3º Capitulo.

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Bianca narrando.


Acordo e já vejo as mina fazendo fila pra tomar a ducha...
aguá gelada e um frio do caralho entrando pelas grades da cela, o dia ainda não tinha amanhecido, olho no relógio pequeno na parede e ainda são 5:30 da manhã, mas temos que limpar tudo.

fico imaginando essas horas o que eu estaria fazendo se estivesse na rua, quando a liberdade cantar eu necessito de um baile e uma viagem com a família.

dia de visita é só alegria, é como se a gente passa-se um dia na rua só com a imaginação...

dia de visita é dia sagrado.

sábado com um sol lindo querendo nascer, limpamos o pátio e as celas com água fervendo e sabão em pó, cândida não entra aqui nem fodendo.

Arrumo o lugar que vou ficar com a minha mãe, escuto o primeiro sinal e vejo as visitas começando entrar no raio.

Demorou algumas horas e avisto minha mãe, sorrio.. ela já começa a chorar quando me vê de longe, é sempre assim..
Me aproximo, receosa pelo motivo do choro essa vez.

Bianca: Mãe..-Falo abraçando ela. -Mas já vai começar a chorar? -pergunto, limpando suas lágrimas e segurando o choro também.

Ela balança a cabeça e eu ajudo a mesma com as sacolas de comida, sentamos um pouco distante das outras visitas, na sombra, o sol já estava fervendo nossa cabeça.

Renata: Filha, vc ta tão magrinha, não estão de entregando o jumbo? E esses olhos fundos? Você não anda dormindo bem? -diz com lágrimas nos olhos e continua a falar.. - O Cauê tá rondando muito a nossa casa nos últimos dias, tá aparecendo com muita frequência, tá dizendo que quer conversar contigo de alguma forma, estou evitando vê ele, mas seu irmão está ficando nervoso com a situação, ele não aceita o que o Cauê fez e ainda mais vê ele insistindo em falar com você. -Enquanto a mesma fala, eu vou servindo a comida nos meus  pratos plásticos...

comida maravilhosa ela faz.

Hoje era carne de panela, o cheiro da comida dela me lembra de casa..
Que saudade de casa!

Bianca: Não tem como ele falar comigo mãe, faz um ano que quebramos realmente o contato e ele nunca escreveu uma carta, não vai ser agora que ele vai escrever.. não passa o endereço daqui pra ele, nem meu raio, nem minha matrícula, eu não quero receber nada dele.. manda ele ir arrumar o que fazer, a favela não tá tendo a atenção que merece, ele só quer cuidar da minha vida e fingir que se importa. - Falo alterada e ela concorda com a cabeça.

Renata: A advogada me mandou mensagem no WhatsApp, disse que teve um adianto no seu processo. -um brilho nasceu nos meus olhos e nos dela também.
Quase me engasguei com a comida.

Bianca: Será que é a liberdade mãe? será que chegou minha vez? -Digo com uma animação difícil de ver.

Renata: se for amém, minha filha..Tudo no tempo certo de Deus. Esse lugar está te ensinando muitas coisas, nada é em vão.. Mas você tá tão magrinha, seus olhos só me transmite tristeza, eu não fico em paz com você assim.. Eu quero que você prometa que tá se cuidando. -diz acariciando meu cabelo.

Bianca: Eu tô mãe me cuidando mãe, Fica em paz! -Digo mentindo.
Rapidamente lembro do meu pensamento de ontem à noite depois de chorar rios vendo as fotos minha na rua, com uma imensa vontade de desistir de tudo e me matar aqui mesmo.

Minha mãe me conhece como ninguém. Ela é meu espelho, de luz, de vida e de espirito.

Sem ela, eu nada seria.

A visita tá próxima de acabar, eu gargalhava com as novidades que ela contava sobre meu sobrinho, eu nunca conheci pessoalmente, só por foto. Mas parece que eu já vivi anos com ele...

Renata: filha, ora bastante, essa semana se Deus quiser tem resultado do seu processo. A advogada tá tentando pelo menos uma saidinha pro dia das mães. -diz me olhando. - Você tem bom comportamento, recebe visita quase todo fim de semana, tem jumbo sempre... eles vão vê que você não está abandonada, com fé em Deus vai dar certo. -Sinto uma esperança diferente nascer dentro de mim.

Sorrio como resposta e ela me abraça.
Se eu pudesse, nunca sairia desse aperto.

Um abraço de mãe, tira todas as dores da vida!

Recado:
Quanto mais votos e comentários tiver mais capítulos eu solto.

Que caia as grades - Liberdade.Onde histórias criam vida. Descubra agora