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O CALOR NA CALIFÓRNIA costumava ser penetrante

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O CALOR NA CALIFÓRNIA costumava ser penetrante. A impiedade do sol era gigantesca. Não o importava se as pessoas teriam suas cabeças fritadas a qualquer momento por passarem pela calorenta cidade. Ele não ligava se causava dor. Não ligava se causava estresse e cansaço nas pessoas. O calor era forte, mas naquele momento, no auge do inverno, o sol foi embora, dando espaço apenas para o céu cinzento, as brisas cortantes e os chuviscos que iam e vinham da maneira mais serena e discreta possível.

E no meio daquela pequena garoa, estava um garoto velejando com sua bicicleta surrada no meio das ruas da Califórnia. Seu rosto magricela possuia uma pele fina e sensível, gerando consequentemente bochechas numa coloração febril extremamente congeladas e sardas similares à meros resquícios de fuligem. Os lábios também haviam sido afetados pela ventania. Estavam ressecados e com cortes pela região. Quando umidecidos, Finn podia sentir um incômodo surgir e um pequeno gosto metálico descer vívido em sua garganta. E seu corpo não parecia aguentar nem o próprio peso de tão machucado que estava.

Após dois quarteirões inteiros quase sentindo sua pele chamuscar de tão fria e dolorosa, os pneus arrastaram bruscamente naquele asfalto, anunciando o término daquela corrida. Finn largou sua bicicleta em desleixo na entrada da casa, nem ao menos se importando em verificar seu veículo por uma última vez. Seu único intuíto naquele momento era tragar o cigarro situado em seu bolso, assim o fazendo depois de acender com seu isqueiro.

A dificuldade de tragar o tabaco enrolado repleto de nicotina era visível no rosto de Wolfhard. Os lábios do garoto não tinham apenas cortes por conta do vento gelado, estavam doloridos e inchados, e quando o cigarro insistia em rolar para o lado ferido, Finn podia sentir uma dor aguda surgir, mas nada que o fizesse largar o cigarro. Esse era um dos resultados depois de uma briga na escola.

Quando chegou no hall de entrada, Wolfhard soltou um suspiro pesaroso e pôs as mãos no metal frio, sentindo uma breve corrente elétrica percorrer por todo seu corpo e calafrios arrepiarem cada pelo de sua corpulência esquálida e magra.
Já previa os sermões que seu pai daria quando visse os ferimentos vistosos em seu rosto. O repetitivo discurso de como se portar ecoou de forma tediosa na mente de Wolfhard, mesmo ele sabendo que uma hora ou outra teria de ouvir, então, apenas adentrou a casa.

— Boa tarde — disse a voz rouca num tom fracamente animado.

O homem não pareceu importado ao ver em que estado seu filho estaria. Já podia imaginar o estado deplorável em sua mente. Era quase impossível imaginar que Finn iria pra casa com o corpo cem por cento livre de escoriações. O homem sabia que isso duraria até o término da faculdade de Wolfhard. Então, seus únicos atos naquele momento foram remexer-se na poltrona de couro, respirar fundo e empurrar seus óculos para trás depois que eles escorregaram para a ponta de seu fino nariz. Isso fez Finn estranhar o homem vestido com um terno. Não era comum o ato, mas não questionou, apenas sentiu um alívio no peito em não ter que ouvir os sermões intragáveis do pai.

Embers of Winter | FadieOnde histórias criam vida. Descubra agora