arc en ciel

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Desde que você chegou, eu me deixei afundar.

Bom, na verdade eu estava caminhando insegura, na pontinha dos pés pela borda escorregadia demais para minha falta de equilíbrio. E você foi me puxando, como se tivesse certeza que eu saberia nadar.

(Eu não sabia).

E eu poderia perceber de início como fazia mal ter necessidade de ser segurada a todo momento por alguém de mãos não tão firmes, por alguém de mãos não tão certas, por alguém de mãos que não se encaixavam com as minhas. Alguém raso em quem parecia uma boa ideia me afogar.

(Mas eu não queria).

O sorriso de lado, o jeito nada desajeitado, tão diferente de mim. Todo mundo tão igual e, de repente: você. Tão você.

Pra que acostumar o meu querer noutro lugar quando eu pensava que podia fazer morada em ti?

Pensava.

Até você me mostrar que seu coração era tão frágil quanto tuas mãos, que hora me seguravam, hora me soltavam... Frágil a ponto de não suportar algo tão forte quanto o amor que eu tinha para te dar.

Mas meu amor é valioso demais para corações frágeis e o teu amor é preguiçoso demais para o meu coração esperançoso.

(Uma pessoa cativante em meio à tantos irresponsáveis é algo perigoso...)

Eu já nem sabia se me fazia ou desfazia em ti. Era o desconforto em olhares, o desencontro de almas, a desorganização das palavras e o desaconchego no teu abraço que gritava como tudo havia mudado.

Então, eu decidi ir.

Por muito tempo defini como "desistir". Desistir de algo que talvez tivesse um futuro melhor.

Mas tudo em mim estava sendo afetado com o teu orgulho.
Arritmia cardíaca é coisa séria, e meus batimentos acelerados já não eram de felicidade quando tu estava por perto.

Soltei a mão junto de ti, mas fomos para lados opostos.

O afastamento lento, esquisito, que nos deixava angustiados e aliviados ao mesmo tempo... foi a última coisa que fizemos juntos. Empacotar aquele depósito de sentimentos que não servia mais.

Será que você sente falta de algo?

Não é uma reclamação, é um dúvida honesta. Até por que eu não quero consolo.

É que eu senti, por muito tempo. Até o meu brigadeiro não ter mais graça no cheiro porquê eu não iria dividi-lo com você. Até a ideia de assistir um filme em minha própria companhia parecer solitária demais. Até eu não conseguir dormir tão tranquila tendo apenas o travesseiro para abraçar.

Eu senti, mas não quero de volta. É uma dúvida realmente honesta.

Eu fazia diferença em ti como tu fazia em mim? De forma boa, de forma ruim.

Eu queria pelo menos saber que a minha falta te doeu de um jeito bonito.
Eu poderia tirar outro poema disso. Eu saberia que pelo menos você não levou a minha parte cheia de arte consigo.

Porque você levou algumas coisas minhas: meu tempo; uma das minhas tintas mais bonitas; a escova de dentes antiga que ainda deve estar no fundo da tua mochila; uma caixinha de chá (que se foi junto com a minha paz).

E nada disso você devolveu — mesmo sabendo que meu tempo é valioso e minha cor favorita é amarelo.

Mas tudo bem.
Me sacrifiquei tanto para ser recíproco de verdade, que demorou para eu entender que a vida é feita de escolhas.
O amor é uma escolha — e você resolveu não me escolher. Não digo que é certo ou errado, é apenas um fato e quem sou eu para julgar as prioridades de alguém.

Minha paz de agora é diferente. Tem o gosto doce de camomila que eu encontrei em outro alguém. Alguém inimaginável de bom e que aos pouquinhos te preencheu.

(Acho que é assim que lido com as coisas. Em doses homeopáticas, passos de bebê).

Então, obrigada por me ensinar a escorregar, afundar, me afogar. É como funciona quando estamos aprendendo a nadar sozinhos.
E obrigada por me ensinar que não se nada em reservatórios de água rasos demais para amores profundos.

A minha paz de agora é tomar gloriosos banhos de chuva em mim mesma.






(esperando pelo arco-íris).

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