Novembro de 1920
Islington,Londres
O dia na fábrica representava o inferno na terra. O galpão por ser fechado e as poucas, e minúsculas, janelas não davam conta de receber todo o vento da aclamada Londres. E por mais que Annelisie odiasse todo esse calor e o suor grudado no seu corpo devido a calça com pano grosso, ela não podia descansar nem por míseros segundos.
—Então, irmãs, como está a produção de hoje? Precisam de alguma coisa?- Enquanto percorria o longo caminho até sua sala, se dispunha a tentar ajudar as trabalhadoras uma vez que o calor prejudicava a energia de todas.
—A rolagem sete precisa de mais corante e caulino e a rolagem três está com uma trabalhadora a menos. -Elisabeth, com os seus saltos baixos e barulhentos, logo veio ao seu encontro para listar os deveres do dia.
Elisabeth Jean, sua assistente pessoal, foi delicadamente desenhada por algo divino. Tinha fios encaracolados e escuros, para combinar com seus olhos castanhos, uma pele bronzeada e altura mediana que superava a estimativa do país. Apesar do físico ser interessante era o seu intelectual que por ser estonteante deveria ser prestigiado por todos, a mulher era também um símbolo de coragem e força que inspirava muita mulheres, incluindo Annelisie.
—Irei verificar a causa da ausência de caulino com Dimitri, Elisabeth. -Anne pode ver o rubor na maçã do rosto e os olhos brilhantes da sua ajudante. —E outra coisa, preciso que procure por algumas informações para mim, com muita discrição.
—Deveria procurar pelo o que?
—Na verdade, por quem. -Anne fechou a porta atrás de si esperando que Elisabeth sentasse em frente a sua mesa. —Os Peaky Blinders.
Silêncio.
Respiração pesada.
E mais silêncio.
—Anne... -Nem ao menos Elisabeth encontrava palavras para expressar a surpresa e o medo do interesse da jovem a sua frente pela gangue.
—Beth, sei o que irá dizer. Não preciso ouvir aquele discurso novamente, sei o que estou fazendo.
Annelisie Smith, claramente, não sabia o que estava fazendo.
—Não estou dizendo que você não sabe o que está fazendo apenas que, acredite em mim, esse não é o ideal momento para entrar nessa cova. Há uma disputa sangrenta entre homens com pura ambição e impulsividade, eles não medem forças quando estão em guerra portanto talvez seja melhor esperar e ter cuidado, Annelisie.
—Ter cuidado? Esperar? Não dá mais. Eu esperei por três longos e miseráveis anos para colocar fogo em Jackson e toda a sua corja, não consigo segurar mais essa bomba em mim. É demais!
Não era o apetite pelo poder que impulsionava Annelisie a prosseguir com essa discórdia, era a cólera por tudo o que seu padrasto simbolizava. Nunca conhecerá um homem que pudesse causar tanto nojo e repulsa como ele, desde ao simples olhar de desprezo e superioridade até as palavras cruéis e bárbaras. Se pudesse descreve-lo em uma única palavra seria desumano.
—Henry não consegue mais me auxiliar, Alfie Solomons não aceitou me ajudar e Dimitri não é um possibilidade.
—E você acha que Thomas Shelby irá ajudar?
—Não de bom grado, por isso eu preciso de informações para encontrar o pagamento ideal pelos serviços dele. Não era você que tinha um conhecido em Small Heath, Elisabeth? Lembro-me muito bem de você despejar histórias sobre o misterioso homem de Birmingham e as aventuras que passou com ele.-Anne gargalhou quando presenciou a timidez refletir nos olhos da sua assistente por alguns segundos.
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Liberté || Thomas Shelby
ActionAnnelisie Smith poderia lidar com a doença pungente da sua mãe,com os sumiços e a imprudência de Dimitri ou até mesmo com a escória da sociedade machista que continuava a julgar seus negócios porém não com Jackson William,seu padrasto selvagem. Com...