Capítulo Seis

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Psique

Dias atuais.

     Música tocava alto em algum lugar próximo, mas não consegui entender sobre o que era, e sinceramente? Eu não dava a mínima, apenas queria descobrir uma forma de fazer as paredes não girarem a minha volta e... Espera aí, onde eu estava mesmo? Com mais esforço do que seria necessário, consegui me sentar no sofá, um móvel confortável e de tecido escuro, com tamanho suficiente para ser uma cama. Mas isso não era o mais surpreendente, e sim o lugar. Decorado em tons de cinza e preto, devia ser um escritório ou algo do tipo. Com o chão ainda girando sob mim, caminhei até a mesa de madeira escura que ficava no fundo, próximo ao que parecia ser uma parede de vidro — se tudo parasse de se mexer, ao menos.

Como eu fui parar ali?

     Lembrava de ter saído beber com Layla para comemorar o aniversário dela, mas de resto... Era tudo uma confusão em minha mente, como sempre acontecia quando exagerava com o álcool. Desta vez, minhas lembranças não estavam apenas perdidas e confusas, mas também distorcidas, algumas delas tinham pessoas com chifres e olhos exóticos, outros de peles coloridas e brilhantes... Minha cabeça doeu de novo, um lembrete de que não devia beber tanto.

     Apoiei-me na mesa e tentei olhar pela parede de vidro colorido, parecia muito com um vitral de igreja, mas ao invés de algum santo, um homem com asas brancas enormes e com um arco e flecha em mãos flutuava pelos tons de azul, violeta e cinza, no que ele mirava, era impossível dizer, mas ainda era hipnotizante, a linha puxada até próximo a seu rosto, a flecha de ponta dourada já posicionada enquanto ele mantinha suas asas abertas atrás de si, pronto para acertar seu alvo.

Era lindo e... E eu ia vomitar.

     Senti meu estômago se contorcer e em meio a tropeços consegui chegar até a porta, mesmo que no processo tenha batido meu tornozelo em algo que me fez ver estrelas. Xingaria e me encolheria de dor depois, agora precisava encontrar um banheiro ou algo em que pudesse vomitar. Talvez fosse alguma ajuda divina, mas antes que eu conseguisse alcançar a maçaneta, a porta se abriu e quase tive a certeza de ouvir os anjos cantando, não faria uma sujeira onde quer que eu estivesse e... Eu vomitei.

     Curvei-me sobre meu próprio corpo enquanto expulsava tudo que tinha em meu estômago.

     Já era tarde quando percebi os sapatos caros de alguém na minha frente e o exasperar de minha amiga.

Merda.

     — Psique! — Ela veio a meu socorro, afastando os cabelos de meu rosto e me ajudando a ficar em pé de novo. — Eu te disse para não beber tanto...

     Tentei olhar quem era a pessoa que arruinei os sapatos, mas fui arrastada — e sem muito esforço — por Layla, que me levou de volta para o sofá e me pôs sentada lá, as mãos tocando meu rosto enquanto checava se eu estava bem, o que eu com certeza estava. Por fora apenas. Internamente eu urrava e me contorcia pela vergonha que havia acabado de passar. Eu vomitei nos pés de alguém que eu nem mesmo conhecia...

     — Eu estou bem. — Respondi pela centésima vez a mesma pergunta. — Sabe como vim parar aqui?

     — Você desmaiou de bêbada e alguém te trouxe aqui. — Ela suspirou e encarei o chão.

     Estava morrendo de vergonha pelos últimos minutos e ainda mais por não lembrar de praticamente nada. Na verdade, a única lembrança quase nítida — e quando disse quase, é quase mesmo — que tenho é de um homem alto e bonito, muito bonito, mas como as outras de minhas lembranças, devia ter sido corrompida pelo excesso de álcool correndo por minhas veias. Seus olhos eram escuros, mas não como olhos normais, de algum castanho ou verde. Não, seus olhos de perto eram violetas e brilhantes, mas poderia facilmente dizer que eram negros como carvão.

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⏰ Última atualização: May 09, 2020 ⏰

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