A música

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  Xichen acordou ouvindo uma canção suave, havia vozes em uma língua desconhecida, mas ele entendia o que diziam ainda que não falassem a mesma língua. Com cuidado saiu da cama para não acordar A-Cheng que dormia profundamente e deixou seus instintos e curiosidade vencerem, o levando em direção a música.

O som era doce e ainda intenso, era algo que não conseguia descrever, era harmonioso de uma forma única. Sorriu, porque aquilo de alguma forma lhe fazia pensar em Jiang Cheng, doce internamente, intenso externamente.

Desde aqueles três dias que eles ficaram presos no quarto subterrâneo, muita coisa havia mudado. Era como se uma peça de difícil encaixe tinha sido colocada em um seu lugar de direito para ficar lá pela eternidade. Tinha acordado desorientado na ocasião e seu consorte tinha lhe explicado ainda que de forma rápida o que havia acontecido, o que fez Xichen ficar ainda mais impressionado com a coragem daquele homem e claro, o fez amá-lo de verdade, tudo mudou e não era só dele para Jiang Cheng, mas dele para si.

Não tinham unido seus corpos desde então, mas outras coisas estavam atadas, eles se tocavam mais, Xichen podia sentir seus bebês crescerem na barriga do consorte agora com liberdade e eles faziam planos juntos, como família.

Sorriu ao relembrar desses fatos enquanto finalmente saia do palácio e seguia para a colina adiante junto com o nascer lento do sol. O som no mar era pacífico, bem diferente do que enfrentou dias sem fim vindo para aquela terra. Águias gigantes cruzavam o céu, mas ele já se acostumara a elas, bem como com a paisagem diferente e perfumes diferentes.

Por fim chegou em um bosque que não dava para ser visto do palácio e entrou nele sentindo seus pés, que só agora percebeu descalços, tocarem a relva úmida.

"O vento da primavera sopra as águas, minha flor, minha flor. O vento da primavera sopra as águas, minha flor, minha flor..."

As vozes continuavam cantando e agora o som era mais próximo, alto.

Ele caminhou mais rápido e logo desembocou em uma clareira com uma espécie de altar no centro dela. O altar era de pedra, longo e achatado e sobre ele, reluzindo fulgurante, uma Xiao em metal prateado repousava sobre uma cama de penas negras. As cores se chocavam e a luz do dia que agora brilhava ali, fazia tudo parecer pertencer a outro mundo.

Duas presenças saíram do outro lado da clareira e ele viu a Imperatriz junto de um homem com imensas asas negras e cabelos que cobriam seus pés.

Ele estava ali a tempo suficiente para saber sobre os Cisnes Negros, um pequeno clã de criaturas poderosas e esquivas cujo líder visitava a Imperatriz com certa regularidade. Eles eram forjadores em sua grande parte e o que diziam era que o que era forjado por eles, nenhuma arma humana poderia destruir, apenas o fogo da própria forja dentro de um imenso vulcão ativo ao sul.

— Cervo alfa, finalmente ela o chamou - O homem se curvou levemente a ele e foi para o altar, o circulando de forma metódica – Esta Xiao é mais do que um instrumento, ela tem certa alma dentro dela e lhe servirá até que sua morte chegue e você a dê de presente. É assim que elas são.

— Ela está cantando, Xichen?

A voz da Imperatriz soava curiosa e ele a olhou surpreso.

"Todo pássaro procura um parceiro, minha flor, minha flor..."

— É... A flauta?

A mulher que liderava todo aquele vasto império sorriu e veio até ele lhe dando um soquinho no ombro.

— Impressionante, não? Uma Xiao digna para um Cervo alfa digno. Não me desaponte quando voltar. Agora vá, ela cantou para o dono e só o dono a ouve – Ela abaixou o tom de voz – Se a flauta canta o dono ouve, se o dono canta, a flauta ouve. Ambos unidos são a própria música divina.

WangxianOnde histórias criam vida. Descubra agora