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— Vocês estão prestando atenção, turma? – meu professor de biologia entoa retoricamente para a classe.
— Sim. – eu respondo junto a sala com a voz baixa e automática, girando em meus dedos meu lápis e com o olhar preso na janela ao meu lado, mas não focando em nada que está por trás dela realmente.
Eu não estava prestando atenção. Às vezes, durante as aulas, eu passo a perpetuar a minha mente por lugares inabitáveis, que nunca foram descobertos, é uma viagem que faço que transporta meu corpo sem que eu saia do lugar. Na maioria das vezes, os pensamentos não possuem foco. Se partissem meu cérebro ao meio, toda aquela quantidade enorme de pensamentos seria apenas um grande branco. As vezes tenho a sensação que o mundo a minha volta passa a girar da minha maneira, em câmera lenta e desfocada.
Hoje, por incrível que pareça, meus pensamentos tinham um centro e eu não entendia a razão. A bolinha azul no refeitório, o novato repetente, Park Jimin. Sua expressão viaja em minha mente, ele estava completamente sério e parecia ciente que todos o encaravam. Me pergunto se ele desfrutou de ser a atenção central ou se sentiu ofuscado por ela, e aquelas tatuagens? Ele está no ensino médio, como conseguiu fazê-las? Por que ele repetiu de ano? Por que seu cabelo é laranja?
Eu nunca me senti tão intrigado antes, tão curioso... Afinal, quem é Park Jimin?
— Chamando Jeon Jeongguk de volta para a terra, chamando... – Taehyung estala os dedos na frente de meu rosto e eu volto para a superfície, tentando recuperar a consciência do meu redor. — Eu realmente nunca vou me acostumar com seus apagões.
— Você sabe que eu não gosto de biologia. – explico, coçando meus olhos.
— É, eu sei, nem eu, mas não sou inteligente como você então preciso prestar atenção na aula. – ele diz e eu reviro meus olhos. — É o segundo intervalo, você não vai caminhar?
Eu sorrio ao ver o quão bem Taehyung me conhece. Na nossa escola, temos dois intervalos entre o terceiro e quarto horário, uma para o lanche e outro para beber água ou ir no banheiro, enfim, eu gosto muito de caminhar até o bebedouro do terceiro bloco, ele é um pouco distante das salas e para mim é quase terapêutico andar até lá. É como se eu juntasse ânimo dentro de mim para aguentar as poucas horas que faltam para acabar mais um dia na escola. Eu gosto de fazê-la sozinho, assim posso organizar bem a confusão dentro de minha cabeça.
— Bem lembrado. – eu digo me levantando. — Até mais, Van Gogh. – provoco-o.
— Até mais, astronauta.
No momento que me despeço, me preparo para a pior parte de minha caminhada terapêutica: os corredores abarrotados de adolescentes. Costuma ser uma experiência de poucos segundos mas continua sendo extremamente tortuosa, eu sempre prendo a respiração pois pessoas me deixam um pouco... Nervoso? Não sei explicar... Mas... Eu tenho essa sensação, como se eu escondesse algo, entende?
Quando eu encaro os olhos das outras pessoas, eu sinto o desdém, os julgamentos, sinto que elas sabem de um grande segredo meu que eu nem sei se realmente existe. Eu me sinto nu diante de seus olhares, então sempre os evito. Lugares com muitas pessoas me assustam.
Atravesso aquela multidão em poucos tempo e quando estou livre dela, me permito soltar o ar preso em meus pulmões. Colocando minhas mãos no bolso do casaco, eu começo a caminhar fazendo o máximo para bater para longe de minha mente a figura de cabelos laranjas, que está começando a realmente me deixar inquieto. Contudo, mesmo com meus esforços, assim que viro a lacuna onde se localiza o bebedouro, cruzo exatamente com aquele que tenho tentado expulsar de meus pensamentos.
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Nenhum Lugar No Mundo {jjk + pjm}
RomanceOnde um garoto de cabelos laranjas e bonitas tatuagens faz Jeongguk descobrir segredos que ele não sabia que escondia. "Com ele, aprendi sobre mim, aprendi sobre amor e aprendi a amar. Com ele, também aprendi a sentir dor, e nessa matéria, infelizm...