A primeira coisa que fiz quando cheguei em Gotville High foi ver Val. A atualizei sobre todos os acontecimentos da viagem, e tivemos uma boa noite das meninas - com Jace também, que invadiu o quarto quando descobriu que eu estava de volta. Eu soube que, se ele havia descoberto, os meninos provavelmente já sabiam, e era apenas uma questão de tempo até que eu os encontrasse.
Mas estava cansada e necessitava imediatamente de uma boa noite de sono. Tentei não pensar muito sobre o sonho que tive na noite anterior, mas ele estava sempre ali, no canto de minha mente, esperando o momento perfeito para vir à tona. Por enquanto, porém, iria mantê-lo escondido.
No dia seguinte, não tinha mais como adiar o inevitável. Eventualmente, os meninos iriam atrás de mim, e prefiro iniciar a conversa por mim mesma. Além disso, quero falar com cada um separadamente. Se os três se aproximarem juntos, vou estar em desvantagem e eles vão facilmente me desarmar. Preciso permanecer firme até o fim.
Vou até Arlo primeiro. Lhe envio uma mensagem perguntando apenas onde estava, e apenas alguns minutos depois, recebo sua resposta: Ginásio. Respiro fundo e caminho até seu encontro, rezando a todos os Deuses e divindades para que a mão dos Lions não esteja tão irritada no caminho.
Assim que entro no espaço de treinamento, vejo Arlo. Ele estava de costas para mim, sem camisa, sua bermuda baixa nos quadris, com suor escorrendo por sua pele. O cabelo na parte de trás da sua nuca estava molhado, e seus músculos flexionam a cada movimento. Um barulho forte soava pelo lugar toda vez que seus punhos batiam no saco de pancadas.
Ele não se vira quando entro, mas pela tensão em seus ombros, sei que me ouviu. Fecho a porta e me aproximo lentamente, notando que ele não usava as proteções nas mãos, e os nós de seus dedos estavam em um vermelho vivo. Paro bem ao seu lado, mas Arlo ainda não desvia sua atenção.
"Desculpa." Murmuro, e ele trava, seu punho a milímetros do saco, seus olhos ainda sem encontrar meu rosto. Engulo em seco e cruzo os braços. "Por não ter te avisado que estava saindo. Mas não por ter ido."
Finalmente, Arlo deixa sua frieza completa de lado. Se vira para mim, os olhos encontrando os meus, um fogo de raiva, alívio, frustração e mágoa queimando na íris azul. Era tanta emoção que faz meu coração acelerar em meu peito.
"Você tem ideia como foi descobrir que você tinha ido embora?" Fala, sua voz baixa e controlada, a única coisa que trai sua compostura são seus olhos e a tensão em sua mandíbula. "Sem dizer absolutamente nada? Simplesmente indo embora? Como se todo esse lugar, tudo que aconteceu aqui, não significasse nada."
"Eu não fui embora porque não significa nada, Arlo. Fui porque significa coisas demais." Murmuro, mas sei que ele não está mais absorvendo minhas palavras. Está preso em seus sentimentos agora, deixando tudo sair.
Um passo e ele para bem na minha frente. O vejo engolir em seco e a frieza em sua expressão se dissipa. Ergue uma mão e afasta uma mecha de meu cabelo. Toda a raiva evaporou, deixando apenas uma tristeza e um quê de desespero em seu rosto.
"Você não tem direito de ir embora, Mia." Sussurra, e seus olhos enchem. Arlo balança a cabeça. "Não pode. Não depois de tudo que aconteceu." Uma única lágrima escorre por sua bochecha direta, e tudo ao meu redor desacelera, meu olhar acompanhando aquela gota.
Eu não podia me mover. Aquele era Arlo Black, o mesmo cara que envolveu as mãos ao redor de meu pescoço quando me pegou escutando uma conversa. O mesmo cara que manipulava todos para conseguir o que queria, que tinha todos na escola bem na palma de suas mãos. Era o rei sem uma coroa, aquele que puxava os pauzinhos por trás das cortinas.
Arlo Black não chora. Ele não se desespera, não perde o controle. Ainda sim, bem na minha frente, ele parecia despedaçado. Aquela única lágrima solitária foi como uma adaga do peito, e me quebra como nada mais fez.
Era por mim. Ele estava chorando por mim.
Arlo limpa seu rosto rapidamente e vira de costas para mim, se apoiando no saco de pancadas. Sinto meus olhos queimarem e me aproximo por trás dele, envolvendo meus braços ao redor de sua cintura. Seu corpo fica tenso com meu aperto, mas não o solto.
"Eu só precisava de tempo..." Sussurro, e o sinto relaxar um pouco.
"Não posso te deixar ir de novo... você não pode esperar isso de mim." Murmura, e suspiro.
"Isso não está fazendo bem a ninguém, Arlo." Retruco, apesar da minha voz ser fraca. Eu estava abalada demais.
Ele se vira de frente para mim novamente e pega meu rosto entre as mãos. Deixo meus braços caírem de sua cintura, mas a intensidade em seus olhos azuis oceano faz meu coração acelerar mais do que a proximidade entre nós.
"Eu vou aonde você for. Te sigo até o fim do mundo se necessário. Porque você tem meu coração, hot stuff, e eu não posso deixá-lo ir. Quanto mais cedo entender isso, melhor será." Fala, e sinto borboletas em meu estômago. Maldito olhar e malditas palavras que me afetam tanto...
"Arlo..."
Não tenho a chance de terminar, e nem quero, porque as palavras escapam de minha mente no segundo em que ele fecha a distância entre nós e me beija. Deus, eu senti falta disso. Toda a resistência dentro de mim se dissipa e eu correspondo, minha mão indo para sua nuca.
"Para você se lembrar porquê não pode me deixar." Sussurra, e um sorrisinho pequeno e provocativo aparece em seus lábios. "E porque eu quis."
Solto uma risadinha, nosso assunto afastado, mas não esquecido. Decido me preocupar com tudo isso mais tarde, e puxo seu rosto para o meu, apenas encostando sua testa na minha. O contato me acalma.
"Eu te amo." Sussurro, e Arlo solta uma risadinha.
"Eu sei. Você esconde mal." Murmura, e rolo os olhos. Coloco minhas mãos em seu peito para afastá-lo, mas ele apenas me puxa para perto novamente e enrola os braços ao redor da minha cintura. "Mas eu te amo também, HS."
Sorrio e o beijo. Era calmo, sem pressa, e sabia que nós dois estávamos loucos para compensar pelo tempo perdido. Eu não sabia o que o futuro reservava, e Arlo também não, mas eu sabia que o amava. O amava tanto que me consumia. Essa era a única certeza que tinha.
Mas seria o suficiente?
Isso começou com a gente. Tem que terminar com a gente também. Era o que o Liam do meu sonho havia dito.
Ele está certo... Uma pequena voz sussurra em minha mente. Mas, por enquanto, mandei essa voz calar a porra da boca.
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Between four hearts - Gotville High 04
Dragoste"Sabe, eu tenho um segredo." Adam murmura, com um sorrisinho divertido no rosto, antes de atastar o cabelo molhado que cai em seu rosto. Arqueio uma sobrancelha. "Yeah? Qual?" Questiono, com meu próprio sorriso. Ele se aproxima e para o rosto centím...