Theo Harris
Poder sentar em uma mesa e tomar um café sossegado se tornou a coisa mais especial em anos, sorrio. Tenho vinte e cinco anos, terminei a universidade de medicina a poucos meses.
Trabalho no Hospital de Seattle. Sou pediatra neonatal, gosto de cuidar dos pequenos bebê.
É sempre uma adrenalina cuidar de bebês prematuros, as vezes perdemos e quando isso acontece sentimos medo, mas aí vem aquele que quer lutar pela vida, e nos sentimos tomado por sua força, lutamos por ele, lutamos junto com ele e quando recebe alta nos lembramos o quão importante podemos ser para cada um deles.
- Então você realmente terminou com ela? – vovó pergunta pela terceira vez.
- Sim vovó, já falei isso umas mil vezes – descanso a xícara sobre a mesa.
- É porque vocês namoraram uma vida toda – ela sorri – eu não gostava tanto assim dela, mas achei que você não viveria sem ela.
- Estou bem, prometo que estou. – beijo seu rosto.
- Faz um tempo que não senta comigo para um café, estava com saudades, Theo.
- Vovó, sabe como minha vida é corrida, não é? – pergunto e ela confirma – Então, estou começando minha carreira agora, estou aproveitando tudo que eu posso.
- Está certo. – ela suspira – Você lembra da Jhescy, a que esta grávida?
Tem cinco meses que minha avó não fala de outra coisa, ela me lembra o tempo todo, mas não posso fazer nada, sou pediatra neonatal, no momento ela só precisa de um obstetra mesmo.
- Sim vovó, eu me lembro.
- Você poderia marcar de vir aqui e fazer uma avaliação nela, saber se está tudo certinho. – ela dar de ombros.
- Tudo bem vovó, quando o bebê nascer eu faço uma avaliação completa, mas agora ele ainda está na barriga da mãe e eu não posso fazer nada – digo a ela, pela milésima vez, ela sorri.
- Então assim que nascer eu vou te ligar e você vai ao hospital mesmo, quero o melhor pediatra neonatal ao lado do meu netinho - ela sorri.Vovó se apega a todas as meninas que chegam no lar. Starting Over, fundado por Ivany Harris, um lugar incrível que já ajudou várias meninas perdidas. É meu pai que administra tudo agora, vovó só ajuda. Minha mãe era pediatra, papai disse que ela era umas das melhores que existia, infelizmente morreu jovem demais e meu pai cuidou de mim.
Meu pager bipa, pego e olho, é uma emergência, feto de sete meses, deslocamento da placenta, preciso correr, ainda bem que estou próximo ao hospital.
- Vó, preciso ir. - beijo seu rosto. – uma emergência.
- Cuidado meu filho.
Dirijo para hospital, sou eu quem é chamado para essas emergências, existem outros médicos a disposição, mas ganhei a confiança da maioria dos obstetras.
Estaciono o carro, ainda bem que existem vagas apropriadas para cada médico, corro para o hospital e troco de roupa.
Rachel esta lavando as mãos quando chego, me posiciono ao seu lado, pego o sabonete anticéptico e começo a limpeza das mãos.
- Estava no Lar? - ela pergunta. Eu e Rachel nos conhecemos a anos, somos grandes amigos. Ela é apaixonada por meu melhor amigo e ele nem percebe.
- Estava, o que aconteceu? – pergunto terminando de lavar as mãos.
- Minha paciente, dezoito anos, feto de trigésima semana - ela seca a mão. – descolamento prematuro da placenta, chegou desacordada, vou tentar reverter, senão, você entra em ação.
- Tão jovem, estou aqui. – coloco a máscara, ela também e a enfermeira ajuda a vesti-la e colocar as luvas.
- É sim, chegou à cidade há pouco tempo. – ela entra na sala e me visto, fico pronto.
Rachel começa os procedimentos, passa meia hora e ela me olha, não tem o que fazer, sentimos pois queremos o melhor para eles, nessa fase o bebê ainda vai amadurecer o pulmão, pode ficar com algumas sequelas.
Rachel faz a cesárea e o bebê vem para minhas mãos, ele chora e isso é muito bom, quer dizer que o pulmão está forte.
- Bom garoto - sorrio por baixo da máscara e faço todos os exames ali mesmo.
Coloco o bebê na incubadora e ligo o CPAP, seu pulmão ainda precisa amadurecer para respirar sozinho, ele está saudável, sinais vitais estão bons para um bebê de trinta semanas.
- Você chora alto bebê, vou te chamar de Michael Jackson - sorrio para o bebê que chora forte - Vou terminar de te examinar, e vou liberar você para o leite.
Depois de todos os exames feitos, agora na UTI, eu libero sua alimentação, por enquanto será por uma sonda, ao poucos, quando ele estiver respirando melhor e com ajuda de uma fisioterapia respiratória, ele vai para o seio de sua mãe.
Acompanho alguns partos, nada demais, só para ter certeza que o bebê esta bem. E sempre um alívio quando eles crescem saudáveis. Quando sento para almoçar passa das quatorze horas, gosto da agitação do trabalho.
E o que eu mais gosto de fazer, trabalhar, talvez tenha sido esse o motivo que terminei meu namoro com Charlote Willan, ela não entende que meu trabalho precisa de atenção e que a qualquer momento preciso estar no hospital.
Ela estudou moda e vive pelo mundo, eu não tenho a mesma disponibilidade dela. Charlote não aceitou muito bem que eu a deixei em um evento e corri para o hospital.
Não posso pedir para ela parar de viajar, esse trabalho é o sonho dela, mas também não aceito que ela queira mudar o meu sonho, foi isso que sonhei a vida toda, jamais vou abrir mão dele.
Meu celular vibra, é vovó deve ter umas cem ligações dela, estive ocupado e agora que parei esqueci de retornar.
- Oi, vovó – atendo o celular.
- Theo - ela está com voz de choro.
- O que foi vovó? Aconteceu alguma coisa? Meu pai? – fico em alerta.
- É a Jhescy, ela fez uma cesárea de emergência, quero que veja o bebê - vovó chora ao telefone.
- Calma vovó, me fala o nome dela todo, estou terminando meu almoço e vou atrás de saber dela, ela está aqui nesse hospital?
- Esta sim, seu pai não quer me deixar ir, só quando você dizer que posso. É Jhescy Davins.
- Eu te dou notícias assim que souber, vovó. – levanto da cadeira, deixo o refeitório e vou em direção a ala reservada aos médicos. – papai está com você?
- Esta sim – ela diz com a voz triste.
- Fica calma - eu digo - Eu ligo assim que puder.
- Obrigada, meu filho – desligo e coloco o celular no bolso do jaleco.
- Theo - A voz de Charlote chega aos meus ouvidos, olho para trás e lá está ela.
- Charlote - faço uma careta.
- Precisamos conversar - ela chega mais perto, está sempre perfeitamente arrumada, cabelos escovados, saltos e vestidos caros, além do perfume.
- Não precisamos, estou ocupado - sento em frente ao computador.
- Acho que estou grávida - ela solta de uma vez.
- Grávida? - pergunto pra ter certeza.
- Isso - ela sorri - fiquei enjoada pela manhã - um simples enjoo e acha que está grávida, ela toma remédio uma vida toda e usamos preservativo todas as vezes, meu pai me teve com quinze anos, não foi problema para ele e minha mãe, minha avó ajudou em tudo, mas sei que a vida dele parou por minha causa, ele é jovem ainda, mas não aproveitou sua adolescência, quero ter filhos quando casar, por isso me cuidei.
- Pode ser algo que você comeu - dou de ombros e digito o nome de Jhescy Davins.
- Não como nada de diferente, sabe que vivo de salada - isso é verdade, mas também não estar grávida, outra verdade.
- Tudo bem Charlote, vamos fazer um exame e pronto - olho para Felipe o enfermeiro - Felipe, leve essa moça para fazer um BETA HCG, por favor.
Charlote acompanha Felipe até a sala de exames e me volto para o computador.
Descolamento prematuro da placenta, foi o caso de emergência que teve, é a mãe do bebê Michael, sorrio, já posso ligar para minha avó e acalma-la.
Vovó fica mais calma quando eu conto sobre o bebê, ela diz que vem ao hospital e eu prometi deixá-la ver por uns minutos.
- Pronto, Theo – Charlote diz, me esqueci que ela ainda estava por aqui – E agora?
- Agora é esperar algumas horas, te ligo assim que o resultado sair. – dou de ombros. – Tenho que fazer a ronda agora Charlote.
- Me liga assim que sair, Theo, podemos sair para jantar – ela sorri.
- Vamos ver – beijo seu rosto e caminho para o elevador.
Uma hora completa, e ainda falta uma paciente para saber do seu filho, Rachel disse que Jhescy estava ansiosa, mas acordou ainda pouco, por isso deixe por último, caminho em direção ao seu quarto.
- Theo - escuto Felipe me chama - o exame. – ele balança o envelope em suas mãos.
Caminho até ele e pego o envelope branco com o nome de Charlote.
- O mais rápido que eu consegui Theo – ele diz.
- Obrigado Felipe – ele confirma com a cabeça e gira no calcanhar.Abro o envelope e lá está o Negativo, como imaginei. Charlote não aceita perder, e sabe que não a deixaria sozinha com uma criança, ela me quer ao seus pés, mas agora isso acabou, guardo o envelope e caminho em direção ao quarto de Jhescy.
Bato na porta do quarto e entro assim que uma voz doce me manda entrar.
É como tomar um choque, os olhos claros me convidam, o cabelo dourado de um natural tão intenso faz parecer que estou diante do sol.
Ela é linda e me sinto hipnotizado, talvez precise falar alguma coisa, mas não consigo, eu nunca fiquei travado assim.
- Senhorita Davins – estendo minha mão quando caminho para ela – Sou médico do seu filho, Doutor Theo Harris – sorrio, e ela sorri de volta. Vovó não disse que ela era tão linda assim.
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TUDO POR VOCÊ (Degustação)
RomanceO baile de formatura é o rito de passagem de qualquer adolescente norte-americano. Para alguns é só mais um baile comum, pra Jhescy Davins é a festa da sua vida. Com pais conservadores e religiosos, ela não teve uma adolescência comum. Mas como será...