Why'd you only call me when you're high?

Fake Tales of San Francisco

Era manhã de sábado. Mais precisamente, cinco da manhã.
Alex tateava a mesa ao lado de sua cama buscando por seu celular onde tocava o despertador.
Ele desliga o som e se senta na cama.
Estava exausto.

Na noite anterior eles haviam ensaiado até às 2 da manhã devido ao casamento onde tocariam. Tinham que estar perfeitos. Afinal, dentre os convidados estavam alguns produtores bem conhecidos.

Os noivos eram fundadores da maior instituição filantrópica da cidade.
Eram pessoas com muita influência, porém extremamente humildes.
Jamie tinha primos que trabalham na instituição e conseguiu com que a banda pudesse tocar em seu casamento.
Uma baita responsabilidade.

O garoto levantou da cama e entrou no chuveiro.
Enquanto a água morna caía sobre sua cabeça, começou a pensar em sua mãe, e em como havia mentido pra ela quando a mesma perguntou sobre como havia sido o seu dia e suas aulas.

Alex odiava mentiras e odiava ainda mais ter que mentir para sua mãe, mas ele não tinha outra opção.
Ele era a única chance que eles tinham de poder fazer algo pela irmã, e agora essa chance talvez não existisse mais porque ele não conseguia se controlar com bebida.

"Bebida"

Ao lembrar da conversa com o diretor, o garoto fecha os olhos e encosta sua cabeça na parede molhada.

Ele também mentia para a mãe sobre isso. Sempre que chegava no outro dia de manhã dizia que ficou estudando com os amigos ou ensaiando com a banda, quando na verdade apenas tinha dormido no bar. Pra alguém que odiava mentiras, ele mentia demais.

Mas também, não queria preocupar a mãe, ela já tinha uma filha com câncer e mal lidava com isso.
Imagine adicionar um filho alcoólatra que foi expulso da faculdade.
Desastre.

Alex sai do banho e coloca seu terno.
Todos eles iriam de terno, afinal, tinham que estar bem vestidos para um evento dessa importância.
Ele amarrou a gravata e colocou o paletó.
Passou gel em seu cabelo e fez seu costumeiro topete que tendia para o lado. Ele achava isso muito anos 50, e adorava o estilo retrô.

Quando sai do quarto sua mãe está na cozinha preparando café.

-Bom dia. Como você está bonito! Parece até que é você quem vai casar!

Ela diz emocionada.

- Bom dia mãe. Você não precisava ter acordado, tá super cedo.

- Eu sei, mas queria ver o meu filho arrumado e cheiroso pelo menos uma vez.

Ele a olha indignado.

-É brincadeira, você é sempre cheiroso, filho. Mas eu não ia deixar de te desejar boa sorte, e o mais importante, ver se conseguiu dar o nó direito na gravata.

- Claro que eu consegui, mãe.

Ele diz e bebe um pouco do café que estava à sua frente.

- Eu aprendi depois daquele incidente na festa da tia Luci...

Alex lembra de quando se arrumou sozinho e encontrou com sua mãe na festa de 60 anos de sua tia.
No caminho ele notou alguns olhares estranhos em sua direção.
Era porque sua gravata estava amarrada na forma de um laço.

- É com os erros que aprendemos querido.

A mulher ri baixo.
O garoto, enquanto tomava outro gole de café escutou uma buzina á sua porta.

- Devem ser eles.

-Tchau filho, boa sorte.

Ela o abraça.