obrigada - retribui, agachando-me em seguida para falar com a linda bebê de cabelos castanhos encaracolados e grandes olhos azuis à minha frente.

Imediatamente Anna deu um enorme sorriso banguela quando reconheceu a madrinha. Senti meu coração derreter. Retirei-a da cadeirinha e a trouxe no meu colo, sentindo a agradável fragrância de bebê, uma mistura de colônia, leite e baba que eu adoro.

Adam logo se dirigiu à cozinha para terminar de preparar o almoço enquanto, Sam e eu conversávamos no sofá da sala.

O apartamento de Sam era amplo, com paredes claras, pé direito alto e grandes janelas que davam uma boa visibilidade da cidade, pois ficava no décimo primeiro andar do prédio. Adam e Sam eram arquitetos e fizeram um excelente trabalho de planejamento. Eles tinham uma empresa de arquitetura e urbanismo juntos. Se conheceram ainda na faculdade e desde lá não se desgrudaram mais. O típico casal chiclete, prefeitinhos um para o outro, combinavam em tudo.

Apesar da sintonia entre eles, minha habilidade para ler pessoas, que aprendi ao longo de anos de profissão e de um Ph.D. em Ciência Comportamental, algo me diz que tem mais coisa nas entrelinhas, aquelas em letras miúdas no rodapé de um contrato, que não se encaixa, mas não cabe a mim julgar.

Após alguns minutos de conversa, expliquei os detalhes de minha promoção e Samantha me olhou boquiaberta e ao mesmo tempo preocupada.

- Seattle? - exclamou.

- Sim - respondi.

Conforme expliquei a ela, minha promoção vinha com um ônus: eu teria que cuidar da filial da empresa que ficava em Seattle, uma vez que o sócio que cuidava da mesma estava se aposentando e já estava afastado há alguns meses por motivo de doença. Minha missão seria basicamente arrumar a bagunça que ficou em sua ausência. A mudança seria temporária, somente tempo suficiente para organizar as coisas e voltar para Nova Iorque.

- Mas... Você sabe quem também mora em Seattle? - disse ela, cautelosa.

Assenti, sabendo exatamente o que ela queria dizer.

- Com quase quatro milhões de habitantes, fica meio impossível conhecer todo mundo por lá – brinquei tentando cortar o clima tenso.

- Sabe exatamente a quem estou me referindo, engraçadinha – bufou.

- Sim, eu sei – dei de ombros. – Mas não tenho com que me preocupar. Seattle é uma cidade enorme, a possibilidade de esbarrar com ele é mínima - disse, tentando convencer mais a mim mesma que a Sam. - Além disso, não fizemos questão de nos falar durante todos esses anos, por que agora seria diferente? E é por pouco tempo, logo estarei de volta.

- Emms, não sei, isso me parece carma - Sam disse.

Revirei os olhos.

Samantha era supersticiosa, acreditava em astrologia, carma e coisas bobas do tipo. Eu era pura razão e ela, emoção.

- Meninas, o almoço está servido! - Adam chamou da cozinha, me salvando da conversa que já estava me deixando desconfortável.

Não gostava de falar do que aconteceu no passado entre mim e uma certa pessoa cujo nome eu sequer ousava pronunciar.

Um passado que ainda doía, mesmo depois de todo esse tempo.

[DEGUSTAÇÃO] A Vingança Perfeita Onde histórias criam vida. Descubra agora