Correndo em uma velocidade anormal a gata percorria quarteirões das casas tradicionais daquela cidade do interior, os músculos da orelha felina seguiram o sons de patas pequenas correndo atrás. Portanto, a gata amarela não custou alcançar Bastet, os olhos pretos escondiam a maldade que ali habitava.
A deusa mudou sua rota entrando no primeiro beco que achou, sendo perseguida pela sua nova seguidora.
— O que está fazendo? — esbravejou a deusa sem paciência.
A gata amarela havia voltado em seu estado natural, enrolando as mechas loiras no indicador ela se divertia com o estresse da irmã.
— Senti cheiro de morte — retrucou despreocupada. — E também senti o seu…
Ela queria esquecer o que tinha visto algumas horas atrás, o sangue de Bai She Zhuan recobrindo o chão, Cérbero se deliciando e Hades. Contudo, a deusa de olhos pretos na sua frente não deixaria margem para a felina esquecer.
— Eu não…
— Mas sei que não foi você — interrompeu Sekhmet. — Você não tem coragem de matar um rato sujo por diversão.
Bastet fuzilou com os olhos sua irmã, a deusa da violência e justiça, representada muitas vezes com ferocidade, era enviada de Rá ao mundo dos humanos para executar justiça e algumas descobertas inusitadas. A felina representada como uma leoa, se aproximou de Bastet e tornou a farejar sem nenhum pudor.
— É não foi mesmo você — Sekhmet falou, depois de se afastar.
— Se já terminou a inspeção, pode voltar para Mênfis — Bastet disse, se referindo a cidade onde localizava-se o templo de sua irmã.
Não muito diferente da gata, Sekhmet tinha seus adoradores apesar de que muitos nutriam um certo medo da deusa, desde que Rá ordenou que a mesma destruísse os humanos que conspiravam contra ele, porém ela foi além ao nível que o deus sol teve que intervir.
— Cordialidade está em falta em você, irmã — Sekhmet falou, os cabelos loiros com sua pele negra emolduravam um beleza digna. — Ainda está com raiva pela sua serva, qual seu nome mesmo ? Ana ?
— Azila — Retorquiu, contendo sua raiva ao lembrar que a deusa leoa tentou falhamente matar sua serva.
Por motivos bobos Sekhmet sempre despejava sua fúria em qualquer e seus servos não eram isentos disso, chegando até afetar outros servos de deuses. Azila foi uma boa prova, quando acidentalmente ter deixado um gota de vinho cair sobro o vestido da deusa, foi o bastante para despertar o desejo de Sekhmet mata-la se não fosse a intervenção de Rá, Azila não passaria de cinzas.
Bastet ainda se lembrava quão furiosa sua irmã ficou, o que chegava a ser uma ironia, pois Bastet não carregava o mesmo ódio e senso de justiça de Sekhmet mesmo as duas sendo filhas de Rá.
— Pare de me seguir e volte pra casa — Bastet disse, saindo do beco escuro que fedia a lixo dos mortais.
— Ser domesticada por humanos não faz meu tipo de diversão — alfinetou a deusa. — Rá quer vê-la, esperamos você para o jantar.
Olhando pelo telescópio Malu estava concentrada na tarefa, a estrela observada a quilômetros de distância brilhava no céu escurecendo, um tipo de privilégio que pessoas morando nos centros urbanos não tinha já que a poluição de luzes não permitia. Então com frequência Malu carregava o telescópio até o gramado ao lado da casa e apontava para qualquer lugar no céu, como hoje ela teve sorte de achar algo.
Como sempre em companheirismo, Bastet deitou ao lado de Malu, a gata balançava o rabo com satisfação enquanto John estendia a toalha na grama para não deixar a filha sozinha fora, ele limpava o óculos na camisa laranja.
— Papai — Malu o chamou. — Para onde as estrelas vão quando morrem.
John arregalou os olhos pretos supreso com a pergunta repentina da filha, ainda ficava surpreendido com a inteligência da pequena.
— Bem... — Ele coçou os cabelos castanhos. — Essa é uma pergunta que sua mãe tem a resposta, mas se quiser saber de artefatos antigos responderei todas.
A criança não escondeu sua frustração, mas não tardou em olhar novamente a estrela.
— Tia Nanda disse que o senhor só mexe com tralhas velhas.
— É mesmo — John riu, Nanda como sua irmã executava muito bem seu papel de implicante.
A deusa os olhou, a relação daquela família era harmoniosa mesmo com alguns problemas, mas a prioridade de John e Bruna era sempre Malu, a felicidade da filha era a realização deles depois de altos e baixo na vida amorosa.
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Bastet: Entre Deuses [LIVRO 1]
FantasiOs deuses sempre foram indiferentes entre si, gregos, egípcios e indígenas. Todos possuiam seu orgulho intocável, mas nada que a intervenção de humanos para submetê-los a um encontro. Mas, toda causa tem uma consequência, ações sem meditar pode lev...