Sim

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Buljeong-ro, Bundang-gu, Seong-nam.
Naver Headquarter.



— O que é isso? O que está acontecendo? — o diretor responsável pelo Live Stream do Vapp ficou desnorteado quando de repente todas as suas câmeras começaram a exibir a comoção inesperada que se passava no Parque Olímpico naquele mesmo instante.

O estúdio inteiro parou estático diante dos monitores, assistindo lívidos a correria, pessoas caindo e sendo empurradas, gritos, fumaça negra e desespero. Era difícil de acreditar que aquela cena desastrosa se passava na cidade vizinha, à poucos quilômetros dali.

— Cortem a transmissão, agora! — ordenou num berro que fez sua assistente dar um salto de susto, a mesma rapidamente correu os dedos pelo teclado de seu computador e deu o comando para que a transmissão caísse, e no mesmo instante todos os dispositivos dentro e fora do país conectados àquele Live Stream foram desconectados.

— Ah meu Deus! — uma mulher no canto da sala se pôs de pé com as mãos no rosto em desespero. — Minhas filhas! Minhas filhas estão lá!

Ela saiu as pressas com o rosto encrustado de pavor e o diretor nada fez para impedi-la.

— Liguem para a polícia local e avisem do incidente. — instruiu num tom mais ameno tirando seus fones de ouvido e jogando sobre a mesa de trabalho. Ao lado de seu monitor havia um quadro exibindo a foto dele próprio ao lado de uma mocinha que não devia ter mais de quinze anos de idade, sorrindo espontaneamente.

O homem sacou o celular e deixou a sala, chegando no corredor ele encontrou o número que queria na discagem rápida e ligou imediatamente. Depois de lentos cinco toques ele foi atendido.

— Yuri-yah, você está bem, minha filha? — perguntou com a voz falha em preocupação.

— A-Appa foi horrível! Eu quero... quero ir embora! — ela chorava do outro lado da linha.

— Estou indo te buscar meu amor, fique longe da comoção. Appa está indo busca-la.


Infelizmente aquele não foi o primeiro nem o último pai que entrou em desespero por conta do desastre. Do outro lado da Coréia naquele mesmo instante, a mamãe Park caía em prantos, aflita tentando ligar para o celular do filho, do manager, de quem quer que pudesse lhe dizer que seu Jimin estava bem. A mesma assistia o Live Stream pelo celular quando viu as cenas pavorosas que em seguida foram cortadas.

Era como se ela pudesse sentir que algo de errado havia acontecido com seu filho. Um mau pressentimento que a corroía.

Céus como ela queria estar equivocada... mas infelizmente não estava.


...


Jungkook superou rapidamente seu estranhamento inicial quando sentiu Jimin escorregar de seus braços e, esticou-os automaticamente para impedi-lo de cair. Mas não conseguiu evitar que o namorado se estatelasse no chão, e não pôde sequer protege-lo do que veio a seguir: uma das figuras de preto conseguiu furar o bloqueio e chutou com força o rosto do cantor que apagou no mesmo instante.

Os olhos do maknae dobraram de tamanho encarando desacreditado o rosto apagado do moreno, mas seu torpor não durou mais que um segundo. Ele não esperou que o sangue fresco começasse a escorrer do nariz de Jimin para se agachar ao seu lado e erguê-lo nos braços. Sua voz chamava pelo namorado sem que sequer notasse, em desespero. Naquele ínfimo instante foi como se todos estivessem tão surpresos que pararam no lugar. Os seguranças deteram o agressor e o mesmo ainda ria escarnioso.

Jungkook levantou o olhar para o estranho e jurou nunca ter sentido tanto ódio na vida.

— Segurem ele. — entregou o corpo maleável de Jimin para Taehyung que conseguiu carrega-lo com ajuda de Seokjin que vinha logo ao lado.

Com as mãos livres, o loiro não esperou um milésimo de segundo à mais. Ele se lançou na direção do agressor surpreendendo os seguranças que não conseguiram impedi-lo, o maknae derrubou o homem no chão e ajoelhou-se sobre ele arrancando a mascara de seu rosto para olhar bem no fundo de seus olhos enquanto deferia socos com toda sua força contra o rosto do mesmo. Segurou o pescoço do homem firmemente com a mão esquerda e usou-se do punho direito para fazer o estrago, deferindo socos em potência total contra o rosto do desgraçado.

Jungkook perdeu a noção de quanto tempo gastou assim, mas de qualquer forma não estava com pressa.

Os nós de seus dedos estralavam de dor se chocando contra a mandíbula do homem, mas Jungkook não parou; o sangue já irrompia tanto de suas mãos quanto do rosto dele, mas Jungkook não parou; o estranho sequer ria mais, apenas se engasgava no próprio sangue, mas Jungkook não parou. Foram necessários dois seguranças e muita força bruta para tirar o idol ensandecido de cima do agressor e prendê-lo dentro da van com os demais que já haviam entrado.

O Jeon relutou num primeiro instante, mas logo o veículo arrancou com ele dentro. O maknae ainda tentava se situar sob o olhar pasmado de seus amigos.

— Ah meu Deus, Kookie... — Jin lamuriou apavorado quando viu as mãos do maknae e imediatamente pescou qualquer peça de roupa que haviam esquecido dentro do veículo e usou-a para secar o sangue com cuidado para não feri-lo ainda mais. Jungkook tremia e respirava com dificuldades e, se pudesse, certamente estaria espumando de raiva.

— Cadê ele? — sua voz saiu grave e seus olhos vasculharam o veículo à procura de Jimin.

— Ele foi levado para a ambulância de prontidão enquanto... enquanto você batia naquele homem. — Taehyung respondeu olhando para os nós dos dedos de Jungkook em carne viva. — Talvez devêssemos levar você também para o pronto socorro.

...

— ... então ele desmaiou antes de levar o chute? — Letícia perguntou pressionando os ferimentos delicadamente com o algodão mergulhado em uma solução antibacterecida que fazia Jungkook morder o lábio com força por conta da ardência.

— Sim. Ele ficou mole de repente e caiu. Aí aquele filho da puta apareceu e...

O garoto negou, suspirando fundo. A doutora lhe ofereceu um olhar de compaixão e depois voltou à sua função, jogou os algodões sujos na bandeja e usou-se de esparadrapo e gazes para fazer o curativo nas mãos do idol.

— Toda aquela comoção deve ter sido demais para ele, pobre coitado. — lamentou ela. — Eu vou levá-lo ao quarto do Jimin. Vocês fizeram bem em vir diretamente para o St. Mary, eu estou de plantão hoje o dia inteiro.

Jungkook concordou descendo da maca. A cortina que rodeava sua maca foi aberta revelando o pronto socorro do hospital que não por coincidência estava cheio, em sua maioria de garotas. Jungkook cumprimentou educadamente elas enquanto passava pelo saguão, algumas respondiam enérgicas e outras apenas acenavam. Pobres meninas, ficaram à mercê daqueles estranhos e se feriram.

O maknae já se preparava mentalmente durante o longo caminho até o terceiro andar, a imagem de Jimin naquele aventalzinho de hospital escoriado e desacordado numa maca com o soro plugado em seu braço martelava sem pena em sua mente. Mas quando de fato atravessou a porta do quarto não foi bem isso que encontrou.

O moreno ainda dispunha das próprias vestes, sentado na maca com um curativo pequeno no nariz e o bendito soro plugado no braço. Mas ele parecia feliz, cercado de seus amigos e rindo de alguma piada aleatória.

— O herói chegou! — a Dra. Letícia anunciou presunçosa e todos voltaram sua atenção à porta.

Herói? – Jungkook repetiu mentalmente.

Os bangtan então se puseram a aplaudi-lo alegres, inclusive Jimin que exibia um sorriso radiante no rosto. Jungkook deve ter feito uma careta e tanto porque os demais passaram a rir de si. O loiro se aproximou da maca parando de frente para Jimin e analisou de perto seu rosto, seu nariz estava inchado e um band aid escondia um pequeno corte na ponte do mesmo, e aparentemente já havia estancado o sangue porque não era mais possível ver o rastro carmesim sob as narinas. O nariz e suas bochechas estavam um pouquinho inchados, mas fora isso ele parecia relativamente bem.

— Você tá bem? —  perguntou preocupado.

— To com uma certa dor de cabeça, mas a morfina no soro me deixou bem grogue na verdade. — confessou indicando o braço direito plugado. — Estou muito grato de saber o que você fez tentando me proteger, Jagi. Foi muito corajoso, mas por favor não tente de novo. — segredou baixinho, abraçando-o de súbito. O maknae correspondeu hesitante, com medo de machucá-lo se o apertasse como bem queria. — Aigo! O que seria de mim sem meu cavaleiro de armadura reluzente para me defender? — completou em tom de burla, se afastando e o encarando com aqueles olhinhos brilhantes e sapecas.

— Eu geralmente sou contra agressões físicas. — Jin se manifestou chamando sua atenção. — Mas se você não tivesse pulado nele eu mesmo o faria! Que tipo de covarde chuta uma pessoa caída?! — completou daquele seu jeitinho comicamente passional, arrancando gargalhadas à esmo.

— Foi ação e reação. E admito, foi uma cena de cinema. Mandou bem, jovem! — Yoongi acrescentou fazendo o maknae negar rindo fraco.

— Isso não vai acabar mal pra gente? — o Jeon quis saber, de repente sentindo-se culpado pelo o que fez. Justificada ou não, ainda foi uma agressão física. Uma retaliação bem violenta.

— Se levarmos em conta as circunstâncias... duvido muito. — Taehyung respondeu despreocupado. — Ele fazia parte do grupo que invadiu e atacou o concerto. E pelo o que fiquei sabendo, boa parte deles foi detido pela polícia. Pode-se dizer que eles estão em grande desvantagem.

— Eu vi as armys lá embaixo, no... no pronto socorro. — Jungkook disse com um olhar cabisbaixo e sentido. — Muitas garotas, todas muito jovens... machucadas.

O clima então pesou um pouco.

— Algumas delas estão internadas nos quartos ao lado. — Letícia relatou com o olhar voltado à sua prancheta. — E... uma delas não teve tanta sorte.

O peito do maknae se apertou e ele buscou imediatamente o olhar da médica.

— Ela foi pisoteada e sofreu ferimentos graves.... ela está em coma agora.

— Quantos anos ela tem?

— Quinze.

Jungkook engoliu a seco. De repente sentindo-se impotente por não poder ter impedido algo assim à uma garota que só estava ali para assistir ao seu show. Ela era penas uma criança praticamente. Mais nova que ele... devia ir à escola, fazer cursinho, ter uma vida normal de uma moça daquela idade. E agora ela estava em coma... e sabe-se lá Deus quando acordaria! Isso estava tão errado! Quem poderia ter sido responsável por tanta maldade?!

— Ei... eu sei o que está pensando. — Jimin sussurrou chamando sua atenção e fazendo-o fita-lo nos olhos. — É uma pena realmente. Sentimos tanto quanto você, meu amor. Mas não foi nossa culpa.

— Poderia ter sido um de nós... poderia ter sido você. — retrucou com pesar na voz. Suas mãos fizeram a menção de segurar o rosto de Jimin, mas parou no ato quando viu o olhar estupefato do mesmo voltado para os seus curativos.

— Você se feriu. — constatou com o cenho franzido em preocupação, tomando as mãos do mais alto nas suas com cuidado. Jimin soltou um suspiro profundo e voltou à encará-lo nos olhos. — Vamos descobrir quem fez isso e por qual razão fizeram. Eu prometo. — garantiu com um olhar firme trazendo a palma esquerda do namorado para o seu rosto e recostando-se ali.

— Ah... a enfermeira que atendeu o Jimin-ah disse que ele teve uma súbita queda de pressão. — o líder lembrou de súbito, enquanto debatia algo aleatório com Jin ao seu lado.

— É mesmo, esquecemos totalmente de avisar. — acrescentou o hyung mais velho. — Não seria bom relatar para a Dra. Choi?

— Sim. Eu vou mandar uma mensagem para a Unnie, e assim que ela voltar de Incheon eu aviso vocês. — Letícia garantiu. — Por enquanto isso é tudo. Já assinei sua alta. — completou levantando a prancheta, parando ao lado da sua cama e fazendo o processo rápido de retirar o tubo da bolsa de soro já esvaziado. — Sente-se bem?

— Sim, Noona.

— Ótimo, já pode ir então. Só passar na recepção na saída. — aconselhou descartando a parafernhala em cima de uma bandeja de ferro. — Até mais, garotos!

— Tchau, Dra. Letícia.

A médica então adiantou-se para fora do quarto, os garotos por sua vez levantaram-se em seguida, se espreguiçando e bocejando, toda aquela correria exauriu-os muito. Jungkook então olhou de forma significativa para Namjoon que entendeu o recado e chamou os demais para deixar o quarto e dar um momento a sós para o casal.

— Ainda está usando o anel. — Jungkook comentou sorrindo pequeno ao fitar a mão miúda de seu hyung sobreposta à sua.

Jimin sorriu fraco e ergueu a mão esquerda a altura de seu rosto fitando ele mesmo a aliança em seu dedo anelar.

— Ainda é a mesma.. é como se nunca tivesse saído do meu dedo. — comentou nostálgico. — Foi o dinheiro de cachê mais bem gasto da nossa época de rookies também.

Jungkook tocou o metal ornamentado evitando o contato visual com Jimin e suspirou.

— Jiminie, acha que fui muito impulsivo?

Jimin tratou de erguer o rosto do amado e o fez fita-lo nos olhos.

— Por que? Você se arrepende?

— N-não! De forma alguma! Eu só... aigo! Eu não consigo ser... paciente quando se trata de você, meu amor, eu sou impulsivo e.. e... possessivo talvez, não sei! Eu não quis pensar nas consequências porque eu só queria fazê-lo meu, me ceguei a todo o resto. Quero você pra mim de todas as formas possíveis! É o que me move, é o que me faz feliz... ter você. Entende? Quero te dar meu sobrenome, quero dividir o resto da minha vida com você, Jimin... Já cansei das pessoas lá fora duvidando do meu amor por você, eles estão em toda parte e é sufocante! E-e apesar de eu ter lhe pedido tão logo em casamento tenha sido sim por urgência, para podermos registrar nossa filha juntos... não foi para provar nada para ninguém em momento algum. Eu na verdade já planejava desposá-lo à muito tempo, porque eu sempre quis isso pra nós. Eu só... eu apenas te amo tanto que perco toda a racionalidade em mim! Ajo feito doido, movido por impulso! — externou toda sua confusão mental rapidamente, ansioso e ao mesmo tempo hesitante, seus olhos varrendo o cômodo inteiro mas evitando os olhos alheios.

Permaneceram em silêncio depois disto, e Jimin não precisava ser muito minuncioso para perceber a insegurança tomando conta do olhar do amado. Sorriu comovido.

— Então sejamos loucos juntos. — respondeu tomando seus lábios de súbito.

Jungkook abraçou-o possessivamente e devolveu o beijo com paixão e ferocidade. Um beijo carregado de emoções, um beijo pelo qual esteve esperando o dia todo. Jimin lhe passava conforto segurando com força seus ombros e sua nuca, trazendo-o para perto e compartilhando seu amor no ato, Jungkook apertou o corpo minguado contra o seu afoitamente e logo tiveram de se separar por falta de ar. Colaram as testas e manteram os olhares cruzados, era possível ver o próprio reflexo nas pupilas alheias, foi tão íntimo, tão belo... tão louco.

— Ainda te devo uma resposta, certo? — Jimin lembrou, massageando seu escalpo carinhosamente, e os olhos do mais novo brilharam com mais intensidade, um bolo se formando em sua garganta.

Este era o momento que buscara com tanto afinco.

— V-você...

— Seria um tolo se não aceitasse. Sim, Jeon Jeongguk, eu me caso com você. — Jimin abriu seu sorriso mais radiante e Jungkook jurou que sentiu o chão se abrir embaixo de seus pés no mesmo instante. — Eu amo você e não, também não acho que precisamos provar nada à ninguém. Somos felizes assim e é o que importa.

Jungkook ignorou os ferimentos em suas próprias mãos e alçou o noivo nos braços rodopiando e rindo pelo quarto.

— Você disse sim... — estatou deslumbrado. — ELE DISSE SIM!!

Jimin ria apertando-se ao corpo do amado. Sentia-se tão feliz, tão completo. Era como se aquele pequeno circulo de metal fosse uma peça importante que faltava num enorme e complicado quebra-cabeça, quebra-cabeça este que a cada dia ficava mais completo. E muito em breve completariam juntos com a última peça...

Gyuri, agora só falta você.

...

Ao chegar em casa os garotos precisaram ainda retornar às ligações dos parentes e amigos próximos que ficaram sabendo do ocorrido, e garantir-lhes que estavam bem. Os pais de Hoseok até mesmo exigiram uma chamada de vídeo para ter certeza de que o garoto estava realmente bem e intacto. A mãe de Taehyung estava furiosa para dizer o mínimo, ela garantiu que pegaria o próximo voo para Seoul e daria “uma chinelada” nos responsáveis pela segurança do concerto por deixar aquilo acontecer.

— De, Jackson. Vou estar esperando então. Até mais. — Rapmon encerrava a ligação com o amigo Wang. — Jackson vai vir e trazer o pessoal, tudo bem?

Todos concordaram, seria bom se agregar aos amigos naquele momento. Porque graças à amizade de Namjoon com Jackson, todos acabaram se tornando muito próximos – para grande felicidade de JYP e Bang PD.

— Eu preciso de um banho, noivo. — Jungkook pontuou escorado preguiçosamente contra a mesinha de centro, com seu celular disposto sobre a mesma, havia acabado de trocar mensagens com os sogros e com o irmão.

— Vem, eu ajudo você meu noivo. — Jimin lhe estendeu as mãos rindo, Jungkook deixou que seu hyung fortinho o segurasse pelos antebraços e o pusesse em pé. Às vezes esquecia-se de como o namorado era forte.

— Ai ai, esses dois viu? — Jin ria negando consigo mesmo, assistindo abobado o casal deixar a sala juntinhos.

— Você devia estar deitado descansando. — lembrou o Jeon enquanto seguia o amado para dentro do quarto.

Jimin se voltou para ele e sorriu fraco negando.

— É tudo que eu tenho feito ultimamente. — respondeu parando à sua frente e começando à despi-lo desabotoando o seu blazer. — Eu fico entediado e solitário sem você aqui durante a tarde... em breve não precisarei mais, eu sei. Já até recebi o comunicado por email, eu... vou visitar os centros sociais mantidos pelo governo nas primeiras semanas e então vou poder escolher onde ficar. Mas acho que já me decidi.

— Já? Onde quer ficar? — quis saber estendendo os braços para que Jimin pudesse puxar as mangas da peça de roupa.

— No orfanato Hope.

Neste momento ambos silenciaram-se, parados frente à frente, com os olhares cruzados.

— Você... você tem certeza?

— Sim. — Jimin assegurou certo de si. — Mas não é o que está pensando. Eu não perdi a fé na saúde da nossa menina, eu só quero ter uma base de como se cuida de uma criança antes de dar à luz à minha própria. É conveniente. — riu fraco. — Não é a mesma coisa que cuidar do meu irmão então...

Jungkook pôde então respirar aliviado.

— Vai se sair bem, meu anjo.

— Obrigado, Jagi.

Jimin terminou de despí-lo ali mesmo e seguiu para o banheiro com as roupas em mãos sendo seguido por Jungkook. Depois de despejar as peças no cesto de roupa suja Jimin se livrou das próprias vestes e abriu o chuveiro, Jungkook entrou debaixo do mesmo evitando molhar os curativos, deixando os braços um pouco elevados e longe do jato d'água. Jimin recolheu a esponja de banho e despejou o sabonete líquido sobre a mesma antes de usá-la para esfregar o tronco do namorado.

— Seu nariz ainda dói? — o mais alto perguntou tentando abrir os olhos debaixo da ducha.

— Um pouco. Mas está quebrado, é normal. — respondeu focado em sua tarefa de limpá-lo. Jimin passou a esponja pelo seu pescoço e voltou sua atenção então para os braços levemente flexionados do maknae, trilhando os bíceps e antebraços, indo até os pulsos e então voltando, passando pelas axilas do mesmo e descendo pela lateral de seu corpo. A àgua corrente ajudava no processo limpando os rastros de espuma que a esponja deixava. — Sabe o tratamento que a Noona passou, pra ajudar os antibióticos a funcionarem?

— Sei, a hidroterapia.

— Isso! Então... a Letícia-Noona disse que pelo menos duas vezes por semana já faz efeito. — relatou se agachando com alguma dificuldade à sua frente e se pondo a esfregar a esponja pela extensão das suas pernas. — Eu pensei nas piscinas cobertas do condomínio, aquelas que ficam no terraço.

— Mas é verão, muita gente usa elas. — respondeu enquanto Jimin esfregava sem vergonha alguma o seu sexo, cuidadoso e prático como fazia consigo mesmo, puxando o prepúcio para trás e limpando com cuidado a glande e os arredores. Jungkook estremeceu de leve, mas era só porque aquela era uma região muito sensível.

— Falamos com o síndico, aí eu poderei usar a do nosso prédio à noite.

— A noite hm... não é má idéia.

— Viu? Não é uma ótima idéia? — Jimin empolgou-se voltando a ficar de pé. — Vire-se.

Jungkook fez como o instruído e Jimin continuou a lavá-lo.

— Claro que vou precisar de alguns espaguetes de espuma e alguém pra me ajudar. — dramatizou ficando nas pontas dos pés e apoiando o queixo no ombro do mais alto, Jungkook lhe lançou um olhar de canto e riu negando ao encontrar seus olhinhos pidões. Seu hyung conseguia ficar empolgado tal como uma criança às vezes.

— Eu providencio isso. Já tem alguém em mente? — brincou.

— Pode apostar que sim, meu noivo. — respondeu dando uma apertada no traseiro do maknae que riu gostosamente.

À uma espessa parede de distância dali, na sala de estar, o pessoal estava reunido e aproveitou para pedir uma pizza, ou no caso, algumas pizzas. Porque em breve estariam em quatorze, um número bem grande de garotos altos e parrudos – e uma vez que seu manager estava ocupado até o pescoço com assuntos do fatídico ocorrido daquela tarde era justo deixar suas fatias para quando ele retornasse.

À uma certa altura o celular de Jungkook solto ali tocara quebrando a conversa dos bangtan e Taehyung se prestou a atender.

— Yeoboseo? — saudou em sua voz naturalmente grave.

Ouve um momento de silêncio do outro lado da linha e então uma voz feminina já de idade se pronunciou:

— O-oi, aqui é EunHa. Este é o celular de Jeon Jeongguk?

— Desculpe, mas acho que fo..

— Perdão, eu sei que não pode me confiar esse tipo de informação pra qualquer um mas... por favor Taehyung-ah, preciso da sua colaboração, tá?

Os olhos do vocalista cresceram de tamanho e ele se afastou para continuar a ouvi-la.

Os demais garotos não deram muito valor para a ligação porque no instante seguinte Im Jaebum interfonara seu apartamento anunciando sua chegada. Em questão de poucos minutos os membros do Got7 já atravessavam a entrada do apartamento trazendo sacolas de take out e bebidas de uma loja de conveniência.

— Não precisavam. A gente pediu pizza. — o líder do BTS disse coçando a nuca.

— Não tem problema, a gente come também. — Mark garantiu já tirando os calçados e se fazendo em casa.

Riram descontraidamente e os demais foram adentrando também. Já familiarizados com o ambiente, não era a primeira vez que reuniam-se todos ali, com o tempo Got7 e BTS pareciam mais como uma só boy band – uma versão menos R&B que o EXO talvez. Yugyeom, como sempre o mais acanhado, se curvara brevemente entrando por último e fechando a porta atrás de si. Todos se cumprimentaram animadamente e empurraram a mesa de centro abrindo mais espaço para o pessoal e trouxeram alguns puffs confortáveis dos quartos.

— Cadê o casal melosinho? — BamBam quis saber abrindo uma latinha de energético.

— Tomando banho juntinhos. — Hoseok respondeu fazendo sua melhor expressão de malícia e os demais riram.

— Putz, não dá pra acreditar que vão se casar! Vocês já sabiam disso?

— É, eu sei. Nós ajudamos na surpresa. — Hoseok estava muito orgulhoso de si mesmo.

— E nós seremos os próximos, certo? — Jackson brincou passando o braço sobre os ombros de Mark.

— Dependendo dos quilates na minha aliança eu penso no caso.

Isso, é claro, acabou em mais algazarra.

— E eles estão bem? — Jaebum perguntou se acomodando num puff ali perto. — Inteiros pelo menos?

— O maknae fodeu com os punhos socando a cara do covarde que quebrou o nariz do Jiminie, fora isso nada muito sério. — Suga respondeu tranquilo. — Embora tivemos algumas dezenas de fãs indo parar no hospital.

— É, eu fiquei sabendo. Triste mesmo.

Não demorou muito para que o dito casal se juntassem à eles na sala. E foi aí que a coisa ficou tensa, para dizer o mínimo.

Jimin e Jungkook foram pegos desprevenidos, não sabiam que os convidados haviam chegado e não haviam notado até o momento em que pisaram na sala e todos aqueles rostos se voltaram para si. Jungkook vinha na frente com uma tolha de rosto em volta do pescoço secando os ouvidos e Jimin vinha logo atrás trajando uma de suas camisetas já bastante esticadas pela circunferência grande da barriga, deixando-a bem evidente.

Quando deram por si já era tarde demais.

Todos viram a barriga impressionante do gestante. Ninguém soube ao certo o que pensar e à principio os convidados tentaram não ser rudes e apontar o óbvio, no caso a saliença de circunferência perfeita de Jimin, até que Mark resolveu abrir a boca.

— Cê anda bebendo Chopp demais meu amigo. — comentou deitando um pouco a cabeça e analisando a barriguinha de Jimin do novo ângulo.

O gestante, mesmo sendo míope e estando sem seus óculos ou lentes, conseguiu distinguir cada um dos membros do Got7 ali e ficou pasmo. Olhou para o namorado em busca de apoio e em seguida para os seus amigos, estavam todos lívidos, estáticos. Mas elaborar uma mentira ali de momento, e ainda conseguir fazer com que todos os bangtans seguissem o baile de forma convicente, seria muito dificil porque os demais garotos não seriam burros o bastante para acreditar. Por isso Namjoon decidiu que o melhor era contar a verdade mesmo. Eram de confiança, afinal.

— Certo. — o Kim líder quebrou o silêncio se colocando de pé e parando ao lado de Jimin. — Não sei como dizer isso para vocês, mas... por favor tentem manter as mentes abertas. E mantenham sigilo.

Os Got7 se entreolharam e concordaram voltando sua atenção à Namjoon.

— Jimin está grávido.

Houve um momento de denso silêncioso, os garotos muito ebasbacados para acreditarem naquilo.

— É O QUÊ?!

...

Foram necessários laudos médicos detalhados e até mesmo algumas ultrassonografias para explanar aos amigos o caso. Foram desde o começo da história, explicando que Jimin era a verdade intersexual e como isso funcionava, para por fim chegarem ao tópico gravidez. E por fim estavam todos pasmos, surpresos demais com a notícia. Alguns deles ainda nem sabiam o que pensar direito, mas foram todos convencidos com sucesso da veracidade da gestação. Só a barriga de Jimin já era uma prova conclusiva o bastante! Afinal era muito natural, muito real, a pele estava esticada e mais lisa em alguns pontos, o umbigo saliente saltando pra fora e ainda havia aquele volume mais rígido sob a pele que dava para ser sentido ao apalpar, claramente o bebê ali dentro.

Mesmo sendo informação demais para um dia só, eles até que estavam aceitando de forma positiva a novidade. Pois agora, graças a explicação bem elaborada de Namjoon, pelo menos tinham a certeza de que aquele fenômeno era biologicamente possível, como gêmeos siamêses ou o nanismo. Era um pouco bizarro, mas real.

E não era também nenhuma pegadinha.

— Posso tocar outra vez? — Jackson perguntou animadamente e foi o que bastou para retirar os demais de seu torpor. Todos no fundo queriam sentir outra vez a pequena Gyuri ali dentro.

Jimin apenas riu concordando.

— Uau! — exclamou o mais velho, admirado, enquanto massageava com cuidado a barriga do gestante. — O que é isso aqui? — perguntou passando a mão em cima da leve lombada do lado direito da barriga.

— É a cabeça dela, Gyuri está virada nessa posição faz dias já. — explicou assistindo o rapper rir como uma criança massageando sua barriga.

— Como é... passar por isso? — Jinyoung perguntou deslumbrado. — O que você sente?

— Geralmente muita azia. — riu-se ao confidenciar descontraído. — A doutora disse que é porque ela tem muito cabelo e fica me fazendo cócegas pelo lado de dentro. Às vezes ela se mexe também... mas Gyuri é muito preguiçosa, e eu só consigo notar a diferença de uma ultrassonografia pra outra. Mal sinto ela se mover dentro de mim...

— Ok, mas tem certeza de que não são gases? — Bambam brincou apenas para descontrair.

— Eu pensei a mesma coisa quando eu vi! — Taehyung concordou e ambos riram cúmplices.

— E o que mais? — Yugyeom também se mostrou bastante interessado em saber mais. — O que acontece com seu corpo? O que muda?

— Bom... quanto mais a barriga cresce mais dor eu sinto nas costas, e meus pés incham... e às vezes dá sim gazes. — segredou corado, fazendo-os rir e Taehyung ainda gritar um "eu sabia" do outro lado da sala, Jimin ainda conseguiu acertá-lo com uma almofada. — Eu como bastante... mais do que jamais comi, na verdade. Fico nauseado muito facilmente, às vezes pode durar um dia inteiro, as vezes só uns minutinhos. Deixa eu ver o que mais...

— As roupas. — Jungkook lembrou.

—  Ah, é mesmo! Eu estou perdendo todas as minhas roupas. As Cordi Noonas estavam me vestindo com roupas feitas sob medida pra esconder a barriga. — explicou e todos concordaram que haviam notado isso recentemente. — Eu também fiquei mais lento, sonolento e emotivo. E tem mais uma coisa, bexiga. — listou calmo e, ao concluir, levantou-se com ajuda do noivo que estava ao lado. — Isso me lembra que estou apertado para ir ao banheiro. Licença, pessoal.

Acabaram por rir da pressa de Jimin em correr para o banheiro. Jungkook, por sua vez, tentou reprimir os pensamentos ousados que o invadiram ao lembrar da bexiga apertada de Jimin que lhe rendeu a cena mais erótica na cama na última semana. Precisavam repetir a dose.

No fim das contas a noite se seguiu alegre e agitada. Comeram as pizzas como esfaimados que não viam comida há dias, e ainda sobrou espaço para os pratos mais pesados que os convidados haviam trazido – os quais Jimin preferiu não arriscar, pois comida pesada à noite lhe trazia mais azia e enjoôs na certa. Conversaram e até mesmo colocaram um filme no projetor de Yoongi, mas no final das contas estavam tão absortos nas conversas paralelas que mal deram valor ao filme de ação se passando na tela que tinha duas vezes o tamanho da televisão.

—  Posso? — Yugyeom finalmente tomara a liberdade para pedir à Jimin, dentre todos ele foi o mais acanhado à tocá-lo.

— Tocar minha barriga? Claro.

Estavam ambos sentados no sofá, tentando prestar atenção no plot do filme enquanto os demais guerreavam com o milho de pipoca. O maknae espalmou com delicadeza a barriga do gestante que riu com as cócegas.

— Quantos meses disse que eram?

— Acabei de completar cinco.

— Ah...! Sua barriga está tão... fofinha. — elogiou e ambos riram baixinho. — E ela já chuta?

O sorriso de Jimin morreu, mas ele se esforçou para superar o gosto amargo na boca e voltar a sorrir cordialmente.

— Não. Ainda não.

Não quis explicar com riqueza de detalhes todos os seus problemas, o garoto não viera para escutar seus impasses de vida mesmo.

— Ela deve ser tão pequena e adorável... — comentou absorto. — Por favor me deixe vê-la quando nascer.

— É claro.


Quando se deram conta já era tarde da madrugada e os garotos já estavam exaustos. Sob uma bronca ou duas do manager os Got7 tiveram a permissão de passar a noite do dormitório do BTS, os cantores juntaram os colchões de ar e futons espalhando pela sala e no final das contas misturaram-se e se puseram a dormir – quase – todos ali mesmo. Jimin ressonava no sofá quando Jungkook o alçou com alguma dificuldade no colo, por conta dos ferimentos nas mãos, e levou-o ao quarto, deitando-o na cama. E bastou isso para o gestante abrir os olhos.

— Onde estão todos?

— Dormindo na sala.

— Hm...

O maknae entrou no banheiro da suíte deixando a porta aberta atrás de si e ergueu a tampa da privada, baixou os shorts e tentou mirar na água pra urinar.

— Que droga! — resmungou sentindo as mãos latejarem de dor.

— Hm... precisa de uma mãozinha? — Jimin apareceu coçando os olhos preguiçosamente, apoiado no batente da porta.

— Amor, pode segurar pra mim? — pediu indicando seu membro.

Jimin sorriu com os olhos meio fechados e assentiu. O mais velho se aproximou e apoiou-se preguiçosamente em si antes de segurar seu pênis e apontá-lo para a privada. Jungkook suspirou aliviado conseguindo finalmente urinar, mas como quase sempre seu pênis parecia ter vontade própria e ainda conseguiu escorrer um pouco para os dedos de Jimin.

— Desculpe, Jagi. — pediu constrangido enquanto secava-se e acionava a descarga.

— Normal. — respondeu o outro bocejando e lavou as mãos.

Ambos se apoiaram na pia e Jungkook colocou creme dental em suas escovas, ficariam ali em silêncio escovando os dentes um de frente para o outro. Praticamente se admirando mutuamente. À uma certa altura ambos com a boca cheia de espuma e bochechas inchadinhas se engasgaram rindo um da cara do outro.

— Infantil! — Jimin lavara a boca e riu-se da cara de Jungkook um pouco mais.

— Muito maduro você! — retrucou de boca cheia e logo então lavou-se.

Se bicando e rindo os dois deixaram o banheiro e se jogaram na cama, cansados. Jimin abraçou o tronco do namorado deitando a cabeça no peito do mesmo e Jungkook ajeitou-se com ambas as mãos em torno de seus ombros.

— Acha que o manager vai ficar bravo por contarmos? — Jimin perguntou com a voz fraca e sonolenta.

— Ah ele vai. E o Bang PD também.

Riram baixinho aconchegando-se mais um ao outro.

— Ainda bem que tenho você pra me proteger da ira deles.

— Pode apostar que sim.


...


— Se acham que vamos deixar isso barato estão terrivelmente enganados. Haverá retaliação, e não vamos poupar esforços!


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