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O que você faria num momento de loucura?
Um momento de completa loucura, um lapso de consciência profundo que faz com que toda a lógica ao seu redor se torne água turva, um momento onde nada mais importa senão aquele instante. Eu penso, repentinamente, encostado a minha janela de frente para o doce sol matinal que emite seus raios como carícias.
Eu me pergunto se um dia virá para mim, eu fecho os olhos e tento imaginar como seria meu "momento de loucura", penso no que eu faria se ele fosse exatamente agora.
Talvez eu pularia essa janela e correria tão rápido até meus pulmões doerem, ou eu poderia fugir do primeiro dia de aula e ir dar uma passeada pela cidade, talvez até ir numa lanchonete e comer algumas porcarias as sete da manhã. Eu sinto vontade de rir. Meu momento de loucura aos olhos de outras pessoas poderia ser considerado algo extremamente comum.
Bem, para os outros, mas não para mim.
Creio que meu momento de loucura nunca virá a superfície, não enquanto essas amarras negras e fortes estiverem em volta de mim, reprimindo cada passo que dou e me impedindo de viver a liberdade que me foi dada desde de que me dei conta de que sou um ser humano. Elas me puxam com veemência e eu sinto que estou afundando mais e mais.
— Jeongguk?! Você vai se atrasar, querido! - mamãe chama-me no andar de baixo e eu deixo meu momento de loucura para trás.
Dou uma resposta automática a minha mãe enquanto recolho sem energia meu material escolar e deixo meus pensamentos correrem para fora da minha cabeça. Eu já estava acordado há um tempo, minha noite não fora exatamente excepcional, não com aquela péssima ansiedade para a volta às aulas rastejando na minha pele. Eu não gosto daquele lugar e não quero ir para lá, então, quando vi que era impossível voltar a dormir eu me sentei em minha janela e assisti o sol tomar seu ponto aos poucos. Não vi as horas passando: minha mente está sempre lotada, então o tempo se foi com rapidez.
Descendo as escadas, eu me viro para o relógio circular grudado à parede. Meu corpo empertiga. Estou muito atrasado!
Meu corpo, que há alguns minutos estava preguiçoso e sem ânimo, desperta e eu corro as escadas fazendo o meu máximo para não tropeçar em meus próprios pés. Eu alcanço a porta, quando estou prestes a abri-la minha mãe me chama:
— Jeongguk! Não vai comer nada? – ela pergunta preocupada, enquanto enxuga as mãos molhadas num pano de prato.
— Não dá tempo! Eu como na escola! – eu exclamo. Imagens onde eu chego no meio da aula e sinto todos os olhares me observando até chegar em minha carteira me dominam, o pânico antecipado faz meu estômago tremelicar.
— Jeongguk.... – mamãe diz baixo, receosa.
— Mãe, eu vou, eu prometo... – eu me viro de volta para a porta, mas ela mais uma vez me chama.
— Jeongguk! Não está se esquecendo de nada?
Eu suspiro. Relutante, me viro e me curvo na direção de minha progenitora, que coloca suas doces mãos em minha cabeça e sussurra algumas palavras baixas. A benção de todas as manhãs não pode ser ignorada, somos uma família religiosa e temos tradições rigorosas a seguir.
— Que Deus abençoe seu dia, meu filho. – ela diz doce e eu volto meu corpo para a posição normal.
— Amém. – respondi, como todos os dias, antes de dormir, antes de comer, quando acordo e antes de sair de casa.
E como todos os dias, volto a me sentir esquisito sobre aquilo. Não há espaço para questionamento dentro de casa, não posso perguntar ao meu pai por que me sinto estranho, se não meu pai me chamará de pecador, e meu pai não gosta de pecadores. Não posso perguntar a minha mãe, talvez ela comece a chorar achando que estou desistindo de Deus, quando na verdade só estou confuso.
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Nenhum Lugar No Mundo {jjk + pjm}
RomanceOnde um garoto de cabelos laranjas e bonitas tatuagens faz Jeongguk descobrir segredos que ele não sabia que escondia. "Com ele, aprendi sobre mim, aprendi sobre amor e aprendi a amar. Com ele, também aprendi a sentir dor, e nessa matéria, infelizm...