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DENTRO DE SEU quarto, Sadie podia escutar os gritos dos seus pais

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DENTRO DE SEU quarto, Sadie podia escutar os gritos dos seus pais. Os gritos entupidos de ódio. Os mesmos gritos que Sink ouvia praticamente todas as noites. Gritos traumatizantes.

Desde pequena, era comum ver seus pais brigando com um típica coloração vermelha em suas faces. Perguntava a si mesma à noite o porquê de não se separarem logo, afinal, quando um casal não está feliz o certo é o divórcio, não é? Essa pergunta rondeava Sadie todas as noites, mas nunca encontrou uma respostas palpável.

Com o tempo, Sadie foi entendendo a situação; não era divórcio. Não era tão simples assim. Seus pais tinham que transparecer a família perfeita, afinal, seu pai era um grande empresário e sua mãe era uma modelo. Não podiam separar. Queriam mostrar a família tradicional almejada por todos.

Após o primeiro grito de sua mãe, Sadie fechou seu diário de folhas amareladas num estalo. Correu para sua cama e enfiou-se de baixo da grossa cobertura do edredom e tratou aquilo com se fosse seu único porto seguro. Totalmente em vão. A primeira vidraça que chocou-se contra a parede ecoou com um barulho estridente e traumatizante. Sadie encolheu-se ainda mais naquela cama e comprimiu os olhos querendo que aquilo tudo sumisse num estalar de dedos.

Um novo ruído estridente surgiu, mas dessas vez, Sadie levantou da cama e andou até a porta do quarto escuro. Temia que fizesse o mínimo rugido no soalho de madeira escura. Temia qualquer barulho. Não queria que seus pais escutassem, embora parecessem ocupados demais gritando um com o outro.
Girou a maçaneta onde depositava toda sua seriedade pra fazer o mínimo barulho possível e quando finalmente abriu a porta o suficiente para passar, correu para as escadas e sem ao menos se importar em voltar para seu quarto, correu para a porta de saída. Seus pais estavam no quarto que era próximo ao seu, então, a parte mais difícil havia passado.

As brisas de fim de tarde já estavam presentes assim como o nuance que se fazia no céu, o que foi uma ótima deixa para Sadie ir o lugar que passeou por sua mente a semana inteira. O lugar que um cacheado de roupas surradas a apresentou de um jeito muito conveniente.

Pegou a bicicleta jogada na grama e subiu. Respirou fundo antes de olhar uma última vez para a casa. Ela parecia muito quieta por fora.
Começou a pedalar quase que automaticamente ao ver o sol acanhado se esconder atrás das grandes montanhas, dando espaço apenas para os pontos cintilantes e o satélite natural cujo nutria uma luz pálida para si.

Sadie percebeu que estava longe de casa quando virou-se para trás e percebeu que ela estava fora do seu campo de visão. Suas glândulas lacrimais parecem inundar seus olhos, mas Sadie não podia permitir que chorasse ali no meio da rua. E rapidamente — quase que de forma involuntária — Sadie secou as lágrimas com o dorso de sua mão, quase perdendo o controle que tinha sobre o guidão da surrada bicicleta. Virou um pouco para lado, mas após um suspiro pesaroso, se recompôs.

Traçou o mesmo caminho que Finn, chegou na ladeira e começou a corrida no aclive com um esforço pouco excessivo. E quando terminou, deparou-se com o panorama que parecia conhecer há anos. Os milhares de pontos das luzes espalhados por cada canto do horizonte e no fim, montanhas grandes o bastante para esconder o sol atrás de seus relevos.

A lua já estava presente e pequenos pingos reluzentes já eram vívidos no céu, dando um certo destaque para a amplidão azul marinho, quase preta.

Deitou naquela grama e respirou fundo enquanto olhava as constelações presentes. Permitiu que a torneira habitada em seus olhos fosse aberta e despejasse todo o líquido instalado ali. As lágrimas caíam com certa delicadeza rente a pele de Sink, como se não quisesse feri-la exteriormente de tão macia e tênue que era.
Os olhos agora fixavam o céu como se buscassem por um ponto fixo de paz. Era impossível quando a mente é barulhenta e as circunstâncias não são as melhores. Sadie sabia que mesmo que tentasse ser forte, uma hora tudo voltaria em abundância. Parecia carregar o mundo sobre as costas. E não era apenas os problemas com sua família aparentemente perfeita e desejável por todos. Era seus problemas amorosos também. Não sabia o porquê, mas após uma semana andando com Wolfhard, sentiu sua mente a pertubar com a figura de cachos bagunçados e roupas largas e desbotadas demais para si. Tudo estava um caos.

Arrancando a grama daquele chão enquanto mantinha os olhos fixos no céu, Sadie respirou fundo enquanto sentiu o frio a atingi-la. A estrelas refletiam em suas orbes, agora, escuras. As estrelas admiravam a melancólica ruiva enquanto iluminavam sua noite. Perguntavam uma as outras o que aquela garota lastimada fazia sozinha naquela rua. Mas por alguma razão, souberam que não era algo bom. Que a cabeça jovem de Sink não a deixaria em paz enquanto não consertasse aquele quebra-cabeça de mil peças que era sua vida.

Por alguma razão, Sadie imaginou que Finn estaria ali. Pensou que seus cachos negros surgiriam ao léu com a brisa noturna. Sabia que ele não estava lá. E como Sadie também queria Wolfhard perto de si, deixou praticamente claro que precisava de um tempo. E ela precisava, afinal, Finn também era responsável por um de seus problemas. Queria estar em sua própria bolha usufruindo de uma intensa tranquilidade, e mesmo estando num lugar quieto, seu subconsciente ainda gritava.

Sadie permaneceu por um bom tempo pensando. Pensando em todos seus problemas e como os resolveria. E quando viu-se sem saída, levantou daquele gramado, limpou o dorso do vestido xadrez vermelho e rumou para a bicicleta jogada no chão.

Iniciou o trajeto até sua casa em uma grande feição melancólica. Pensou que tudo havia cessado, e ainda bem que a quietude reinava no lugar.

Adentrando a casa escura, Sadie tentou fazer o mínimo barulho, mas por algum motivo, deparou-se com seu pai descendo as escadas com um aspecto visivelmente cansado enquanto carregava com dificuldade uma mala grande.

Logo atrás vinha sua mãe num estado deplorável e seus irmãos quase que em ordem cronológica; Tyler, Amber e Angel, seus irmãos mais velhos e Sunny, sua irmã mais nova no colo de Amber. Todos eles confusos e com lágrimas intermináveis escorrendo em seus rostos. E Tyler, o irmão mais velho, carregava uma outra mala do pai. Foi para fora de casa e induziu seus outros irmãos a fazerem o mesmo juntamente com a mãe.

Olharam da entrada da casa o pai guardar as coisas e acenar antes de dar partida com o carro. Sadie sentiu o mundo desmoronar dentro de si. Como se qualquer resquício de sentimento bom sumisse. Tudo estava opaco. Seu pai não deu o trabalho de se desperdir e nem avisou quando voltaria, simplesmente foi.

Sink sentou no gramado que rondeava a casa e viu seus outros irmãos fazerem o mesmo enquanto viam o carro sumir daquela estrada.

— Foi melhor assim — respondeu a mulher antes de adentrar a casa e deixar os filhos ali.

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Nota da autora:

Difícil de escrever esse capítulo.

— Anna☆

Embers of Winter | FadieOnde histórias criam vida. Descubra agora