Capítulo 1

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Suspiro ao ouvir a batida na porta do meu quarto, e falo para a pessoa entrar. Lilian Sorrentino coloca a cabeça para dentro apenas, e eu olho em seus olhos azuis gelo, uma réplica fiel dos meus. A única diferença entre nós duas era seu cabelo castanho escuro, bem diferente do loiro claro que eu havia herdado do meu pai. Ela me oferece um sorriso claramente falso.

"Já tem tudo planejado para hoje à noite, Mia?" Questiono, e eu concordo com a cabeça. Após apenas dois dias de volta na casa dos meus pais, eles estavam planejando um baile em comemoração a minha volta. Não que eles estejam felizes que eu retornei... Não estão.

Assim que pisei na Austrália, vi algumas ligações perdidas dos meninos, mas bloqueei tudo. Apaguei os registros e as mensagens sem ler, e configurei meu telefone para não receber mensagens de nenhum dos quatro números. Trazia um aperto no peito, mas eu precisava disso urgentemente. Sem ligações mensagens... nada.

Falei com meus amigos, porém, e todos estavam cientes de onde eu estava e porque fui embora. Meus pais queriam sua filha de volta na escola, obviamente, mas eu insisti que seria apenas por um tempo, e que minha vaga em Gotville não seria prejudicada. Nenhum deles insistiu muito, mas eu sabia que não era porque eu pedi. Os dois tinham segundas intenções para me manter aqui, e eu sabia muito bem quais eram.

"Muito bem. Clarissa vai chegar com seu vestido daqui a pouco." Lilian diz, e eu assinto mais uma vez, lembrando da empregada da minha mãe. Era uma mulher mais nova e educada, apesar de bem comprometida com o seu trabalho. Nuna conversamos muito.

Minha mãe se afasta, e nesse momento meu celular apita. Mesmo sabendo que não era nenhum dos meninos, meu coração acelera. Pego o aparelho, e, para a surpresa de absolutamente ninguém, não eram eles. Mas, mesmo assim, um sorriso aparece em meu rosto com a mensagem de Kristen.

K: Acabei de descobrir que você está na cidade e não veio me ver. Você tem uma hora até que eu vá aí arrastar-lhe pelos cabelos.

Dou uma risadinha e imediatamente respondo que já planejava ir hoje. Valerie deve ter contado, como eu imaginava que faria. De qualquer forma, eu realmente já planejava ir até lá, então coloco meu chinelo e pego a chave do meu carro antes de sair do quarto.

O meu carro era, na verdade, da minha mãe. Mas ela raramente usava, então era praticamente meu quando eu estava na cidade. Era um Audi R8 branco, e eu gostava bastante, apesar de não ser verdadeiramente meu. Claro, não seria a minha primeira escolha de cor, mas eu gostava mesmo assim. Não havia muito do que reclamar.

Não falo para meus pais que estou saindo, porque sei que não vão dar duas merdas para isso, mas paro para avisar a Tomps. Ganho um beijo na bochecha do homem e entro no carro, saindo da garagem e dirigindo tranquilamente pelas ruas de Sydney.

Alguns minutos mais tarde, estou parando na frente da casa dos Hale e pego a minha chave no bolso. Sorrio assim que entro e sinto cheiro de laranja. Kristen fazia os melhores bolos de laranja do século.

"Mia!" Sou quase jogada no chão com seu abraço, e solto uma risadinha, envolvendo meus braços ao redor dela também.

"Também senti sua falta." Falo, e ela se afasta um pouquinho para me analisar.

"Você está mais magra? Está comendo direito? Vem, fiz bolo." Fala, pegando minha mão e me puxando com ela para a cozinha. Dou um sorrisinho torto divertido, mas deixo que me leve.

Sentamos na mesa da cozinha, onde Kristen coloca um prato com um grande pedaço de bolo na minha frente. Se senta comigo também, e me olha ansiosa enquanto começamos a comer. Sabendo o que ela queria, começo a contar-lhe sobre tudo que vem acontecendo nos últimos meses.

Deixo a morte de Ruby e os segredos da realeza de lado, porque sei que apenas a deixaria preocupada e iria tirar Val de Gotville. Mas falo sobre Liam, Arlo, Adam e Nolan, e também a faço prometer que não vai falar nada para sua filha antes de contar sobre a situação de Syan.

Ela suspira. "Como mãe, quero socá-lo. Mas também quero abraçá-lo por amar Valerie assim. É uma sensação estranha."

Sorrio e assinto. "Yeah, eu sei." Coloco mais um pedaço de bolo na boca e Kris arqueia uma sobrancelha.

"E seus meninos? Disse que estava indo embora?" Questiona, e eu nego com a cabeça, mordendo o lábio com força. Ela assente, e eu vejo sua expressão, a que fazia quando ainda tinha muito a falar, mas achava melhor se manter quieta. Suspiro.

"Manda." Digo, e Kristen me encara com um olhar gentil.

"Eu te conheço desde que você usa fraldas, querida, e sei exatamente o que você quer e precisa. Mas, infelizmente, essa é uma das coisas que precisa entender sozinha." Eu bufo. Queria que me dissesse, que me falasse todas as respostas que eu buscava. Mas sabia que estava certa. Ela sorri. "Mas posso te falar apenas uma coisa?"

Assinto, engolindo em seco. Kristen segura minha mão e olha profundamente em meus olhos.

"Por que tem que ser sua escolha?" Questiona, e eu franzo a testa, sem entender. Como assim? Claro que era minha escolha. Eu que estava no centro desses quatro garotos, afinal.

"Não entendi..." Murmuro, e Kristen me envia um sorrisinho torto.

"Você vai. Talvez não agora, mas vai entender em breve." Ela se aproxima e pega uma mecha do meu cabelo, com o carinho materno que sempre teve direcionado a mim. "Na sociedade em que vivemos, as pessoas tem a mente muito fechada, querida. Talvez seja por isso que você não está aceitando sua situação. As pessoas gostam de julgar e apontar dedo para cada pequena coisa que eles consideram um erro... Mas, às vezes, você precisa mandar a sociedade tomar no cu."

Arregalo os olhos com seu palavrão, sabendo que ela é sempre muito correta em suas palavras, e solto uma risada, mesmo sem entender o significado de suas palavras. Kristen ri também, mas suas palavras continuam na minha cabeça enquanto eu tento decifrá-las.

Quando a risada morre, ela suspira. "Mia, você parece cansada. Quero que me prometa algo." Fala, e eu assinto. "Me promete que apenas vai voltar para aquela escola quando estiver preparada. Demore dias, semanas, meses... que seja."

Mordo o lábio e hesito. Queria prometer isso a ela, mas eu sabia que não era tão simples. Gotville ainda estava uma bagunça, e eu ainda estava metida nisso. Sem falar dos meninos, que eu sabia que não iriam demorar muito até me buscar pessoalmente se eu não voltasse.

Dou-lhe um sorriso e ofereço meu melhor: "Prometo que vou tentar."

Between four hearts - Gotville High 04Onde histórias criam vida. Descubra agora