Capítulo Três

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Eros

     Onde deixei meus sapatos?

     O restante de minhas roupas eu havia encontrado. Minha camisa estava amassada em cima da penteadeira — Citrino iria reclamar assim que visse... —, a calça jeans tinha sido abandonada próximo a cama, mas onde estavam meus sapatos? Não queria ter que acordar minha companhia da noite passada para perguntar se ela sabia, então tudo que me restava era tentar procurar em silêncio para não acordá-la.

O que não aconteceu, mesmo comigo andando na ponta dos pés.

     — Já vai? Tão cedo... — Ela sentou-se na cama, o lençol sendo deixado cair de propósito de seu busto.

     Ninfas. As vezes tímidas, as vezes provocativas demais.

     — Prometi que não me atrasaria para hoje a noite. — Suspirei enquanto observava seu corpo desnudo. Os cabelos eram loiros e claros, e caiam como um véu sobre seus ombros, um incentivo a olhar em direção aos seios fartos. A pele de seu pescoço e braços era de um tom verde vivo, como o da copa das árvores na primavera, o que destacava ainda mais os pontos minúsculos dourados em sua pele, como se glitter houvesse sido jogado ali, o que eu sabia não ter acontecido, era apenas uma ninfa do bosque em seu esplendor da manhã.

     Era realmente uma pena ter que ir, justo agora que estava voltando a apreciar o sexo.

     Era um grande atraso a ser compensado.

     — Sabe muito bem, Eudora, que se eu ficar, não vamos conseguir parar tão cedo. — Um sorriso travesso apareceu em seu rosto, curvando os lábios cheios.

     — Não é esse o objetivo? — Ela disse vindo até mim e passando os braços por meu pescoço. O aroma de floresta de pinheiros encheu meus pulmões.

     — Talvez uma próxima. Já dei minha palavra a Harmonia.

Ela suspirou, os lábios deslizando por minha pele. Céus, ela era insistente.

     — O cupido é um deus de palavra. Que pena. — Ela afastou-se e foi em direção a cama. — Mas não quer dizer que eu não possa ir te ver, não é?

     — Sim, você pode. — Disse voltando a procurar meus sapatos. Percebi quando ela sorriu. — O que foi?

     — Você os chutou para debaixo da minha espreguiçadeira, amor.

     Fiquei rígido no mesmo segundo. Ser chamado assim me fazia lembrar dela. Era estúpido e tolo, mas não podia evitar não lembrar.

     — Tudo bem? — Seus cabelos oscilaram com o movimento quando ela inclinou a cabeça para o lado, os olhos verdes confusos.

     — Sim. — Caminhei até onde ela disse que meus sapatos estariam, os peguei e coloquei-os. Maldição. — Só... Não me chame mais disso, okay?

     — Do quê? Amor? — Ela cruzou os braços. — Costumava sempre chamar você assim antes de...

     — Sim. Costumava. — Disse ficando em pé. — Por favor, Eudora.

     Ela piscou os olhos algumas vezes, parecia tentar decidir se insistiria nisso ou apenas deixaria de lado e aceitaria meu pedido. Felizmente, ela optou pela segunda alternativa. Ela acenou em concordância, mas notei seu desviar de olhos, isso a incomodava. Bem, não era como se eu estivesse exatamente me sentindo em um mar de rosas neste exato momento, mas não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso, ao menos por enquanto. Então mudei de assunto.

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