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Francisco trajava umas calças bege e uma camisa azul escura e, à semelhança de Ânia, trazia consigo uma garrafa de vinho tinto. Assim que abandonou o enlace do melhor amigo e viu a morena de cabelos curtos, o futebolista sorriu-lhe, vendo o gesto ser-lhe retribuído com um aceno curto e um discreto levantar do copo na sua direção.

A jornalista estava, aos seus olhos, linda e a forma como o seu olhar se demorou na figura dela, enquanto, juntamente com Yuri, se dirigia à sala, não passou despercebida a ninguém. Somente à própria, que deu por si a usufruir de um momento para observar também o jogador e a forma como a camisa escura assentava na sua pele bronzeada. Geraldes cumprimentou Rita com um beijo no rosto e repetiu o gesto em Ânia, demorando-se um pouco mais.

Feitas as saudações, os quatro reuniram-se à volta da mesa do casal Ribeiro, começando então a partilhar o prato que a mulher de Yuri lhes tinha preparado. Durante a refeição, a conversa fluía naturalmente entre o grupo, que, a par dos copos de vinho, partilhava histórias e gargalhadas. Os rapazes contaram-lhes acerca do tempo em que viveram juntos, enquanto jogavam ao serviço do Rio Ave, e das inúmeras aventuras nas quais se meteram. Elas ouviam, atentas, e completavam o serão com histórias da sua infância e adolescência e de todos os problemas que arranjavam.

- Se calhar é melhor eu ir andando... - Ânia disse, levantando-se do pequeno sofá onde estava e tropeçando ligeiramente nos seus próprios pés, rindo e fazendo o restante grupo rir também.

Tinham terminado de jantar já há várias horas e, por sugestão da jornalista, mudaram-se para o quintal da moradia, aproveitando a noite quente e o céu estrelado. A conversa tinha continuado, naturalmente, agradável e os dois estranhos sentiam agora que se conheciam há meses, face aos relatos que tinham partilhado.

- Nem pensar que vais conduzir até casa nesse estado. - Francisco riu, levantando-se também. - Eu levo-te.

Por conta da sua profissão, o futebolista tinha deixado o vinho de lado ainda durante a refeição, ao contrário da morena de cabelos curtos, que, ainda que se preparasse para partir, continuava a segurar o copo na mão, determinada a, pela última vez, acabar com o seu conteúdo.

- Obrigada, Chico. - Rita proferiu, aceitando a oferta antes que Ânia pudesse dizer algo em contrário, e deixando cair a sua cabeça no ombro do marido, que beijou os seus cabelos logo de seguida.

- Então mas... - a jornalista tentou intervir, sendo rapidamente impedida pelo jogador dos verde e brancos.

- Não te preocupes, amanhã vens cá buscar o teu carro. - ele aproximou-se dela, retirando-lhe o copo, já vazio, das mãos e segurando o seu rosto nas dele. - Deixa-me levar-te. Não te vou deixar pegar no volante assim.

Perdida no castanho dos olhos do jogador, a do sexo feminino respondeu apenas com um aceno, vendo a sua concordância ser recompensada com um beijo na testa e um carinho no rosto, cortesia de Geraldes. O mesmo afastou-se depois um pouco dela, para se despedir do casal e permitir que ela fizesse o mesmo. Enquanto Rita ajudava a prima a garantir que nada ficava para trás, Francisco assaltava o frigorífico do casal, tirando de lá uma água gelada para a morena. Yuri forneceu ao melhor amigo a morada de Ânia, permitindo depois que os dois convidados abandonassem o seu lar.

Assim que colocou a rapariga no banco do pendura, o futebolista entregou-lhe a garrafa de água, incentivando-a a beber um pouco. Depois, juntou-se a ela no interior do veículo, abrindo a janela da mesma, de forma a que a brisa de verão que ainda se fazia sentir lhe batesse suavemente no rosto. A viagem foi calma, e rápida, devido à não existência de tráfego àquela hora, e quando estacionaram à porta do seu prédio já a jornalista tinha reconquistado alguma sobriedade.

- Obrigada, Chico. - genuinamente grata, a morena proferiu, oferecendo-lhe um sorriso.

- Ficas bem? - ele confirmou, recebendo de volta um aceno positivo. 

A rapariga, contudo, não saiu logo do veículo, travando uma batalha com os seus pensamentos enquanto o seu olhar se mantinha preso no condutor do automóvel. Fazendo uso do álcool que ainda lhe corria nas veias, Ânia encarou o futebolista, sorrindo-lhe antes de deixar as palavras escapar.

- Queres subir?

devagar || francisco geraldes [pt]Onde histórias criam vida. Descubra agora