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Francisco trancou o carro, já estacionado junto ao passeio marítimo, e entregou as chaves a Ânia, pedindo-lhe que as guardasse na sua bolsa. Ainda a passo, tranquilos, os dois dirigiram-se ao piso avermelhado que abraça a costa de Oeiras, fazendo alguns exercícios de aquecimento enquanto conversavam. Sem aviso, a jornalista aumentou a sua velocidade, começando a correr e deixando para trás o médio dos leões.

- És mesmo batoteira! - ouviu, vendo-se de imediato perseguida por Francisco e pela sua alta gargalhada, que atraía as atenções de quem passava.

Inevitavelmente, o jogador acabou por alcançar a morena, que ainda ria. 

- Estavas distraído. A culpa não é minha, Chico. - tentou justificar-se, ainda rindo.

Lado a lado, os dois correram durante longos minutos, trocando breves palavras ocasionalmente. Pela superior preparação física do rapaz, Ânia foi a primeira a ceder, por volta da marca dos dez quilómetros.

- Desisto, Geraldes. Ganhaste. 

- Então, fraquinha? - ele ripostou, começando a andar ao seu lado.

- O meu trabalho é sentada numa secretária.

- Está visto que tenho de te desafiar mais vezes, então. 

A provocação foi recebida com um sorriso tímido da jornalista, que bebericou um pouco da sua água antes de responder.

- Sempre que quiseres.

Francisco retribuiu-lhe o sorriso, satisfeito com a resposta, e esticou-lhe a mão, que ela prontamente agarrou. Aproveitando as escadas próximas, o futebolista guiou-os até ao areal, para satisfação dela.

Os dois aproximaram-se do mar, sentando-se a poucos passos do sítio onde a areia seca encontrava a areia molhada. Ao seu lado, o rapaz ouviu Ânia respirar fundo, antes de fechar os olhos e deixar cair a cabeça no seu ombro. Surpreendido pelo contacto, levou a sua mão direita ao joelho esquerdo dela, por lá deixando breves carinhos.

- Estás bem?

- Hmhm. - ela concordou. - Adoro isto.

À sua frente, o céu começava a ganhar tonalidades alaranjadas, anunciando o final do dia. Os dois mantiveram-se em silêncio durante alguns instantes, enquanto observavam a rebentação das ondas.

- Chico... - a jornalista chamou, levantando a cabeça do seu ombro. - De 0 a 10, quanto te incomodas com bancos do carro molhados?

Intrigado com a pergunta, mas consciente do que ela poderia significar, o médio riu-se.

- Tenho uma toalha na bagageira.

A resposta foi o suficiente para a morena, que se levantou e descalçou de imediato. Depois, num movimento rápido, tirou também a t-shirt que vestia, ficando apenas com o soutien desportivo e os calções. Antes de correr em direção ao mar, lançou um olhar provocador ao mais velho, que observava atentamente todos os seus passos.

A diferença da temperatura foi evidente assim que a água lhe tocou nos pés. Ainda assim, Ânia não hesitou, continuando a sua leve corrida até perceber que tinha profundidade suficiente para mergulhar numa das ondas que se aproximavam das suas pernas. Debaixo de água, o tempo parecia não passar e conseguia sentir o corpo a livrar-se de todo o cansaço daquele dia. 

A jornalista voltou à superfície a tempo de ver Francisco imergir por entre as ondas, tal como ela própria tinha feito anteriormente. Quando o futebolista voltou à superfície, ao lado dela, os dois riram, incrédulos, de certa forma, com o que tinham acabado de fazer.

Cedendo aos seus impulsos, ele rodeou a cintura dela com os braços, puxando-a para si. Sem resistir ao carinho, a morena deixou que ele os encostasse e retribuiu o gesto, pousando os seus braços levemente ao redor do pescoço dele.

- És mesmo louca... - ele suspirou, ainda rindo. Divertida, ela encarou-o com a sobrancelha levantada antes de lhe responder.

- Com que moral é que estás aqui comigo a dizer-me isso? - retorquiu. 

- Touché.

- Sabes, Chico... - continuou, enrolando os fios de cabelo molhados da nuca dele entre os seus dedos. - Tenho pensado muito naquilo que me disseste, lá em casa...

Surpreendido, ele apertou ao de leve a cintura da jornalista. Testando-a, e ao significado por trás das suas palavras, aproximou o rosto do dela, permitindo o toque dos seus narizes.

- Ai é? - a resposta dela veio na forma de um aceno silencioso e a forma como não o afastou incentivou-o a continuar. - E o que é que tens pensado?

- Que posso ter desperdiçado uma oportunidade.

Francisco sorriu-lhe e, não querendo esperar mais, quebrou a distância entre eles. O toque dos seus lábios era suave e calmo, contrastando com a urgência com que ele agora agarrava o seu corpo ou com que ela puxava levemente os seus cabelos. Pareciam procurar sempre ficar mais perto, apesar de estarem já encostados. 

- Acho que foi a tempo. - disse o futebolista quando separou os seus lábios dos dela. De seguida, puxou-a para um abraço, pontuando as suas palavras com um beijo no topo dos seus cabelos.


oooopsie, passou-me o sábado

devagar || francisco geraldes [pt]Onde histórias criam vida. Descubra agora