Capítulo 2

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Eu já podia sentir minhas mãos tremerem quando tirei a agulha de meu braço e em seguida do braço não tão fino do garoto,
por mais que sua estatura seja magra ele parecia forte

Ele parecia "dormir" de forma serena quando sai do quarto travando a porta do lado de fora com uma cadeira para garantir não ser pega de surpresa quando garoto desconhecido acordasse

- o que passou pela minha cabeça?- me perguntei alto como costumo fazer para acabar um pouco com o silêncio que tenho vivido a tanto tempo - trazer um homem para casa? Eu passei dos limites e agora?

Aproveitei para tomar um banho quente enquanto o outro não acorda

Quando sai vestindo apenas uma camisa de uma banda de rock muito famosa na época que o mundo ainda existia e as minhas confortáveis pantufas, meus cabelos agora úmidos caiam sobre os meus ombros indicando que eu deveria cortar assim que tivesse oportunidade

Pegue a chaleira sobre o fogão a lenha que nunca é apagado por conta do meu medo do frio e do escuro, ficar sozinha é péssimo, mas sozinha em um lugar frio e escuro é o meu maior pesadelo

Me assustei quando ouvi alguém tentando abrir a porta, por um momento de relaxamento me esqueci que já não estava mais sozinha

- Alguém aí?- ouvi uma voz que por mais delicada e calma que fosse não deixava muito escondido o desespero, ele continuou a forçar a porta

Tá bem, eu já o trouxe agora devo encarar, não?

Segurei o recipiente com a água quente que sobrou enquanto tirava a cadeira, a porta foi aberta e o garoto aparentemente ainda fraco me encarou desconfiado

- não faça nenhum movimento - falei autoritária por mais que me tremesse um pouco de medo, a anos não fico tão próxima de algum vivo

- está tudo bem - ergueu as mãos - eu só - fez uma pausa procurando o que dizer - eu só preciso saber como, como eu estou vivo

Coloquei a chaleira sobre a mesa e dei as costas para ele voltando a preparar o chá

- eu salvei você - contei

- não havia como, eu estava tomado pelo fulgor e havia a facada - me virei de frente a ele o vendo tocar o curativo que fiz

- é, eu não sei te dizer como também - dei de ombros e estendi a ele uma xícara a qual ele pegou após hesitar um pouco - eu nunca havia feito, só li em algum lugar e quis testar

- devo agradecer por ser a sua cobaia?- ele perguntou e eu assenti - você está com eles? Trabalha para o cruel?

Quase dei risada enquanto indicava com um gesto que ele deveria se sentar e quando ele fez isso puxei uma cadeira me sentando  frente ao sofá

- não, eu não trabalho para o cruel - afirmei - você pelo visto era um deles, um dos garotos com sorte

- sorte?- perguntou como se eu estivesse fazendo a maior das acusações - sorte por ter ficado anos sem memória vivendo com medo sem saber o que aconteceria?

- olhe a sua volta, ninguém teve mais sorte do que quem não precisa de lembrar - eu disse me levantando - você pode ficar até se recuperar, fique com o quarto que estava e se quiser pode usar o chuveiro

- obrigada - foi o máximo que ele disse antes de eu me levantar - posso saber o seu nome?

- Madelyn - eu disse já de costas seguindo rumo ao meu quarto

- obrigada por salvar a minha vida Madelyn, sou o Newt - ele disse e eu não respondi, mas não pude evitar entrar em meu quarto com um leve sorriso nos lábios

Em muito tempo eu não estou sozinha

Strange blood - NewtOnde histórias criam vida. Descubra agora