Com amor, Romeu.

Capítulo 6

"A despedida é uma dor tão suave que te diria "boa noite" até o amanhecer..."

Willian Shakespeare

Assim que passo pela cozinha, noto um bilhete da minha mãe sobre a bancada da cozinha, dizendo para eu não a esperar para jantar, pois ela resolveu ir para o cinema com umas amigas do ensino médio.

Subo as escadas com umas guloseimas nas mãos, pois com o que acabou de acontecer, dormir é minha última opção no momento. Chego no quarto, coloco as comidinhas na cama e corro para colocar meu filme de romance favorito "Meu primeiro amor", que conta a história de uma garotinha de sete anos, Vada, órfã de mãe, cujo pai trabalha como agente funerário, fazendo assim, com que ela desenvolva hipocondria. Seu melhor amigo, Thomas J. gosta muito dela, que por sua vez, tem uma paixão platônica no professor. Quando Vada perde o anel herdado por sua mãe, Thomas J. resolve procurá-lo, mas acaba sendo atacado por abelhas e morre devido ao choque anafilático.

Quando o filme acaba, ainda não consigo dormir. Pego o celular, ainda atordoada com o final do filme, há uma mensagem do Rodrigo "Desculpe-me. Quando puder conversar, me avise, por favor."

Sem saber se devo responder agora ou não, resolvo tomar banho. Quando saio do banheiro, percebo que minha mãe já chegou da tal festa e foi dormir. Vou para a cama e respondo a mensagem do Rodrigo com um emoji de joinha. Sei que isso é seco demais, mas não estou com cabeça para respostas elaboradas.

Fico pensando no que pode acontecer no dia seguinte, se ele realmente for para a escola, como vai agir e, pior, como eu devo agir? Começo a me sentir triste, pois depois que meu pai faleceu, não tenho com quem conversar. Ele podia ter um jeito durão e fechado, mas era gentil e prestativo com todos, não era de sorrir para todos, mas tinha um coração enorme e bondoso.

Ele faleceu quando eu tinha quinze anos, em um acidente de carro. As imagens da câmera de uma loja mostraram que foi uma colisão em um cruzamento, onde um homem bêbado passou no sinal vermelho, atingindo o carro que meu pai estava, quando chegamos no local, algumas testemunhas relataram que ele ainda estivera consciente por alguns minutos, e que suas últimas palavras foram "A Jade sabe o que fazer". E eu sabia, ele gostaria que seus órgãos fossem doados e depois de tudo o que fosse bom, fosse para novos lugares, gostaria de ser cremado, e assim foi feito. O rapaz que recebeu seu coração entrou em contato conosco algum tempo depois, disse que foi um milagre, pois estava na fila de espera há muito tempo e nenhum coração era compatível. Disse que sentia muito pela nossa perda, mas não podia deixar de ser grato e pediu desculpas por isso. De vez em quando, ainda trocamos mensagens, ele é alguns meses mais velho que eu e gosta de ser chamado de Jordan, seu sobrenome. Dizia que era a única coisa boa que seu pai deixou para ele, já que ele amava o ídolo do basquete.

Quando percebi que estava me perdendo em pensamentos, tive um flash de memória e recordei-me de quando meu pai me ensinava escrever cartas, lembrei que havia um filme chamado "Cartas para Julieta" e que poderia ter algo a ver com a peça de teatro, resolvi, então, escrever cartas para meu falecido pai.

Querido pai,

Os dias andam um pouco lentos, sei que gostaria de me ver falando do meu progresso, mas as coisas andam um pouco complicadas ultimamente. Mamãe voltou a sair, mas percebo que ela ainda não saiu da fase de luto. Eu me candidatei ao clube de teatro, apenas porque era necessário a realização de atividades extracurriculares. Mas, depois que cheguei lá, vi que o Rodrigo, filho do senhor Sanches também participaria das aulas. Até aí tudo bem, mas ele me chamou para o baile e depois para um café. Estou um pouco intrigada com isso, mas espero saber o que fazer. Sinto sua falta, papai, gostaria de estar levando um sermão sobre sair com garotos e os cuidados.

Eterna saudade,

                                                                                                                                                                      Jade