O cheiro das tâmaras inundaram suas narinas assim que pôs os pés no cômodo, logo depois kaftas e outros pratos típicos do Egito preencheram o recinto. Ela andou até a grande mesa onde estava disperso os pratos mais apreciados pelos deuses, mas, seus olhos pararam nele. Sentado em um dos estofados, Anúbis soboreava a comida ao lado de Sekhmet e não foi só o cheiro da comida que a felina sentiu.
— Parece que estamos encrencados pelas suas travessuras — Anúbis falou, assim que Bastet se juntou a eles.
— E esse cheiro adocicado em você? — ela indagou, olhando o deus. — Andou acasalando com as sacerdotisas de novo?
— Sacerdotisas? — Sekhmet interviu. — Esse perfume é um dos mais doces, nenhuma sacerdotisa conseguiria algo tão renomado.
Bastet também suspeitava que era alguém além de uma simples serva e humana, mas não se prendeu a isso aliás quem se deitava ou não com Anúbis não tinha utilidade nenhuma para ela.
— Agora as duas viraram especialista em perfumaria — Anúbis olhou cético para elas, os cabelos castanhos cobriam as sobrancelhas grossas dele.
— Então por que está nervoso — interveio Bastet, aumentando a discórdia entre eles.
— Por que por causa de seu infortúnio estou aqui.
Claro que ele ia jogar a culpa sobre ela, Anúbis era tão astuto quanto Hades, Hades… a menção do nome do deus fez o turbilhão de sentimentos enche-la, ainda não entendia como ou porque dele a usá-la e não negou o quão ficou decepcionada. Sem querer a deusa sentia uma empatia por ele.
— Rá não está contente com os dois — Sekhmet sorriu zombando, a pele negra brilhava sobre a luz das chamas do grande templo de Rá, que era sem dúvida a altura de sua grandeza.
Localizado em Heliópolis, centro de culto dos seus adoradores, o deus foi glorificado mesmo quando houve uma repressão por alguns governante, Rá sempre seria o guia solar dos humanos, sendo justo a onde era necessário. Logo, o deus surgiu pela entrada principal e em efeito instantâneo todos os servos curvaram-se e também os deuses.
O deus seguiu para mesa sentando-se no centro entre os demais, sem demora foi servido por um humano qualquer.
— Osíris, Ísis e Set não vão se juntar a nós? — inquiriu Anúbis confuso.
— O assunto não desrespeita a nenhum deles — Rá falou. — Aparentemente você e Bastet andam aprontando suponho.
— Bastet? E quando é que ela não está?
— Obrigada pela sua humilde consideração seu cachorro sujo — ela retrucou irônica, o que fez Sekhmet gargalhar.
— Você — Rá apontou para Anúbis. — Foi imprudente em mandar Bastet para o submundo e Bastet foi tola em não ponderar antes de ir.
— Ela não fez nada de tão impiedoso — retornou a Anúbis, o que deixou a deusa surpresa.
— Isso foi antes da morte de uma deusa asiática, não estamos lidando apenas com os gregos e vocês dois vão concertar essa bagunça.
— E o que o senhor sugere? — Bastet inquiriu, não deixou de provas uma das comidas em seu prato.
— Irei mandar os dois até o Olimpo, para esclarecer que nós não tomamos lugar em um possível conflito.
O silêncio reinou, por muito tempo ela ouvia sobre o Olimpo, o lar e centro de encontro dos gregos, mas nunca supôs que colocaria os pés ali e muito menos rever Hades, pois uma certeza Bastet tinha, ele estaria lá. Olharia em seus olhos, os mesmo olhos que não sentiu nenhum remorso em matar, não que ela nunca tinha derramado sangue durante a eternidade, contudo estava longe em sentir prazer sobre isso.
— Desculpe — ela começou ainda abalada. —, Mas eu não irei.
— Isto não está negociável — Rá foi ríspido. — Você vai e nem tente me persuadir em vão.
Ela também não voltou a insistir, sabia que começar uma intriga não ajudaria em nada. Levantou de uma vez e olhou para todos presentes.
— Se já acabou eu tenho que voltar — ela falou, Rá deu um aceno em confirmação.
Foi o necessário para a felina sair do templo, mas não para a casa, ficou perambulando pelo deserto com os finos grãos de areias sobre seus pés, o frio predominava no deserto durante a noite diferente do dia que era tão quente. A deusa percorreu um grande caminho pelas muralhas de areias que mudariam a cada deposição de grão, mas nada que ela já não conhecesse, poderia haver diversas mudanças e Bastet ainda saberia o caminho.
O rio Nilo continuava sendo a dádiva do Egito por séculos, abençoando a terra tornando fértil para o plantio e alimentação, ali foi início de uma civilização egípcia com suas cheias e secas.
Bastet não ficou surpresa ao descer no leito do rio e encontrar a tão adorada Ísis, tão bela. A deusa relaxava com os pés dentro da água.
— Bastet, quanto tempo — Ísis cumprimento com sua voz suave.
Ísis gesticulou para ela sentar ao seu lado, a ligação da mesma com rio Nilo era propagada pelo o mundo a fora. Após a morte de Osíris, Ísis ficou muito abalada chegando a chorar demasiadamente, suas lágrimas fizeram surgir os primeiros traços do que hoje é um dos rios mais relevantes, assim sendo relembrada eternamente como a deusa da maternidade, a mãe dos descendentes.
— Como anda Hórus? — Bastet indagou, tentando soar interessada, mas estava bem longe disso só queria ocupar a mente.
— Filhos… não há um dia que eu não me preocupe com aquele garoto — Riu com o semblante leve. — E você, como foi a conversa com ele.
Não precisou de esforços para sabe que se referia sobre o deus sol.
— Conturbado — respondeu inquieta, sabia que dali para frente o mundo dos deuses tendia a melhorar ou piorar.
— Rá quer o melhor para todos nós — Ísis sorriu, tranquilizando a felina, a deusa tinha esse pode.
— Acredita em uma guerra? — inquiriu depois de um tempo.
— Como disse, Rá vai evitar a todo custo, nos proteger é uma prioridade — ela falou, suas mãos correram pelas água seguindo a corrente. — Somos uma família.
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Bastet: Entre Deuses [LIVRO 1]
FantasiaOs deuses sempre foram indiferentes entre si, gregos, egípcios e indígenas. Todos possuiam seu orgulho intocável, mas nada que a intervenção de humanos para submetê-los a um encontro. Mas, toda causa tem uma consequência, ações sem meditar pode lev...