Tempo

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ROMANCES MENSAIS

LIVRO V – MENTIRAS DE MAIO

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CAPÍTULO XXV – TEMPO

Assim que entramos em seu quarto, Ally coloca as compras que havia feito em cima de sua escrivaninha e me encara pensativa. Ela então tira os óculos de sol e o boné que usava, antes de sentar em sua cama e suspirar cansada. Permaneço em pé ao lado da porta, sem saber como iniciar a conversa. Eu estava nervoso e ela parece ter notado isso. Fecho a porta do quarto e respiro fundo tentando me manter firme de minha decisão, enquanto me aproximo a passos receosos da garota. 

Durante as duas últimas semanas que se passaram desde que retornamos para Hawkins, a vida da garota se tornou um caos. E ainda que ela me dissesse que estava tudo bem, eu sabia que não estava. Não estava tudo bem ela ter que deixar de usar as redes sociais por causa das constantes invasões de privacidade e mensagens de ódio direcionadas a ela sem motivo algum.

Não estava tudo bem ela ter que ser obrigada a sair de férias do trabalho e a trocar de endereço as pressas por causa da perseguição exagerada da mídia, que acreditava que conseguiria mais informações sobre Gavin Young ou sobre a minha família. Também não estava tudo bem ela ter sua liberdade tomada de si de forma tão brutal. Não era justo ela ter que passar por todo esse incômodo, enquanto ainda está tentando lidar com todos os acontecimentos malucos da ilha.

Mas mais do que isso, eu sentia a culpa me aflingir pela morte de seu pai a todo instante. Por mais que ela me dissesse que não era minha culpa, eu sabia que fui eu quem a colocou em evidência para a mídia. E tudo se tornava ainda pior todas as vezes que ela relatava com frustração sobre alguma fuga que precisou fazer para escapar de algum paparazzi, enquanto tentava fazer compras ou apenas aproveitar o dia para passear no parque.

Meus sentimentos entravam em conflito constante. Por mais que eu tentasse protegê-la, meus esforços pareciam em vão. O medo de que ela se machuque por minha causa me assombra todos os dias. Para alguém que nasceu em um mundo cercado pelas câmeras e pessoas prontas para revelar seus segredos para todos apenas para ter a fama, eu já estava acostumado a ser mais discreto e como evitar a mídia. Mas Ally não e eu conseguia ver o quanto estava sendo difícil para ela lidar com tudo isso e ainda com a morte do pai.

- Austin? - Ally me chama com aqueles lindos olhos encarando-me com preocupação. - Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

Observo sua delicada face. Os olhos grandes e brilhantes que me transmitem tanta paz e calor. Os lábios carnudos que trazem o sorriso mais valioso do que qualquer joia no mundo. A pele macia e corada como pêssego. Não importa quantas vezes eu a encare, meu coração sempre parece bater mais forte e vivo todas as vezes que sou alvo de sua atenção e dos olhos amorosos. 

- Ally, eu... - Suspiro, sem conseguir dizer o que eu precisava dizer.

- Austin, fala logo o que está acontecendo. Esse suspense está acabando comigo. - Afirma a garota, mostrando toda a sua preocupação.

Engulo em seco e me sento ao seu lado da cama. Encaro os dois porta-retratos que ela colocou na penteadeira. Um deles tinha a foto do pai e da mãe com ela ainda criança. A outra foto foi uma que nós tiramos no dia do festival de música que fomos no parque da cidade. Ela também tinha um painel com várias fotos dela com as amigas, comigo, com os pais e com meus primos na ilha. Ela realmente havia se apegado a minha família.

Observo seu sorriso bonito nas fotos e a forma como ele chegava aos seus olhos. Era pela felicidade e pelo próprio bem dela que eu precisava me afastar. E é com esse pensamento em mente que reúno toda a coragem dentro de mim e ignoro a dor em meu peito para conseguir encará-la.

Mentiras de MaioOnde histórias criam vida. Descubra agora