[septem]: felicidade de Nietzsche

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Durante a tarde de sábado, meu castigo finalmente acaba. O fim de semana passou-se rápido, as coisas em minha casa têm voltado ao eixo lentamente. É como se eu e meus pais ignorássemos de propósito tudo que aconteceu nos últimos dias. É realmente estranho, mas eu não tenho para onde correr, não posso simplesmente parar de falar com meu pai.

Entretanto, surpreendentemente, não tem sido tão difícil porque estou... Feliz? Não sei explicar, eu apenas tenho estado mais aéreo que o normal, rindo para as paredes, tenho certeza que se eu fosse traduzir em ações tudo que penso eu estaria saltitando pela minha casa. Eu deveria estar desconfortável com a minha situação familiar, mas tenho estado fora do plano terrestre na maior parte do tempo, repassando de novo e de novo a tarde de sexta-feira com Jimin. Eu admiro as forças dos meus pensamentos de me fazer reviver momentos como aquele de forma tão ávida, quase sinto como se tivesse voltado no tempo.

Eu sinto os braços dele em volta de mim de novo, sinto seu cheiro de sabonete caseiro, o calor e conforto de sua presença e meu coração chutando meu peito. Fugir do meu castigo nunca foi um ato que eu tivesse coragem de me arriscar, eu sempre imaginei, desejei, mas nunca me atrevia a tentar. Afinal, para onde eu iria? O que eu iria fazer? Como eu ia voltar?

Mas, Jimin apareceu. Ele amarrou uma corda em torno do meu pulso e me puxou para fora de minha gaiola. Em todos os sentidos possíveis. Acho que é por isso que tenho estado tão feliz.

Ser constantemente preso em meu quarto desde pequeno como uma forma de castigo para me disciplinar é apenas uma parte ínfima do que vivo. Andar em extrema linha reta para evitar ser castigado me afetou de formas inimagináveis, porque eu não vivo por mim, eu vivo pelos meus pais e para ser o que eles querem que eu seja. Eu nego o que me caracteriza, afogo minha verdadeira personalidade e meus próprios desejos, me privo e sou privado de viver como um adolescente deveria viver. Eu deveria estar sujeito ao erro e deveria estar aprendendo com eles, não apenas ser perfeito todo o tempo. Se eu não passar por aquilo que devo passar como pessoa, que tipo de adulto serei no futuro?

Eu interpreto um personagem que cada dia se torna melhor e melhor e eu estou cansado. A pele falsa que carrego está me consumindo e eu não sei mais se sou capaz de sustentar esse papel.

Eu me recordo de um dos livros que peguei escondido na pequena biblioteca da casa de Tio Joo. Era sobre um filósofo chamado Friedrich Nietzsche e o que eu li naquelas linhas está preso dentro da minha cabeça até hoje.

"Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo."

Pra mim, cada pequeno pedaço de tudo que fiz quando fugi de meu castigo é precioso. É como se tivessem me ligado a uma tomada, eu senti o brilho destemido agarrar meu coração e senti que estava realmente respirando. Eu olho o tempo inteiro para a casa em frente à minha e uma vontade arrebatadora de pular aquelas janelas e correr para o abraço quente de Jimin me sufoca.

Jimin...

Nietzsche dizia que os únicos que entendem a felicidade são as borboletas e as bolhas de sabão, pois é tudo aquilo que vive livre, que não controla desejos ou instintos. Ele acreditava que viver sem preocupações e pacificamente é algo medíocre. Para ele, felicidade é não ter medo, é vulcão, energia, coragem, ímpeto...

Acho que eu fosse desenhar a felicidade de Nietzsche, eu desenharia Jimin. Desenharia sua força vital, sua vontade, sua alma elétrica que pulsa viva.

Jimin é como pequenas borboletas e bolhas de sabão passeando por aí...

E ele me encontrou.

{...}

Nenhum Lugar No Mundo {jjk + pjm}Onde histórias criam vida. Descubra agora