Capítulo 30

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          Eles tinham quase 3 meses de namoro quando tiveram a primeira briga.

          Tinha começado de forma sutil – como muitas brigas começam. Dessa vez Baz tinha vindo passar a noite na casa de Simon e o plano incluía – na cabeça de Simon, como combinado – pedir um delivery de sushi e uma noite de filmes bem longa, que acabaria na cama e, no dia seguinte, com um café e a versão favorita de Baz – o Baz que, ainda amassado de sono, não tinha tido tempo de se arrumar.

          Mas quando Baz chegou, largando a bolsa no cabideiro com força e indo direto na cozinha, mal parando para dar um beijo de boas vindas em Simon, ele percebeu que havia algo diferente.

          A gente percebe essas coisas.

          A discussão começou por algo na cozinha – em determinado momento Simon nem lembrava mais, a louça fora do lugar? Alguma suposta mania de Simon que irritava Baz? Já não fazia diferença, porque a briga tinha escalado e girado tanto que tinha ido parar na Agatha.

          — Sabe, Simon às vezes eu acho, não sei porque, que você vai acordar um dia e olhar pra mim, e depois olhar pra aquele monte de mãe e professoras bonitas na escola e vai fazer como fez com a Agatha. — Baz soltou, num tom mais alto que o usual — Que eu vou olhar pro lado, e você vai estar beijando uma garota bonita e me pôr pra escanteio.

          Simon nem sabia o que responder a isso. Parecia a coisa mais absurda que ele já tinha escutado. Abria e fechava a boca enquanto olhava pra Baz, tentando formular algo que fizesse sentido. No final só saiu um "o quê?"

          — Eu vi o jeito que a Ana olhava pra você, Simon, naquele dia, quando você foi pegar a Lucy na escola. Toda de sorrisinho, jogando o cabelo pro lado. — Baz disse, jogando os braços pro alto, exasperado.

          — Meu deus, quem? — a aflição de ver Baz tão irritado e de nem sequer ter certeza do que ele estava falando também começava a irritar Simon. De onde isso tudo tinha vindo? — Do que você tá falando?

          — Não interessa quem é. Não dessa vez. O ponto é que, Simon — Baz respirava alto, e não o olhava nos olhos — Se for pra eu olhar pro lado e descobrir que eu fui trocado por uma menina bonita de novo, por você, eu não quero. Doeu naquela época e vai doer ainda mais agora.

          A voz de Baz, nesse último momento, ficou mais baixa e, de repente, ele não parecia estar com tanta raiva. Não exatamente. Parecia derrotado. Cansado. A raiva que estava começando a se formar em Simon esfriou ao ver a expressão de Baz. Colocou as mãos no rosto do outro de forma delicada, fazendo com que se encarassem.

          — Ei. Eu não vou a lugar nenhum com ninguém, Baz. Lugar nenhum. — E Simon sabia que o que estava falando era simples e principalmente, sincero. Ao ver os olhos de Baz, ainda um pouco perdidos, disse — Quer conversar sobre o Ensino Médio?

          — Não muito — Baz respondeu, desviando o olhar.

          — Mas eu acho que a gente deveria. Eu vou contar o meu lado da história primeiro e depois você me conta o seu, que tal?

          Baz não protestou mais. Só escutou enquanto Simon narrava a sua versão daquela época. Falou sobre como ele tinha se surpreendido de terem se tornados tão próximos tão rápido. Falou sobre como se sentia bem com Baz naquela época. Falou como tinha gostado muito de terem se tornados amigos e que gostava muito de Baz. E falou sobre as sensações, sobre como se sentia perto de Baz, como era... diferente.

          Falou sobre como na época não sabia o que significavam as sensações e as vontades – ele ainda não tinha, como dizem as pessoas, dado nome aos bois. E falou sobre a paixonite pela Agatha, nutrida por tanto tempo.

          — Baz, eu gostava dela. Realmente gostava. Hoje, sim, eu sei que, na época, o que eu sentia por você era... atração. Eu queria muito ficar contigo, só não sabia. — e parou pra rir de leve — Mas a Agatha, naquela época, era meu sonho de consumo, e tinha sido por anos. Então ela de repente pula em mim, no meio daquilo tudo? Doido demais. — Simon encarava as mãos dos dois, entrelaçadas em cima do sofá.

          — Simon... Aquilo doeu demais em mim. Eu já vinha notando algumas coisas sabe? — Baz começou — Eu tinha notado a forma como você olhava pra mim às vezes. E como eu olhava pra você de volta. E depois daquele momento na instalação...

          — Debaixo das estrelas de alumínio? Eu e você sozinhos, de mãos dadas?

          — Você lembra?

          — Claro que lembro.

          — Bom... ali a gente chegou tão perto e quando eu acordei no outro dia e te vi... eu estava decidido, eu ia tomar uma atitude. E aí quando olhei pro lado, lá estava ela. Eu fiquei tão mal, tão mal, Simon. Eu sentia tanta raiva.

           — Eu sei, meu bem. — E passou uma mão no cabelo de Baz — Sabe o que me doeu naquela época? Ver meu melhor amigo, que era um gato, me dando gelo do nada. Baz, por um instante eu até pensei que você gostasse da Agatha também. — com isso Baz deu uma risada — Eu sei, eu sei, isso foi totalmente sem rumo da minha parte, mas o ponto continua: eu perdi meu melhor amigo. Sem explicações.

          — Meu coração estava partido.

          — Eu entendo.

           — Eu precisei me afastar.

           — Tudo bem.

          — Voce me machucou demais, Simon.

          — Me desculpe, Baz. — Simon puxou Baz de leve, para que encostassem os rostos — Não vai acontecer de novo. Porque eu amo você. Eu não te amava na época, mas eu amo você e amo o que temos. — E era verdade. Também era a primeira vez que ele dizia em voz alta.

          Baz demorou um pouco a responder, mas Simon não se incomodou. Só deixou as palavras pairarem no ar. Quando a resposta veio, ela veio sussurrada.

          — Você também amava Agatha. — A voz de Baz era fraca e delicada. Simon abriu os olhos e encontrou o acinzentado do outro. Encarou com intensidade.

          — Não como eu amo você. Acredite em mim.

          — Eu também te amo.

          Simon poderia voar.


Um papo serio e importante que eu queria colocar desde o inicio da historia. Espero que vcs tenham entendido o que o Simon e o Baz quiseram dizer, não quero que ninguem ache que no passado eles foram escrotos...

Alem disso tivemos nossos primeiros "eu te amo"s !!!!!! aaaa

Como sempre meu agradecimento a Lolli e a todos que acompanham!! 


Beijinhos e até sexta <3

Timing PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora