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Ryan confiava em sua tia Charlotte, acreditava que ela iria guardar todas as informações, mesmo que surtasse internamente. O grande problema era Piper, desde que havia afirmado saber toda a verdade em relação à Oliver, a Hart fazia questão de deixar Henry e Charlotte sozinhos com a criança em todas as oportunidade, mesmo que ela tivesse que criá-las.

Ele se encontrava sentado à mesa da cozinha dos Hart, Piper estava imersa no telefone, Jasper e Ray disputavam uma partida de videogame e ainda não havia nenhum sinal de Charlotte, Henry ou Oliver. Os três haviam ficado na Caverna man para terminar a máquina, o que não fazia o menor sentido já que somente a Bolton iria trabalhar. Porém, Piper convenceu a todos de que quem menos atrapalharia seria Henry e já que Charlotte era a futura mãe de Oliver, o garoto provavelmente só iria obedecer à ela, e todos corriam um grande risco em saberem de tudo que aconteceria no futuro se ele permanecesse com eles. Com estes argumentos nem mesmo Ryan poderia se opor.

Resultado, estava entediado, irritado e com uma fome imensa. Nenhum dos outros três ligava para ele, o que agradecia já que Piper havia parado de dar em cima dele, era algo que o garoto definitivamente nunca iria esquecer. Seu pai nem ligava para sua existência, provavelmente porque não sabia que era seu pai, mas nem Jasper estava entusiasmado com a perspectiva de Charlotte ter um filho loiro! Caramba, para quem se dizia defensor inabalável do shipp, ele não prestava muita atenção aos detalhes.

- Chegamos! - Henry gritou animado ao abrir a porta da casa, dando espaço para Charlotte passar com Oliver.

A criança segurava um enorme algodão doce com uma mão enquanto na outra apertava a pata de seu leão de pelúcia. Charlotte automaticamente limpou o canto da boca dele que estava rosa,  com um guardanapo que Henry tirou do bolso e a entregou antes de fechar a porta. Se eles continuassem a agir assim não teria como esconder de todos quem era o pai de Oliver. E olhando para Piper, que tirava fotos discretamente, Ryan teve a certeza de que esse segredo não ficaria guardado por muito tempo.

- Deu tudo certo? - perguntou em voz alta, para desviar a atenção da futura família.

- Está tudo certo, amanhã termino os últimos detalhes e vocês poderão voltar para casa. - Charlotte informou e ele não teve como não soltar um suspiro aliviado, só uma noite e se tudo corresse bem eles voltariam para casa sem mudar nada na linha do tempo.

Charlotte seguiu Henry para a cozinha e os dois começaram a falar sobre o jantar, Oliver seguiu em direção à ele e abriu um sorriso animado antes de se jogar para ganhar um abraço. Ryan prontamente recebeu a criança e a sentou em seu colo.

- Não falou de mais, certo?

- Nadinha. - respondeu, balançando a cabeça em negação. - Futura mamãe me fez prometer não contar nada porque eu posso sumir, eu não quero sumir, Ryan. - disse, em um tom de voz assustado.

- E você não vai, contanto que fique caladinho.

- Eu vou ficar, mas você pode sumir também? - perguntou preocupado, o encarando com os olhinhos arregalados fazendo Ryan rir de sua expressão chocada.

- Não, não corro esse risco. Vou nascer no próximo ano e longe deles, o que é perigoso é que a minha família seja completamente mudada. - verbalizou seu medo quase em um sussurro para que somente Oliver ouvisse.

Estava tentando ter uma conversa particular com ele, mas parece que justo naquele instante seu primo quis que o mundo fizesse parte dela também, já que em um tom alto afirmou decidido.

- Tia Gwen nunca te deixaria.

- Que é Gwen? - Piper perguntou e Ryan só queria que aquela garota fosse para qualquer outro lugar.

- Ninguém. - respondeu rápido, mas Oliver foi ainda mais.

- A mãe dele.

Sentiu o ar da sala aumentar quando notou que todas as atenções estavam sobre eles. Viu como Piper encarou os outros quatro de forma confusa, ela definitivamente não sabia o que aquele nome significava para o grupo, tanto que pela primeira vez escutou a voz de seu futuro pai se dirigir diretamente à ele.

- Sua mãe se chama Gwen?

Não tinha como negar descaradamente algo que Oliver havia acabado de informar, apertou o primo em busca de conforto e respondeu em um tom neutro.

- Sim, por quê?

- Como ela é? - Ray indagou de forma séria e Ryan rapidamente lançou um olhar para sua futura tia que o identificou na hora, ele estava desesperado.

- Ele não pode falar, Ray.

- Por que não?

- Se não toda a linha do tempo vai ser ferrada. - respondeu como se fosse óbvio, fazendo o super-herói fechar a cara irritado.

- Esse garotinho é seu filho e é muito apegado à esse maior. Se nós estivermos compactuando com vilões precisamos mudar isso enquanto temos tempo!

- Mas não estaremos, e o fato da mãe dele se chamar Gwen não significa que ela seja a mesma Gwen que conhecemos. - Charlotte tentou colocar o pouco de razão na cabeça de seu chefe.

Os outros três somente observavam a discussão e Ryan notou que Oliver pelo menos resolveu que aquela não era uma boa hora para falar mais nada.

- Como vamos ter certeza então?!

- Não podemos. E não vamos porque o futuro é algo complicado.

- Mas acabamos de ver uma Piper do futuro!

- Por que o futuro estava uma catástrofe! Agora, aparentemente ele foi consertado e eu não vou deixar você acabar com ele só por causa de uma birra infantil.

- Ela sabe quem nós somos!

- Eu tentei avisar, mas como sempre não quiseram me escutar. - apontou, levantando o queixo o desafiando a discordar, como Ray não falou nada, continuou. - Agora não adianta reclamar por algo que aconteceu há anos, se ela quisesse entregar vocês com toda a certeza já teria feito isso. Agora, nada de perguntar mais nada para nenhum deles e guardem suas suposições para si mesmos. - a última parte foi dirigida especialmente para Piper, que a olhou irritada e voltou sua atenção para o celular.

- Então, nada de perguntar quem é o pai dele? - Jasper indagou, apontando para Oliver que havia terminado seu algodão doce e o encarava com um sorriso, ele sempre adorou seu tio Jasper.

- Nem uma mísera pergunta, eles irão embora amanhã e iremos esquecer tudo isso, certo? - perguntou para todos que assentiram contrariados.

Charlotte recebeu com satisfação a resposta e se voltou para a geladeira dos Hart à procura de algo para comer. Ryan se manteve calado, ainda podia sentir o olhar suspeito de Ray em sua direção, empurrou Oliver para que ele saísse de suas pernas e a criança correu para o lado de Jasper. Se levantou e seguiu para o quintal, não aguentava mais o peso do olhar de seu futuro pai. Sabia que ele estava irritado e a partir desse momento não acreditaria em uma palavra que saísse da boca dele, mas o garoto se manteria calado e longe do caminho do super-herói. Eles nem imaginavam a loucura que foi sua vida e de sua mãe para que no fim ele tivesse Ray Manchester como pai, um pai louco e às vezes inconsequente, mas amoroso o suficiente para abraça-lo como família.

Ryan estava sentando em uma das cadeiras perto de um jardim muito bem cuidado, provavelmente obra de seu tio, a casa dos Hart sempre seria um aconchego em qualquer tempo. Tombando a cabeça para trás, passou a observar as estrelas, ou o que conseguia delas levando em conta a iluminação artificial que ofuscava quase tudo. Em sua casa ele podia ver claramente todas as constelações, seus pais escolheram viver em uma casa no alto de uma montanha, muito bem protegida por conta do passado/presente dos dois, mas com uma vista incrível da cidade que ele aprendeu a amar. Voltou para Swellview com sete anos e após sua volta junto com sua mãe foi que a vida deles virou do avesso, mas no fim foi o melhor modo de viver.

Agora, ali no passado, ele piscava tentando controlar as lágrimas, a perspectiva de voltar para casa no dia seguinte o aliviava, mas a conversa que o aguardava seria uma das mais complicadas que já teve. Fechou os olhos se deixando sumir um pouco daquele lugar, as gargalhadas de Jasper e Oliver se transformaram em ecos susurrados em sua mente.

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