Capítulo 3- Ninguém Sabe

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Por Samuel

Acordei com o barulho que vinha de dentro do quarto, e olhei em redor, tentando perceber onde eu estava e como é que eu fui parar aí. Pessoas deitadas numa cama, outras do lado das pessoas que estão deitadas numa cama e aí eu percebi que estava num hospital. Não sabia como e nem porquê que fui parar aí, a única coisa que me lembro é que eu estava na final, essa parte do hospital não estava nos planos.

Por sorte ou infelicidade, os hospitais públicos de cá têm sempre 3 à 4 pacientes, e às vezes mais até. Porquê da sorte? Assim você não se sente sozinho fechado num quarto que poderá ser a tua última morada em vida. A infelicidade? O barulho dos outros pacientes e dos seus familiares.

Enquanto eu observava os meus colegas de quarto, um médico entrou e atrás vinha meus pais.

- Pai, mamã. O quê que eu faço aqui? Eu devia estar na final agora. - disse pra os dois que sentaram ao meu lado.

- Boa tarde Samuel. Sou o doutor André e estou a cuidar de ti.

- Cuidar de mim? O quê que eu tenho? - perguntei totalmente confuso.

- Tu estás com apendicite aguda - e assim que ele disse esse nome o meu coração bateu muito rápido e a minha mãe ao meu lado não conseguiu disfarçar o pequeno choro.

Eu sei que qualquer palavra que vem acompanhada de " aguda " não significa boa coisa. Então eu fiquei preocupado.

- O quê isso? Nunca ouvi falar disso. E como é que eu apanhei?

E aí ele me explicou que doença era aquela, e enquanto ele falava eu pensava em como ninguém sabe como é que vais acordar no dia seguinte, que de repente podes acordar com uma doença que entra a palavra aguda, ninguém sabe como será o dia seguinte. Eu acordei com uma simples dor pensando que era só uma dor de barriga e agora...

- Tu contraiste isso através de uma infeção com a gastrointestinal causada por um vírus.

E na verdade eu estava mais interessado em saber outra coisa.

- Doutor só me diz se isso tem cura.

- Bem, como eu estava a conversar com os seus pais lá fora, ela tem cura. Basta fazer uma operação para retirar o apêndice inflamado, e como nós não temos essa capacidade então... eu sugeri que fosses pra Inglaterra, há um amigo meu lá que pode fazer essa operação.

- Inglaterra?

- Filho não se preocupa, nós vamos começar a fazer de tudo pra conseguir pra ires.

- Pra eu ir? Eu vou sozinho? Nem sai de Luanda se eu já sai pai.

- Nós não vamos conseguir dinheiro pra mais uma pessoa, então terás de ir sozinho.

- Doutor eu sei que não vamos conseguir agora o dinheiro, o que será de mim enquanto espero?

- Nós te daremos algumas medicações que farão a dor retardar. Mas os teus pais precisam ser rápidos pra não se tornar crônica.

Ta aí outra palavra que não soa boa coisa. Estou com tanto medo.

O doutor saiu do quarto e me deixou sozinho com meus pais.

- Não se preocupa filho, já liguei pra algumas pessoas que me farão alguns empréstimos.

- Mas pai é muito dinheiro...

- Samuel o importante é a tua saúde, nós podemos pagar depois esses empréstimos - disse o meu pai.

- Eu vou falar com alguns irmãos na igreja, não podemos deixar que isso se torne crônica - disse a minha mãe.

E depois entrou Alberto e as minhas irmãs no quarto, todos com uma cara de tristeza... ou pena. Isso é algo que eu nunca gostei que sintam por mim.

- Você vai ficar bem mano - disse Alberto - vamos fazer de tudo pra tu fazeres a operação e ficar logo bem.

- Obrigado Alberto. Nem sei como é que eu apanhei isso.

- Andas atoa - disse uma de minhas irmãs que me fez sorrir um pouco, apesar da minha aflição naquele momento.

E poucos minutos depois entravam e saíam pessoas que iam ver como é que eu estou, até mesmo Isabel, minha paixoneta do bairro.

- Como é que estás? Fiquei muito preocupada.

- Estou bem, só com algumas dores ainda. Mas é de leve.

- As tuas irmãs já me disseram sobre a operação.

- Eu vou ficar bem, não se preocupa - tentei me fazer de forte - essas doenças não é pra nós do gueto. - e ela sorriu. E que sorriso.

- Não morre ainda ya? Ainda quero casar contigo- ela disse e eu fiquei do tipo " xe, ficar doente tem as suas vantagens. A baby tá falar até em casamento?"

- Ahaha. Isso quer dizer que és mesmo minha panca?

- Horário de visitas terminou - gritou uma senhora da porta do quarto.
Logo agora que eu estava a lhe entrar na mente. Essa tia também.

- Tchau Samuel, fica bem - ela disse levantando e indo pra fora do quarto.

E lá estava eu, deitado numa cama de hospital que já estava rodeada de muito Compal e yogurte Mimosa.

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Oi pessoal. Desculpem a minha demora em postar capítulos novos, vou fazer os possíveis de ser mais frequente em postar.
Garanto-vos que vocês vão gostar muito dessa história, então fiquem aí que ainda vem muita coisa boa ☺️😘

Não esqueçam dos votos 👇🏽 e até o próximo capítulo.

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