11- Quadros de Amélia.

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"Para ganhar aquilo que vale a pena ter, pode ser necessário perder tudo mais."

Bernadette Devlin.

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stado parecia não ser suficiente para Alba. Ele precisava de algo mais. E eu, de alguma forma, sentia que estava começando a entender essa luta silenciosa que ele travava dentro de si, sempre na tentativa de provar algo que ninguém parecia querer ver.

Nicholas parecia genuíno quando me disse que tentaria se dar bem com Lucien, mas eu não conseguia deixar de imaginar a reação dele se algum dia descobrisse a traição de Amélia. Eu podia até ver o choque nos olhos de Nicholas, a frustração, a raiva. A relação entre os irmãos parecia sempre ser marcada por uma linha tênue de competição e orgulho, mas se isso viesse à tona, tudo poderia desmoronar.

— Verdade! O meu cunhadinho tem muito talento. — Sam disse, e a atmosfera ao redor ficou instantaneamente tensa. A maneira como ela falou parecia ter sido uma provocação involuntária, e rapidamente ela percebeu o peso de suas palavras.

— Claro que seu cunhado é muito talentoso, Samantha. — Alba falou, e o tom de sua voz estava carregado de uma superioridade gélida. — O Nicholas tornou a Campbell Emprise uma das maiores empresas do país. Eu sempre soube que aquela empresa era pra ser liderada por ele... Não sei se com o Lucien à frente a empresa teria crescido tanto assim. — Ela fez uma pausa, como se estivesse jogando uma pedra no vidro da confiança de Lucien, e seus olhos brilharam com uma frieza cortante. A comparação estava claramente doendo, e eu podia ver como Lucien a sentia, mesmo que ele tentasse disfarçar.

Era automático. Cada palavra que ela dizia tinha o efeito de rebaixar Lucien, como se fosse uma necessidade compulsiva para reafirmar o lugar que ela acreditava que ele ocupava, ou melhor, a falta dele nesse lugar. E ela sempre fazia isso sem remorso, com a facilidade de quem diz algo evidente e natural, como se fosse simplesmente a realidade do mundo.

— Alba, mas o cunhado a que me referia era o próprio Lucien. — Samantha falou, com um tom irônico e provocador, seus olhos brilhando com malícia. — Mesmo ele não sendo mais, eu não perdi o costume. Espero que não ligue pra isso, Nicholas... Irmãzinha. — Ela sorriu inocentemente, como se o veneno em suas palavras fosse inofensivo, um disfarce perfeito para a provocação que acabara de fazer.

"Quem não te conhece, que te compre", pensei comigo mesma, mas não falei em voz alta. Era como se Samantha tivesse uma habilidade especial de parecer fofa e encantadora enquanto jogava as palavras mais afiadas. E por mais que Lucien tentasse manter a compostura, eu via a tensão nos ombros dele, a rigidez no rosto, como se estivesse se preparando para o impacto da próxima cutucada que ele sabia que viria.

Era uma dança que se repetia, onde cada palavra era uma jogada, e cada olhar era uma mensagem não dita. Aquelas pequenas farpas, mais disfarçadas de elogios ou piadas do que críticas diretas, faziam mais mal do que qualquer confronto aberto. E o pior era que ninguém ali parecia perceber o peso delas.

— Não ligamos pra isso, não é, querida? — Nicholas disse, lançando um sorriso forçado em direção a Amélia, seus olhos vazios de qualquer calor genuíno. Ele parecia tentar manter a cortesia, mas a tensão entre os dois estava explícita, como uma parede invisível que ninguém se atrevia a tocar.

— Claro que não, meu amor. — Amélia respondeu com um sorriso amarelo, tentando aparentar que tudo estava bem, mas eu podia ver a falsidade em cada curva de seus lábios. Seu tom era doce demais para ser verdadeiro, uma tentativa desesperada de esconder a fissura que se formava entre eles.

A tensão no ar era palpável. O jogo entre eles estava tão claro, mas ninguém se atrevia a quebrar a fachada. Todos sabiam que por trás do sorriso e das palavras educadas, havia algo muito mais profundo e sombrio, como uma rachadura prestes a se expandir.

REALIDADE PARALELAOnde histórias criam vida. Descubra agora