Capítulo V

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KLAUS

No dia seguinte, Conde Philip desfez o compromisso com Aurora e após o casamento da Condessa viajou para França com o rapaz que tanto o agradava no clube. O primeiro passo para meu noivado tinha sido dado e seria eternamente grato a Philip pela sensibilidade de acatar meu pedido sem prejudicar a imagem de Aurora perante a alta sociedade inglesa, já que ele justificou que precisava resolver questões pessoais fora do país e não poderia continuar com o compromisso naquele momento.

Nos dias que passei em Londres, todas as manhãs observava Aurora indo para o colégio, meu coração acelerava toda vez que a via e imaginava como seria tocar aquela pele alva e delicada. Ela tinha o rosto da tenra idade e os longos cabelos loiros escuro e longos brilhavam na luz do sol, neles ela sempre usava um chapéu azul marinho combinando com o uniforme do colégio, que era da mesma cor.

Na minha última manhã em Londres, quando observava Aurora sair de casa, Anna surpreendeu a filha na calçada, o breve encontro foi desagradável, ela falou algo que fez a expressão altiva e elegante de Aurora virar uma carranca. Petulante, minha futura esposa virou as costas para a mãe e saiu caminhando em passos raivosos. Essa nova faceta de Aurora me encantou.

Retornei para Alemanha e no mesmo dia de minha chegada conversei com meu pai. Falei da minha intenção de pedir a mão de Aurora em casamento, ele ficou surpreso com minha determinação e conversamos sobre os pontos que ele precisava acertar com o Lorde Russell quando fosse a Londres, o que aconteceria em breve, já que meu pai tinha negócios para resolver na cidade. Pensei em pedir Aurora em casamento quando estava no Reino Unido, mas refleti que o mais adequado seria meu pai fazer o acordo daria mais credibilidade ao pedido.

Meu pai não concordou com a minha proposta de recusar o dote e pagar as dívidas da família de Aurora, ele ficou indignado e repetiu diversas vezes que parecia que eu estava comprando minha futura esposa como se ela fosse uma mercadoria e se fosse para eu fazer essa proposta inadequada era melhor esquecer Aurora. A melhor opção era escolher uma esposa alemã e caso eu quisesse casar com uma inglesa ele pessoalmente iria avaliar as candidatas no período que passasse no Reino Unido.

Foi uma longa conversa, na qual ele demonstrou preocupação e que achava melhor um casamento com uma moça que a família não tivesse os problemas financeiros irremediáveis como dos Russell. Rebati incansavelmente essa proposta de meu pai, afirmei que me casaria com ela e para isso faria qualquer acordo e se ele não concordasse me afastaria dos negócios da família, assim não precisaria da aprovação dele em relação a esse assunto.

Ele queria se aposentar em uma idade que pudesse aproveitar a vida e a jovem esposa. Deixar o comando das empresas da família comigo era seu objetivo desde o meu nascimento. Sendo o único filho homem, fui preparou desde a infância para assumir seu lugar e ele não abriria mão disso por um motivo banal como o meu casamento com uma jovem inglesa falida. Apesar de não concordar com minha proposta de gastar parte da herança materna para comprar uma esposa, ele aceitou o inevitável.

Tinha outro motivo para meu pai querer me casar rapidamente, meu relacionamento com Serena. Durante meses, tive um intenso envolvimento com minha madrasta dentro da casa dele. Quando cheguei em Berlim para cuidar dos negócios da família descobri que ele tinha se casado com uma meretriz, para minha surpresa era a dama de companhia com quem tive um longo relacionamento no passado. Serena tinha sido minha favorita por mais de um ano quando trabalhava no clube de Verônica.

Eu tinha um desejo incontrolável por ela, o qual voltou instantaneamente quando a vi com meu pai, eu queria aquela mulher de qualquer jeito e na segunda semana morando na mesma casa iniciamos um quente e perigoso caso. Meu pai não demorou para descobrir meu envolvimento com Serena e implorou para deixá-la. Quando o assunto era sua jovem esposa, ele virava um menino temperamental que não sabia o que fazer, meu pai realmente a amava. Prometi que me afastaria, mas menti e continuamos nos encontrando escondido. Ele não conseguia nos afastar e meu casamento era a última esperança dele de conseguir ter a esposa apenas para ele. Esse relacionamento inadequado acabou no dia que recebi a carta de Conde Philip contando suas intenções de casar com Aurora.

Na semana seguinte, meu pai foi para Londres resolver questões de negócio e conversar pessoalmente com Lorde Russell e Lorde Antony, que aceitaram a proposta de casamento, bem como a ajuda financeira para pagar as dívidas da família. Meu pai enviou uma carta me comunicando as boas novas e que eu deveria ir para Inglaterra na data marcada para firmamos o noivado pessoalmente. Além disso, ele permaneceria na cidade com sua jovem esposa até minha chegada, assim ele manteria ela longe de mim - essa parte conclui sozinho.

*

Enviei a primeira carta para Aurora quando obtive a resposta positiva de meu pai sobre o acordo, apresentei-me e pedi para ela falar sobre o que ela apreciava. Aurora me respondeu gentilmente descrevendo sua rotina em uma carta longa e monótona de duas folhas, a qual quase dormi enquanto lia, em nada parecia a jovem impetuoso e determinada que Antony descrevia com tanto desprezo, porém vi uma terceira folha, mas grossa que as duas primeiras, essa estava dobrada e no verso escrito "Com amor para Klaus Lennox, abra-me". O papel estava lacrado com um selo que tinha as iniciais dela, parte de uma flor seca da carta. Aurora tinha me enviado uma flor? Achei o gesto muito romântico e desnecessário para um primeiro contato e ignorei.

Fiquei observando as duas folhas com desgosto, por um tempo me questionando se tinha me enganado sobre Aurora. Olhei novamente o papel com a flor e o peguei, quando abri tive uma agradável surpresa. Tinha uma mensagem escrita com uma letra diferente e nela havia as verdadeiras palavras de Aurora.

"Caro Klaus Lennox.

Desconsidere tudo que foi escrito nas folhas anteriores foi minha mãe que escreveu, ela estava preocupada que eu não me descrevesse de modo adequado e você desistisse do casamento. Devo dizer que sou o oposto de tudo que ela escreveu. Serei breve nessa primeira carta, mas promete lhe contar mais sobre mim nas próximas. Gosto de livros de aventura e romances, mas os meus favoritos são sobre economia e direito, li todos que tem na biblioteca de casa. Tenho interesse por contas e gosto de trabalhar – discretamente – para meu pai, cuidando da parte financeira da empresa. Aprecio música e caminhar no parque, bem como chocolates com sabores sortidos. Amo pintar e essa é minha atividade favorita, mas mamãe não considera uma habilidade fascinante e fala para todos que sou boa em bordado e que tenho dotes femininos impressionante, mas isso é uma pequena mentira que ela conta para as amigas e agora para você. Estou sendo sincera para não se decepcionar comigo, caso veja que não sou uma mulher adequada, desfaça nosso compromisso antes de darmos o próximo passo.

Obs: Mamãe sempre escreverá as cartas nas folhas finas e vou enviar a minha em forma de envelope com meu perfume e uma flor. Para mamãe disse que nele tem uma pintura que fiz para mostrar minhas habilidades, realmente estou pintando belas paisagens que mostro para ela, mas troca os envelopes depois que ela aprova as pinturas - mamãe tem os olhos observadores e escuros de um águia. Faça o mesmo, escreva uma carta monótona e sem vida para ela ler e envie uma carta em papel mais grosso igual fiz e coloque uma flor tipica alemã e seu perfume, mamãe vai ignorar uma flor seca envolvida em um envelope.

Com carinho, Aurora Russell"

Senti o cheiro dela impregnado na carta e fechei os olhos soltando um largo sorriso, Aurora era perspicaz e sabia driblar Anna, que era uma mãe autoritária. Audaciosa e inteligente era assim que sempre imaginei que seria minha esposa e Aurora tinha todas as qualidades e os defeitos que eu idealizei em uma mulher, além de uma beleza única e encantadora que lembrava minha mãe.

Respondi prontamente em duas cartas como ela orientou, a primeira quem escreveu foi Louis, meu secretário, recitei para ele palavras que Anna gostaria de ler, a letra dele era pavorosa o que deixaria minha sogra entretida em decifrar as palavras por um bom tempo. Já a segunda carta escrevi com a minha letra, coloquei uma flor do campo típica de Berlim e borrifei perfume, dobrei delicadamente e selei com o selo com as iniciais do meu nome deixando as pétalas da flor amostra, as quais iriam secar até chegarem em Londres. Escrevi no verso "com amor para minha Aurora, um pedaço da Alemanha".

Foi assim que nos conhecemos profundamente nas poucas cartas que trocamos, o suficiente para ter certeza que minha percepção de querer casar com Aurora desde os meus 17 anos era correta e o destino me levou até ela. Lia as cartas de Aurora todos os dias, sentia em cada página a essência dela, nunca tinha sentido algo tão forte por nenhuma mulher como sentia por ela.

Apesar das minhas manobras nada ortodoxas para pedir a mão de Aurora em casamento, fazê-lo foi o primeiro ato de amor que tive na minha vida, não imaginava que quisesse tanto algo até receber aquela carta do Conde Philip. 

Aurora Russell Lennox - Um amor além do tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora