Capítulo 3

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Eu ainda não estava 100% quando me levantei, o sol passava pelas janelas queimando o meu rosto

A voz baixa e delicada da garota que sem me conhecer salvou a minha vida chamou a minha atenção, na cozinha um excelente cheiro de algo que eu a muito tempo não sentia, não consigo me recordar o que é, mas parece delicioso

Ela cantarolava baixinho enquanto usava uma faca para abrir uma lata

- bom dia - disse sem nem olhar para mim, é claro que ela deve ter ouvido o barulho que a cama fez quando me levantei mesmo que aquela fosse a mais confortável cama que me lembro de já ter dormido

- bom dia - respondi me apoiando sobre o batente da porta, não quero parecer invasivo

- o café da manhã está quase pronto, eu deixei uma roupa no banheiro para você espero que vista bem e quando terminar podemos trocar este curativo - ela disse ainda concentrada no que fazia

Eu não sabia o que lhe dizer ou como agir com toda a simpatia que a garota tem mesmo não sabendo que eu poderia ser perigoso

Então preferi apenas passar direto por ela e ir até o banheiro, tomar banho sem molhar o curativo não é uma das coisas mais legais de se fazer

Após vestir as roupas que a garota deixou ali percebi que realmente me vestiram muito bem, como se tivesse sido tiradas as minhas medidas com excessão da calça que ficou um pouco comprida demais

Quando voltei a cozinha sobre a mesa haviam xícaras, copos, a chaleira a qual ela usou para me ameaçar e uma jarra com o que parece ser suco e além do pão caseiro havia o que parecia ser, bolo de chocolate?

- está exagerado eu sei - ela disse saindo do quarto que eu dormi - é que eu estou meio elétrica hoje

Me virei vendo que a cama já estava arrumada e a janela aberta com um pequeno vaso de flor sobre ela

- vamos comer?- sorriu se sentando e eu fiz o mesmo - depois eu vou trocar este curativo e se você estiver desposto a gente pode sair para encontrar roupas já que essas era as únicas que consegui por aqui

- você já saiu hoje?- perguntei, não parecia estar tão tarde e ela assentiu

- eu não consigo dormir por muito tempo e sair antes de amanhecer é sempre a melhor opção - garantiu começando a comer

- você vive aqui a muito tempo? - perguntei, talvez a solidão tenha a feito criar um mundo aonde tudo isso é normal

- faz uns dois anos - pareceu pensar - é, algo deste tipo

Eu não quero parecer indiscreto, mas tem algo nessa garota algo que me faz querer saber mais

- sozinha?- perguntei - como você pode ser imune e não pertencer ao cruel?

- eu não era lá muito útil, então eu vim embora - deu de ombros enquanto colocava um pedaço de bolo em meu prato e em seguida bebeu um pouco do seu café preto

- e não te procuraram?- perguntei e ela deu um sorriso

- eu não sei, nunca estive no caminho deles novamente - esclareceu - não é tão difícil ficar longe de problemas quando não os procuramos

Levei uma garfada do bolo a boca, o gosto de achocolatado e morango em calda me fizeram suspirar, a tanto tempo eu não sentia um gosto tão bom se é que um dia eu já senti

Eu estava pronto para perguntar sobre a família dela quando ouvimos barulho do lado de fora, de forma mais específica na rua

Ela se levantou e olhou pela janela, fez um sinal com o dedo indicador sobre os lábios para que eu fizesse silêncio e foi até o que acredito ser seu quarto

A segue até lá, o cômodo com uma enorme cama coberta por travesseiros e um cobertor lilas, paredes pintadas em um tom de azul escuro e estrelas que pareciam feitas com tinha branca a mão espalhadas por alguns pequenos espaços

No chão uma lata de tinta branca e um pincel fino

Parei de reparar naquele lugar quando chegue ao seu lado, ela segurava um arco e apontava a flecha com um dos olhos fechados para melhorar a mira

Em uma silenciosa flechada o corpo do crank caiu sobre o chão

Mas eu não entendo, se ela salvou a mim porque mata outros?

- não me pergunte - ela disse apenas enquanto colocava o arco no chão

- é um bonito quarto - resolvi não perguntar naquele momento, ela poderia mudar de ideia

- é, eu fico entediada às vezes - disse simples retornando para cozinha

- eu não entendo, como você pode morar aqui por todo este tempo e agir como se o mundo não tivesse acabado lá fora - não me contive em perguntar - pantufas de bichinho, bolo de chocolate, pintura em paredes e vasos de flores nas janelas

Ela olhou nos meus olhos como se eu a tivesse ofendido, não desviou os olhos por nenhum momento enquanto me respondia

- não é porque o mundo se tornou um lugar sombrio que devo mudar com ele - disse um pouco alterada, acho que a irritei um pouco com as minhas perguntas - eu não estou no mundo da lua, sei o que preciso fazer e apenas não gosto de deixar aquilo que escurece tudo lá fora escurecer também a minha casa

- eu não quis dizer que você "vive no mundo da lua" - meu sotaque se destacou um pouco mais quando repeti a frase que ela usou e ela bebeu um pouco do café novamente desviando seu olhar do meu-  eu só tenho muitas dúvidas e todas elas incluem você

- pois eu te dou a chance de fazer mais uma pergunta antes de sairmos Newt - ela disse entediada

- por que me ajudou?- a pergunta que tem ficado em minha cabeça desde que acordei vivo saiu quase que naturalmente por meus lábios

Strange blood - NewtOnde histórias criam vida. Descubra agora