Capítulo 12- O réveillon dos olhos verdes

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Ela estava de pé num canto da discoteca, conversando e sorrindo com outras moças. Ela ainda não tinha reparado que eu estava aí.

- Amor tudo bem? ficaste estranho.

- Não, é que.. essa discoteca é tão grande e bonita.- disse tentanto disfarçar.

- Vamos. Hoje vamos nos divertir muito.

- A quem o dizes.

E eu dentro de mim falei " esse revéillon terá tudo, menos diversão "

Epa eu queria fazer de conta que aquela baby não estava aí e só curtir. Mas não seria fácil, ainda mais quando ela finalmente deu conta da minha presença e aí começou as trocas de olhares. Deu pra ver que ela também se sentiu incomodada com a minha presença. Então, ya, a noite tava a ser estranha.

Encontrei outros angolanos e ficamos aí a bater um papo, a nos divertir, um maluco levou o telefone dele na cabine do DJ só pra porem um Kuduro básico, porque estavam a nos matar de muita música eletrônica, e não era tipo aquelas do Black Coffee ou DJ Caiiro, era muito Marshmello e Coldplay. Já estávamos cansado daquilo.

Noite bazava, chegamos à meia noite, entramos no novo ano e eu e a baby dos olhos verdes continuávamos só na troca de olhares. Estava a ser o revéillon dos olhos verdes.

Até que tocou 2h da manhã e eu estava sentado no bar sozinho a beber umas águas tónicas porque a cerveja daqui não me convenceu e porque eu queria me cuidar pra o teste. Até que eu vi alguém a me saudar:

- Oi- virei de lado e quando vi quem me saudou coração disparou. Ela era mesmo bonita, tipo, ya tá vê né, ya. Mas tava gato, eu já tinha a minha baby. Era só uma atração básica. Acho.

- Oi- respondi já tipo não queria e tipo que a presença dela aí não me afetou.

E eu a pensar que ela ia puxar uma conversa, depois do " oi ", ela não disse mais nada e ficou só sentada apreciando a discoteca. Pelo menos não és atirada pensei.

- Acho que te conheço- se fiz de esquecido.

- Conheces? de onde?- é de se pagar com a mesma moeda? pensei.

- Ok. O que achaste da pizza?- perguntei

- É boa.- ela respondeu.

E então decidi pausar, e não falar mais nada, já havia falado demais. Eu nem devia estar aqui falando com ela. E sentados, ficamos aí sem dizer nada. Até que:

- Tamaraaa- alguém a chamou, eu virei e eu olhei do tipo quê? ela lhe conhece? - vocês 2 se conhecem?- Cláudia perguntou pra nós os dois.

- Não.

- Não.

Respondemos ao mesmo tempo e numa velocidade incrível.

- Ok, então, Tamara ele é o Samuel o meu namorado e Samuel ela é a Tamara, minha colega da universidade.

- Namorado?

- Colega?

E falamos de novo ao mesmo tempo. Assim não vai dar.

- Sim e sim. Porquê a admiração dos dois?

- Achei que não estavas a namorar, nunca comentaste sobre isso- disse a tal Tamara

- É recente. Digamos que, ele caiu do céu - e Cláudia me beijou. Percebi que a moça dos olhos verdes ficou com uma cara tipo ya, acho que ela não esperava aquilo.

- Bom, desejo-vos muitas felicidades. Eu já vou- disse Tamara se levantando pra ir embora.

Tiraram todas as esperanças da miúda.

- Ela é de que nacionalidade? não me pareceu ser nem angolana nem inglesa- perguntei pra Cláudia após a olhos verdes ir embora.

- É cabo-verdiana, mas vive aqui desde que era criança.

- Ahm.- foi a única coisa que eu consegui dizer. Cabo Verde não tem maneira ya.

- Amor também já quero ir. E tu vais comigo, não vou te deixar aqui- falei, aquele boda já havia me aborrecido. Já vi tudo que tinha pra ver.

No mesmo dia

Acordei lá pra as 13h e me dei conta que já havíamos entrado num ano que parecia que vai ser louco pra mim. Tomei um banho, comi uns cereais porque as garotas ainda não haviam acordado. Sentei no sofá e comecei a refletir no que estava a se passar comigo:

1- esqueci bem rápido a miúda do sofrimento

2- a Chelsea não conta, porque nem sequer senti algo por ela. Só o cheiro dela que ya, tá vê né? ya.

3- comecei a namorar a baby que me tirou da rua.

E agora estou a sentir umas coisas pela colega da baby que me tirou da rua. E o pior é que ela já foi traída antes, e por um jogador também.

O quê que se passa comigo meu Deus? será que eu tenho algum problema?

- Tá pensando o quê?- Bruna me assustou e me tirou dos meus pensamentos.

- Nada não.

- Sei. Curtiste da festa?

- Já fui em festas melhores mas ya, foi fixe.

- Não te perguntei se já foste em melhores carai. - ela pegou um copo de leite e sentou ao meu lado- quês mesmo falar de festa comigo cara?- ela disse com aquele sotaque brasileiro.

- Não chefe, claro que não.

- Acho melhor.

Ficamos aí sentados a assistir e a comer até que eu quis tirar uma dúvida:

- Esse ex da Cláudia, que ya, era mais bonito que eu?

- Oh. E essa pergunta? perdeu a autoestima garoto?

- Só uma dúvida mesmo.

- Bem, ele era fortão e bonito, e whatever, mas sempre lhe achei um babaca que olhava sempre em outras mulheres mesmo até a frente da Cláudia. Então, sim ele era mais bonito que tu mas vejamos o lado positivo: tu não és um babaca, e isso é o mais importante.

Reflexão começou a vir: Porque tipo, naquele momento eu estava a ser um babaca por olhar em outra rapariga.

- E sabe uma coisa Samuel- eu a olhei - se tu um dia fizeres a mesma coisa que aquele cara fez, tu serias o maior idiota de todos, porque tipo, a Cláudia te ajudou, me tirou do meu quarto pra tu dormires lá, e só pela forma que ela fala de ti pra mim, ela gosta mesmo muito de ti. E então vamos combinar uma coisa: se tu a fizeres sofrer, nem que for um bocado tu vais se ver comigo, e cá entre nós, tu não és o único que veio da favela.

E eu só pensei: essa dama é muito sinistra.

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