[quattuor]: olhos de ressaca

81 6 4
                                    

"Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca."

— Machado De Assis.

🍊

Jimin tornou meu final de semana exponencialmente mais suportável. Mesmo que o ar em minha cada esteja pesado, bastava minha mente navegar para nossas conversas que o meu redor se esvaia como poeira. Ainda que eu tenha mentido para minha mãe, a culpa foi incapaz de me dominar e o arrependimento está a milhas de distância. Penso em quão diferente seria se eu não tivesse o encontrado quando fugi da igreja, talvez aquelas sentimentos sufocantes iriam me perturbar até eu não aguentar mais.

O muro que se estendia entre nós está agora em pedaços e eu não posso deixar de me sentir feliz com isso. Jimin agora anda ao meu lado, na volta e ida para a escola e não mais a alguns metros de distância. Me pego sempre apressado para sair de casa e evitar atrasos, o que é incomum já que a escola normalmente não me anima. Eu não quero que ele espere muito, talvez ele se canse e vá sem mim. Não posso deixar isso acontecer. Eu não quero mais caminhar sozinho.

Hoje é quinta-feira. Um sorriso se desenha em meus lábios quando percebo. Aula de filosofia e caminhada com Jimin. Perfeito! Eu pulo da cama e me arrumo rapidamente, o sono vai embora em segundos. Hoje nada pode dar errado. Meus pais provavelmente devem ter notado o brilho animado serpenteando pelos meus olhos apesar da minha quietude, eles me olhavam com curiosidade mas não se empenhavam em perguntar o motivo. De qualquer forma, eu não diria. Se tornava muito melhor tendo aquilo apenas do meu conhecimento, dentro da minha mente, evitar que eu externe minhas animações evita também que elas dêem errado. Elas ficarão apenas comigo, assim, nada irá arruiná-las.

Me despeço de meus pais rotineiramente. O sorriso formiga em meus lábios e sou incapaz de segurá-lo quando atravesso a porta e vejo, a alguns passos de distância, meu vizinho e companhia para a escola: Park Jimin.

A manhã hoje está um pouco quente, ainda que sejam apenas sete horas. O sol se ergue doce e pouco a pouco desabrocha, seus raios desencadeiam uma carícia preguiçosa e Jimin aproveitou completamente a chance de uma manhã radiante para ser ainda mais arrebatador. Sua inseparável jaqueta de borboletas está amarrada em sua cintura, eu arranho minha garganta quando subo meu olhar e vejo seus braços a mostra. Veja bem, não são apenas braços, são músculos evidentes sendo apertados pela manga do uniforme, aquilo chama muita atenção.

O sol também parece se encantar por Jimin. Sua luz faz questão de realçar cada pequeno pedaço atraente dele: Seus cabelos alaranjados, sua pele brilhante e suas tatuagens enigmáticas...

Sinto algo latejar em meu estômago e subir em direção ao meu peito. Ignoro.

Espero que não seja uma gastrite nervosa.

Eu balanço a cabeça quando o vejo se movimentar em minha direção, procuro fazer o mesmo antes de parecer um pateta ou algo do gênero.

A rua a esse horário não costuma ser movimentada então eu e Jimin tomamos liberdade para ocupar o meio dela, um de frente para o outro. Ele está sorrindo quando me pergunta:

— Seu lado ou o meu?

— Da última vez foi o seu... – eu comentei levantando um pouco as sobrancelhas. Nossas casas são uma de cada lado, ou seja, há duas calçadas em frente de cada. Eu e Jimin sempre intercalamos os lados que queremos ir a escola. Meu peito se enche de uma alegria esquisita. O que antes era um em cada lado, agora somos nós dois passeando por ambas, marcando-as com nossos passos e conversas inusitadas.

Nenhum Lugar No Mundo {jjk + pjm}Onde histórias criam vida. Descubra agora