Com amor, Romeu.

Capítulo 3

"A paciência faz contra as ofensas o mesmo que as roupas fazem contra o frio; pois, se vestires mais roupas conforme o inverno aumenta, tal frio não te poderá afetar. De modo semelhante, a paciência deve crescer em relação às grandes ofensas; tais injúrias não poderão afetar a tua mente"

Leonardo Da Vinci

Já é quase junho e nesse intervalo de três meses tivemos duas audições. Hoje, com a última delas, se encerra a escolha dos personagens. O que na minha opinião é bom, já que depois desta, não precisarei mais apresentar-me.

Todos estávamos sentados nas cadeiras do auditório, senhorita Cassandra escolheu um trecho de Romeu e Julieta para todos, no qual na primeira audição éramos a maioria Romeu ou Julieta. Meu papel na segunda audição mudou para Rosalina, prima de Julieta, e assim permanece até hoje.

-Jade... E Lucas!

Dei um pulo quando a professora chamou meu nome, eu estava desconcentrada, perdida em meus pensamentos. Levantei-me e fui até o palco. Rodrigo estava com o papel de Romeu hoje, particularmente, combina perfeitamente com ele.

Rodrigo é alto, possui pele clara e cabelos escuros, seus olhos são de um castanho bem claro, quase mel. Há quem perceba que sua reputação na escola é enorme, a maioria das garotas caem de amores por ele, que por sua vez, não deixa escapar nenhuma oportunidade de conhecer alguém...

Realizamos a audição que não era das mais difíceis. A cena se baseava no rompimento do noivado de Rosalina e Romeu, que por sua vez já estava apaixonado por Julieta.

Ao fim de todos os testes, a professora Cassandra anuncia quem irá permanecer na peça e seus respectivos papéis:

· Elisabeth Valentim – Julieta Capuleto

· Fernando Alves – Frei João

· Ingrid Julia Mendes - Lady Capuleto

· Otávio Bertanha - Páris

· Jade Garcia - Rosalina

· Victor Amaro Rocha – Príncipe Escalo

· Bruno Ávila – Lord Montague

· Gabriel Antáro Júnior – Lorde Capuleto

· Isadora Mercedes – Lady Montague

· João Cabral Júnior - Benvólio

· Renato Velásquez – Teobaldo

· Gabrielle Fagundes - A Ama

· Lucas Novaes - Romeu

· Rodrigo Sanches - Mercúcio

· Ícaro Giovanni Santos – Frei Lourenço

Em estado de choque, Ícaro sacudia-me freneticamente, eu não acreditava, dei meu pior nos ensaios e ainda havia sido escolhida. Sem falar com Ícaro, corri até a professora e tentei contornar a situação.

-Mas você é boa Jade, ganhou o papel por mérito. Senhorita Cassandra dizia enquanto organizava uma papelada.

-A senhora não entende, eu não gosto de atuar, não nasci para isto...

-Isso pode ser ótimo para seu currículo de hum... é... O que você quer fazer mesmo?

-Bom, eu quero fazer licenciatura em história.

-Isso! Será ótimo para você saber os períodos da literatura mundial.

Particularmente falando, ela sabe como convencer alguém.

-Tudo bem, "se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronta! Digam ao povo que fico."

-Sinceramente Jade, com esta interpretação perfeita de D. Pedro I, você poderá atuar na Broadway!

Viro e saio andando, frustrada por ter concordado com essa ideia maluca.

Assim que chego no estacionamento, envio uma mensagem pra Sabrina ir até minha casa, quero saber as novidades, já que ela não me chama para mais nada... Por fim, acho que os emojis de carinha triste são demais e opto por apenas a mensagem de texto.

Levo um susto, quando alguém chega ao meu lado, viro-me abruptamente e causo um desastre.

Acabo de derramar o refrigerante do Rodrigo nele. Sinto minhas pernas fraquejarem, ele não vai gritar comigo, vai? Ele não pode gritar comigo, pode? Odeio quando gritam comigo, sou muito emotiva para coisas do tipo. Todos sabemos que ele é o cara mais gato da escola, além de bem inteligente. Estou me sentindo super constrangida, coloco a mão sobre a boca quando ele segura meu braço fala:

-Ei, está tudo bem. Eu nem gostava dessa camisa. Bom, gostei da sua apresentação.

E é nesse exato momento que ele começa a tirar a camisa, ele está tirando a camisa na escola! Achei que fosse proibido. Bom, tecnicamente estamos no estacionamento, mas isso parece ser indiferente aos diretores! Eu o encaro, ele tem tanquinho tão definido e braços tão... tão musculosos! De repente ele começa a acenar na frente do meu rosto. Percebo que estou encarando seu abdômen e finjo um bocejo que espero ter sido bem-sucedido.

Ainda sem jeito eu falo:

-Bom, obrigada. Você também é bonito... Digo, bom. Você foi muito bem!

Rodrigo conseguiu o papel de Mercúcio, mas só porque a professora achou que era melhor colocar no papel principal seu sobrinho, Lucas. Mas onde eu estava com a cabeça para trocar as palavras, isso só me deixa mais envergonhada.

-Obrigado, é muita gentileza sua. Ei, será que poderia segurar isso para mim?

Ele me entrega a camisa enquanto pega algo na bolsa e eu peço mais algumas desculpas.

-Está tudo bem, eu sempre trago comigo uma camisa reserva. Nunca se sabe quando vou precisar. Não é mesmo?

Ele sorri e aponta para a camisa em minha mão. Concordo, meio desajeitada. Ele se troca e pega a camisa de volta, assim que vejo o carro da minha mãe entrando no estacionamento.

-Bom, tenho que ir. Vejo você por aí.

-Espere, o motivo de eu ter vindo aqui. É que eu quero saber se você gostaria de ir à festa comigo?

A festa! Eu havia me esquecido completamente. Eu não iria, até porque não havia ninguém para ir comigo, não até aquele instante.

-Achei que você fosse com alguma popular, sabe, caras como você não notam meninas como eu.

O que eu falei? Eu acabei de estragar tudo!

-Bom, eu estava esperando para te chamar. Mas, isso foi um não?

-Eu quero! Digo, quero sim, obrigada.

-Legal... Acho que você precisa ir embora agora...

-É, tenho. Obrigada e desculpe-me novamente.

Minha mãe já está buzinando, quando eu me viro e saio correndo. Entro no carro e Sabrina está lá. Minha mãe achou melhor trazê-la, afinal, ela já estava em casa me esperando.

Seguimos direto para casa, estou ansiosa pelas novidades. Como Sa sabe que não devemos falar sobre garotos perto de minha mãe, ela se mantém quieta até em casa, mas minha mãe não:

-Aquele não era Rodrigo Sanchez? Filho do dono da loja de carros do centro?

Assinto com um aceno, quero evitar ao máximo falar sobre ele.

-Ele está enorme! Faz tempo que não o vejo.

Claro que minha mãe iria se lembrar dele, nós éramos vizinhos há alguns anos, mas o pai teve a sorte de ganhar uma grande quantia numa aposta e se tornou um magnata. Mudaram-se para a parte rica da cidade e esqueceram-se da vida antiga.

Como não digo mais nada, o assunto morre e seguimos todas em silêncio, com Sabrina me olhando de esguelha.