• Capítulo 2

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JHESCY


Faz dois dias que não tenho notícia de George, ele não atende minhas ligações e não responde minhas mensagens.

Vou viajar em cinco dias e queria avisa-lo caso ele queira vir me ver, mas não consigo.

Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo, pego minha bolsa e desço a escada.

Mamãe está no escritório, é assim que ela trabalha com meu pai, de casa para não deixar de cuidar da casa e de mim.

- Mama – a chamo, ela me olha e sorrir – pode me emprestar o carro?

- Você não gosta de dirigir – ela diz jogando a chave para mim.

- Eu sei, não gosto mesmo. Mas preciso comprar algumas coisas para viagem.

- Tudo bem, tenha cuidado. – jogo um beijo pra ela e viro no calcanhar.

Tucson esta sempre uma loucura, ainda mais com o fim das aulas, somos a segunda maior cidade do Arizona.

Estaciono o carro em frente à farmácia, preciso comprar alguma coisa para a tal viagem. Uma semana na praia, sol e mar, eu gosto, faz tanto tempo que não fazemos um passeio se quer.

Desligo o motor do carro, olho para o outro lado da rua e vejo uma sorveteria, talvez depois das compras eu passe por lá.

A farmácia está vazia, pego o que preciso e pago, coloco as coisas no carro e atravesso a rua rumo à sorveteria.

O calor de Tucson está insuportável hoje, já sou acostumada com esse clima desértico, mas hoje está pior.

Empurro a porta da sorveteria e sinto o ambiente fresco.

- Um sorvete de chocolate, por favor – peço a moça do caixa.

- Claro, algo mais? - ela pergunta, e eu balanço a cabeça negando, pago o sorvete e sento no balcão. Um rapaz me entrega o sorvete e fico feliz em não ter demorado.

Estou terminando meu sorvete quando escuto vozes entrando na sorveteria, eu queria não reconhecer a voz dele, mas ele está lá, me viro em busca dele me ver. Quando olho para o grupo, vejo que ele está com seu braço sobre os ombros de Kelly.

Eles ficavam antes da gente e pelo jeito estão juntos novamente. Ele sorri de qualquer coisa que ela fala, até que seus olhos encontram os meus e ele finge não me ver.

Jogo o copo de sorvete no lixo e saio da sorveteria, eu fui enganada por ele, como poderia te sido tão idiota? Como pude acreditar nesse imbecil?

- Burra – eu digo a mim mesma.

- Como disse? – uma senhora que estava ao meu lado pergunta. Droga, nem quando estou me xingando tenho um minuto de paz.

- Desculpa senhora, estava falando comigo mesma. – sorrio e atravesso a rua, entro no carro e coloco-o em movimento.

Felizmente mamãe não está em casa quando chego, corro para meu quarto e me jogo na cama.

A imagem dele agarrado com Kelly vem a minha mente, como eu posso ter caído nessa? Eu nunca me deixei levar, já teve outros garotos querendo sair comigo, mas nunca dei confiança, nunca se quer quis beija-los e eu me entreguei ao George, quão burra eu fui!

As lágrimas correm por meus olhos, me permito chorar até meus olhos arderem e então levanto e vou tomar meu banho.

Já faz cinco dias que vi George e Kelly, hoje é o dia da minha viagem. Não tenho ânimo para nada, não consigo se quer comer direito, mamãe diz que quando retornar ela me levará ao médico, não posso ficar tanto tempo sem comer assim, então hoje eu tomei um café reforçado para que ela me deixe em paz.

Mamãe corre de um lado para o outro atrás de um sapato, me jogo no sofá com óculos escuro e fones de ouvido, chorei a noite passada e não quero que papai perceba.

- Jhescy – mamãe para na minha frente - você viu chave?

- Que chave mama? – não era um sapato?

- A chave de casa – ela coloca as mãos  na cintura.

- A chave está na porta como sempre – digo levanto do sofá – Podemos ir? – resmungo.

- Estava na hora – meu pai diz saindo pela porta.

De Tucson a San Diego é um pouco mais de uma hora de viagem, tem poucas coisas que meu pai gosta na vida e uma delas é dirigir e assistir seus jogos na sua TV gigante. 

Poder pegar um pouco de sol e ter um mar para se refrescar será bom. Tirar o horrível George Osman da minha cabeça, nem que seja a força, vou arrancá-lo do meu coração.

Meu pai faz o check-in no hotel, ele escolheu um belo lugar para passarmos essa semana.

- Filha, aqui á chave do seu quarto – papai me entrega a chave, fico surpresa, normalmente fico com eles no mesmo quarto.

- Obrigada papai – beijo o rosto do meu pai. Seguimos para o elevador, quando entro em meu quarto, fico feliz em poder ter um momento sozinha.

Ainda conseguimos curtir um pouco a praia com meus pais, agora estou terminando de me arrumar para encontrá-los no restaurante, estou um pouco enjoada, acho que foi o sol que peguei com mamãe, meu pai avisou que estava forte, mesmo assim eu e mamãe aproveitamos e foi a primeira vez que fizemos isso.

Termino de pentear meu cabelo e coloco umas gotinhas de perfume, me arrependo de colocar o perfume quando meu estômago embrulha. Respiro fundo e saio do quarto em direção ao restaurante.

- Filha, mamãe pediu isca de peixe pra você, como você gosta – ela sorri ao dizer quando me sento à mesa, a tarde de sol realmente fez bem a ela.

- Obrigada Mama - sorrio de volta.

- Então Jhescy, a faculdade já mandou a carta? – papai me pergunta enquanto bebe sua água.

- Ainda não papai, mas ninguém recebeu, foi o que eu fiquei sabendo – dou de ombro.

- A filha da Senhora Pigles já recebeu a dela – mamãe me olha.

- Que bom, então a minha deve estar chegando. – o garçom coloca uma bandeja de isca na minha frente.

- Algo para beber senhorita? – ele dar um sorriso simpático.

- Quero uma água com limão, por favor – sorriso de volta.

Eu nunca mais vou pegar sol na minha vida, nem a isca de peixe que sempre gostei estou conseguindo comer, bebo um gole da agua com limão e respiro fundo.

- Mamãe, o papai tinha razão, o sol da tarde me deixou um pouco enjoada. Não consigo comer direto, vou para o quarto, tudo bem? – beijo o rosto de mamãe.

- Posso ir com você se quiser – mamãe me olha preocupada.

- Não mama, aproveita a noite com o papai, qualquer coisa eu ligo e ainda é cedo, posso pedir algo para comer mais tarde, amo vocês. – beijo o rosto do meu pai.

- Qualquer coisa me chama – papai avisa, aceno com a cabeça e sigo para o quarto.
A semana passou tão rápido, que poderia ficar mais. Papai prometeu que voltaremos. Hoje pela manhã senti o enjoo novamente, não contei a mamãe, ela vai querer me levar ao hospital aqui mesmo, e estou de férias, afinal foi apenas um enjoo, nada demais. Sento na espreguiçadeira e tomo um gole da água gelada com limão, estou viciada nesse negócio.

-  A Beth, os enjoos e desmaios da Rosely eram porque ela estava grávida - uma moça loira que está ao meu lado diz para a amiga.

- Séria Karen? – A morena diz chocada – quem é o pai?

- Não sei, ela não diz. Ela só descobriu porque não estava conseguindo comer direito e os enjoos pela manhã.

- Tadinha dela, estava começando a carreira de modelo agora. – a Beth diz e a Karen concorda.

Um alerta surge em minha cabeça, não poderia acontecer comigo, ou poderia? Foi apenas uma vez, mas não me lembro da proteção. Merda! Não pode ser.

- Mama, eu cansei do sol, vou para o quarto, encontro vocês mais tarde. – só pela manha que iremos embora.

- Tudo bem filha – corro para longe e entro na farmácia ao lado do hotel, pego três testes de gravidez e pago.

Quase corro pelo hotel, o elevador parece não subir, meu coração vai sair pela boca, corro para meu quarto e tranco, vou para o banheiro.

- É só esperar cinco minutos – ando de um lado para o outro - cinco minutos – olho para a tela do celular – cinco minutos – entro no banheiro e fecho os olhos.

- Positivo – olho para o espelho e depois para os três palitinhos na minha frente, pode ser algum erro né? Faço as contas, minha menstruação esta há três dias atrasada, ela é sempre certa.

As lágrimas desce por meu rosto, meus pais vão me odiar para sempre, o que eles mais temeram aconteceu. Preciso contar ao George.

Pego meu celular e disco o número dele, eu preciso que você atenda, George.

- Alô  - ele atende com uma voz de sono, graças a Deus ele atendeu.

- George, sou eu Jhescy - as lagrimas ainda descem por meu rosto.

- Oi gata – como pode ser tão dissimulado? Fingiu que não me viu na sorveteria!

- Preciso conversar com você – digo tremula.

- Pode falar. – respiro fundo.

- Usamos proteção no dia que transamos? – solto de uma vez e escuto seu sorriso do outro lado.

- Me ligou para isso? Acho que você esta querendo outra noite daquela. – sinto nojo, queria esquecer aquela noite.

- Eu nunca mais vou querer outra noite com você! - grito ao telefone.

- Então pra que ligou? – ele diz irônico.
- Porque eu acabei de fazer três testes de gravidez e todos deram positivo – solto de uma vez.

- Não vou assumir, tenho certeza que não é meu. – ele diz tranquilo.

- Claro que é seu - digo com raiva e medo – Eu era virgem quando você me pediu uma prova de amor.

- Não era, tenho certeza. Tenho mais o que fazer - ele desliga o celular.

- Desgraçado – grito e tento novamente ligar para ele, a ligação não completa.

O desespero de não saber o que fazer me atinge, meus pais não vão aceitar, eu não vou tirar meu bebê, mas o que vou fazer? Só tenho dezoito anos não tenho nem emprego.

Passo a mão por minha barriga, ele não tem culpa de nada, o erro não foi dele, eu vou conseguir bebê, vou fazer tudo por você, prometo a você.

- Tudo por você! – falo tomando coragem.

Tento aproveitar a última noite da viagem, meus pais estão sorrindo como nunca vi antes, meu pai fala sobre seus planos quando eu me tornar uma advogada e eu sinto pena, eu sei que não será possível agora, mesmo que eles me aceitem com o bebê, não posso fazer uma faculdade agora, só quando o bebê tiver maior.

- Jhescy? – minha mãe me chama – Vamos? Amanhã acordamos cedo.

- Vamos sim – sorrio e levanto rápido. Rápido de mais, sinto uma tontura e me sento.

- Tudo bem filha? – meu pai pergunta ao meu lado.

- Esta sim pai, levantei rápido demais – sorrio mentindo, não posso contar agora, preciso ter um plano B se tudo der errado.

- Quando voltar para Tucson irá a um médico – mamãe avisa e eu concordo com a cabeça.

A viagem para casa é tranquila, sinto um pouco de enjoo, mas nada muito forte. Olha pela estrada e sinto uma força crescer em meu peito, vou cuidar do meu filho, mesmo se ninguém me apoiar, eu já consigo ama-lo como se ele estivesse em meu colo, ele ou ela será completamente amado por mim. Eu nunca vou abandoná-lo.


                          

TUDO POR VOCÊ (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora